Por Zé da Flauta*

A tecnologia não é vilã, nem salvadora. Ela é espelho e ferramenta. É parte de nós, como uma nova pele que vai crescendo sem que a gente perceba. O que estamos vivendo não é só uma revolução digital, é uma mutação silenciosa no modo de existir. Com a criptomoeda, aprendemos a guardar valor sem banco. Com o home office, redescobrimos o tempo e o espaço. Com as videoconferências, atravessamos continentes num clique. Tudo ficou mais possível. Tudo ficou mais próximo. E, paradoxalmente, um pouco mais distante também.

Texturas

Não se trata de condenar o que é novo, mas de entender o que ele muda dentro da gente. A rua continua lá fora, mas já não é mais o centro da vida. As praças silenciam. Os encontros se transferem para links, emojis e caixas de comentários. A casa, que antes era refúgio entre saídas, hoje é o palco principal. A rotina ganhou outras texturas, mais rápidas, mais conectadas, mais controladas. Mas o que perdemos nesse ganho? O que se esconde por trás da eficiência?

Transformação

Talvez estejamos vivendo o nascimento de uma nova forma de humanidade, mais introspectiva, mais digital, menos presencial. Não é ruim. É apenas diferente. Exige outro tipo de escuta, outro ritmo de afeto, outra percepção do tempo e do outro. A presença está mudando de rosto. O toque virou voz, a voz virou texto, o texto virou ícone. Tudo comunica, mas de outro jeito. E nesse outro jeito, cabe também o silêncio que começa a nos habitar.

Desafio

A tecnologia nos ofereceu o mundo. E nos pediu, em troca, que reconfigurássemos o jeito de estar nele. Seguimos em casa, sim, mas o conceito de “casa” agora é maior, mais fluido, mais virtual. O desafio não é resistir a isso, mas atravessar com consciência, com afeto e com poesia. Para que, no meio de tanta mudança, a gente não esqueça que, por trás da tela, ainda pulsa um coração que precisa sentir, e ser sentido.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.

NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores.