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O Dia em que o Recife Acendeu o Futuro, por Zé da Flauta*

12/11/2025 -

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O Recife sempre teve um caso de amor com a luz. E foi num tempo em que o resto do Brasil ainda tateava entre lampiões e trevas que a cidade resolveu virar estrela. O ano era 1883, e lá no bairro de Dois Irmãos, entre o mato e o milagre, acendeu-se a primeira usina elétrica pública do país. Os recifenses, desconfiados, foram assistir como quem vai ver uma aparição.

Os postes

Quando os postes se iluminaram, metade do povo aplaudiu e a outra metade se benzeu. Uns juraram ver Deus, outros acharam que era feitiço inglês. Mas o fato é que, naquela noite, o Recife clareou antes do Rio, antes de São Paulo, e dizem, antes até de Paris em certas esquinas.

Milagre

A notícia correu o mundo como faísca em fio desencapado, uma cidade tropical, cercada de mangues, acendendo o progresso no meio da cana e do barro. Os jornais da época chamaram de “modernidade luminosa”. O povo chamou de “milagre”. E os caranguejos, coitados, não entenderam nada, de repente, a maré refletia o brilho de lâmpadas que tremiam como vaga-lumes de Deus. Foi a primeira vez que o Recife brilhou sem precisar de luar.

Vaidade e poder

Mas o curioso é que a luz elétrica veio cedo, e a iluminação mental nem sempre acompanhou o ritmo. Desde então, o Recife vive num dilema metafísico, é uma cidade que clareia rápido, mas pensa devagar. A lâmpada acendeu antes da consciência.


Energia

Enquanto os cabos traziam energia, as ideias ainda vinham de jegue. E talvez aí resida o encanto: somos uma metrópole iluminada por fora, mas eternamente mergulhada em seus próprios breus por dentro, os da desigualdade, da vaidade e do poder que apaga o que não entende.

Destino teimoso

Mesmo assim, há beleza nisso. O Recife acendeu o futuro e, de certo modo, nunca o apagou completamente. Basta olhar as pontes refletindo no Capibaribe pra entender que a luz ainda mora aqui, ora elétrica, ora espiritual.

Resiste

Às vezes vacila, pisca, ameaça sumir.. mas resiste. Porque a cidade, mesmo quando mergulha na escuridão, tem o dom de acender poesia nos postes, filosofia nas esquinas e fé nas gambiarras. E talvez seja esse o verdadeiro milagre de 1883: a lâmpada de Dois Irmãos não iluminou só as ruas, iluminou o destino teimoso de um povo que, mesmo no escuro, nunca deixou de procurar o interruptor.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.

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