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A obra, os amores e o legado de Mário Vargas Llhosa, um gênio latino-americano, entrevista com Marcelo S. Tognozzi*

24/04/2025 -

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O Poder - O que representa para sua vida Vargas Llosa, o gênio que virou poeira, segundo suas palavras no Poder360?

Tognozzi - Cresci lendo Mário Vargas Llosa e Gabriel Garcia Marquez, dois gênios. Com eles aprendi muito, especialmente que escrever é antes de tudo um ato de disciplina e determinação. Esta semana fiquei com o coração apertado ao saber da morte de don Mário, a quem tive o privilégio de conhecer quando morava em Madrid e frequentava algumas reuniões da sua Fundação Internacional para a Liberdade, cujos encontros aconteciam na sede do Instituto Cervantes, na Calle de Alcalá 49, perto da Gran Via.

O Poder - Como o senhor sentiu-se próximo de Llhosa?

Tognozzi - Lia regularmente suas colunas nos jornais, especialmente no El País. Junto com Fernando Savater e Javier Marias, eram meus preferidos. Agora só me resta Savater, já que Marias se foi em 2022 e don Mário um dia destes. O mundo parece encolher quando gente como Garcia Marquez, Vargas Llosa ou Javier Marias vão embora. Fazem muita falta para gente como eu, leitor voraz que sai de um livro para outro desde a adolescência.

Gabriel Garcia Marquez, o senhor conheceu?

Tognozzi - Faz pouco tempo li o livro póstumo de Garcia Marquez, “Em agosto nos vemos”, que ele não queria publicar, mas a família o fez num gesto inconveniente – para dizer o mínimo. O livro é ruim, mostra um Gabo claudicante, sem a mesma energia dos livros anteriores. Vi Gabriel Garcia Marquez numa festa de ano novo em Cartagena, em 2012 ou 2013, não tenho certeza. Ele já estava caidinho e morreu logo depois em 2014. O Gabo do livro póstumo era aquele do tabulado da festa de ano novo.
Eu ficava esperando sair o último livro de Mário Vargas Llosa e logo comprava na Amazon. Sua obra derradeira, “Le dedico mi silencio”, também não tem aquela vibração de antes. Não vou falar de “Conversa na Catedral”, disparado o melhor livro dele, mas de “Tiempos Récios” ou “Travessuras de la niña mala”, que saíram nos últimos anos.

O Poder - Já com Javier Marias...

Tognozzi - Com Javier Marias se passou o contrário: seu último romance, “Thomás Nevison”, continuação do incrível “Berta Isla”, é extremamente instigante. Marias morreu jovem, com 70 anos, enquanto Garcia Marquez chegou aos 87 e Vargas Llosa e foi aos 89. Marías, um recluso, tão diferente de Gabo e don Mário.

O Poder - É verdade que Gabo e Llhosa trocaram murros?

É verdade Um dia, lá se vão uns 50 anos, Mário e Gabriel se encontraram. O colombiano saudou o peruano com um “hermanito!”. Em seguida foi nocauteado pela direita precisa de Mário Vargas: “Como você tem coragem de se dirigir a mim depois do que fez com Patrícia em Barcelona!”. Gabo cometera a imprudência de assediar doña Patricia ( Então mulher de Llhosa) e ganhou o troco dolorido. Mário e suas mulheres.

O Poder - Foram quantas?

Tognozzi. Muitas. Mas na essência, três, na sua movimentada vida de escritor, Nobel de Literatura e Marquês nomeado pelo rei Juan Carlos de Espanha. Sua tia Julia, transformada em personagem do livro “Tia Julia e o escrivinhador”; Patrícia, sua prima; e, a última, a amiga Isabel Preysler, o romance do homem maduro transformado em adolescente. Cheguei a cruzar um par de vezes com don Mário desfilando com Isabel a tiracolo, ela linda, ex-modelo, seduzida ainda garota por Julio Iglesias com quem foi casada anos.

O Poder - Foi um romance tardio pero caliente...

Tognozzi - Ele trocara mais de 50 anos de vida com Patrícia para mergulhar naquele romance adolescente com Isabel. Em 2022 a relação chegou ao fim depois de 8 anos. Mário sabia que tinha uma doença incurável, tentava manter o ritmo de vida o mais normal possível, com exercícios físicos e escrevendo 6 ou até 8 horas por dia. Proibiu que os mais íntimos revelassem sua enfermidade. Isabel cumpriu o trato e ele voltou para a família, o Peru e passou os últimos dias da sua vida no apartamento do bairro Barranco, um dos mais boêmios de Lima, joiazinha, encravada naquela capital de céu cinzento na maioria dos dias.

O Poder - Como foras os seus últimos anos?

Tognozzi - Don Mário cumpriu um ritual, visitou os lugares que inspiraram seus livros, como o prédio onde funcionou o bar e restaurante Catedral e a Escola Militar, onde teve a inspiração para “La ciudad de los perros”. Quando já estava pronto para partir, a presidente peruana Dina Boluarte foi até sua casa, abraçou Álvaro, o filho mais velho, e solidarizou com a família. No dia 13 de abril, don Mario partiu para sempre. Cremado, foi transformado em cinzas que couberam em 2 potes. O escritor, encantador de palavras e sonhos, agora é poeira a se misturar com o ar salgado de Lima, os aromas, os sabores e os tempos eternos impressos nos livros que deixou de herança para a humanidade.

*Marcelo S. Tognozzi é jornalista.

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