
É Findi - O homem da cobra - Crônica, por Malude Maciel*
19/07/2025 -
Uma cidade como Caruaru teve, ao longo dos anos, muitas figuras folclóricas interessantes, que ainda são lembradas.
O chamado: homem da cobra era uma figura típica, das mais conhecidas nas feiras de Caruaru.
Um personagem que parecia transmitir suas funções de pai pra filho, pois quando se pensava que ele havia morrido, por haver desaparecido, eis que surgia a mesma representação com outra pessoa no papel principal e assim, passando de geração a geração, sem sequer ser descoberto seu nome.
Atuação
O homem da cobra chegava num local da feira carregado de maletas como se fosse viajar. Trazia consigo uma sombrinha de praia e escolhia um ponto adequado para seu show instalando-se sem mais nem menos. Ali, ele começava a falar, com voz pausada e firme, como um professor e começava sua aula para os passantes. Sem esperar que parasse algum espectador, ia abrindo as malas de onde saiam cobras de vários tamanhos e espécies. Nisso, todo mundo ficava curioso e também medroso, mas atento às tremendas narrativas do cidadão, as quais de resumiam em tolices e invenções onde os erros de português eram comuns, porém o orador continuava, com segurança, falando barbaridades em biologia, anatomia, etc.
Segurança é importante
Sua inibição e naturalidade no falar em público, prendiam a atenção até de doutores que ficavam ao redor da multidão que se formava. Ele fazia tudo brincando com as cobras, errando a linguagem, mas achando e fazendo graça, como se fosse um especialista. Senão, vejamos exemplos de suas falas:
"Meus senhores e minhas senhoras, venham ver o tamanho desse inseto. Eu sou curado e vou mostrar que levo mordidas desses insetos e nenhum mal me acontece, fico bonzinho, bonzinho, oi, do mesmo jeitinho".
Nisso, ia colocando as cobras pra picá-lo até ver o sangue escorrer e saía mostrando a todos em sua volta, e provando que estava bem. Ainda procurava algum aventureiro que quisesse submeter-se à mesma prova, oferecendo o braço para ser picado pelas cobras horrorosas.
Dificilmente aparecia pretendente e o artista passava à segunda parte do espetáculo onde ele oferecia pulseira de corda benta e umas pedrinhas, que segundo ele, qualquer pessoa que tivesse fé ficaria como ele e jamais aconteceria alguma doença em sua vida.
O comércio
De quando em vez, alguém lhe comprava as correias milagrosas e ele fazia questão de amarrar ao braço do cliente, complementando a cerimônia com oração que era pronunciada em voz baixa, numa atitude de respeito.
Charlatão
Dessa maneira o homem da cobra ia sobrevivendo; e pra fechar com chave de ouro, ele levantava as cobras, grandes e pequenas, naquela euforia, para assustar e produzir diversas reações: gritos, risadas e carreiras do pessoal ali presente.
Observadora
Era assim, eu via da minha loja, na rua Tobias Barreto, também chamada de : Cafundó, em Caruaru, antes da feira ser transferida para o pátio Dezoito de maio.
Esses tipos folclóricos eram muitos e variados, cada qual com seu estilo de chamar atenção e ganhar algum tutu.
Muito interessante. Com certeza, outras pessoas irão lembrar do chamado: homen da cobra.
*Malude Maciel, Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras, ACACCIL, cadeira 15 pertencente à professora Sinhazinha.
