O Sistema e suas muitas cabeças – As forças que regem a sociedade, por Zé da Flauta*
05/11/2025 -
Falam do Sistema como quem fala de um bicho invisível. “O Sistema não quer Bolsonaro”, “O Sistema vai reagir”, “O Sistema é isso, é aquilo”. A impressão é que o Sistema é uma entidade que mora entre o Congresso e o inferno, com uma antena em Brasília e outra na Bolsa de Valores. Se alguém tropeça, foi o Sistema.
Polvo de terno
Se alguém sobe demais, foi o Sistema também. É como um polvo de terno, com mil tentáculos e nenhum coração, apertando botões que nem a gente sabe onde ficam. No fim, é sempre ele quem manda desligar a luz e recolher o tapete vermelho.
Insônia
Mas o Sistema é esperto: ele nunca aparece. Ele se disfarça de juiz, de jornalista, de deputado, de youtuber, de pesquisa de opinião. Às vezes veste gravata, às vezes camiseta preta, dependendo da pauta. Ele se alimenta de silêncio e se reproduz com escândalos. O Sistema não dorme, apenas cochila entre uma crise e outra. Quando o povo acha que venceu, ele muda de nome e aparece sorrindo no próximo governo, dizendo “prazer, reforma administrativa”.
Filho bastardo
No fundo, o Sistema é um espelho que a gente evita olhar. Está na fila do banco, no fura-fila, no jeitinho, no “deixa pra lá”. Está na mania de escolher salvadores da pátria e depois xingá-los por não serem santos. O Sistema é o filho bastardo da nossa preguiça política e da nossa fome de poder.
Ele nasce toda vez que alguém diz “não adianta votar” e cresce quando ninguém lê o contrato que assina. O Sistema somos nós, só que de terno, com cinismo e um crachá de importância.
Segredo
E o mais engraçado é que, mesmo sabendo disso, seguimos culpando o fantasma. Dizemos “o Sistema é implacável” com um misto de medo e admiração, como quem fala de um deus que pune e protege ao mesmo tempo. Talvez o segredo seja rir dele, e de nós, com a serenidade dos que já entenderam o truque. Porque o Sistema só é foda enquanto a gente acreditar que ele não tem CPF. No dia em que todo mundo assumir a própria parte nessa engrenagem, o tal do Sistema cai. Ou, quem sabe, pede férias.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.


