
O Governo Quer Afundar os Inadimplentes? - Crônica, por Emanuel Silva*
30/05/2025 -
O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é hoje uma das ferramentas mais cruéis contra quem tenta, com esforço e desespero, reorganizar a própria vida financeira. O trabalhador endividado, ao buscar crédito para não perder o nome ou o carro, não enfrenta apenas os juros estratosféricos dos bancos — encara também um imposto regressivo, oportunista e friamente técnico. E com o aumento do IOF, o custo de continuar lutando para não afundar só cresce.
No crédito pessoal, o IOF chega a 3% de alíquota fixa, mais 0,38% sobre o valor emprestado, somado a uma taxa diária de 0,0082%. Traduzindo: quem toma R$ 2.000 para respirar já começa devendo R$ 60 — antes mesmo da primeira parcela vencer.
Ou seja, o governo cobra para permitir que o cidadão continue devendo — agora, com mais estilo (e impostos).
A política “social”, no Brasil, virou uma lógica perversa: tributar o pobre com zelo cirúrgico, enquanto uma casta se esbalda na leniência estatal.
O Cinismo da Bondade Oficial
O mesmo Estado que oferece microcréditos de R$ 300 ou R$ 600 com palanque, música e balões é o que abocanha bilhões em tributos quando esses valores retornam como prestações pingadas em boletos suados.
A retórica de “ajuda ao povo” convive com a prática de uma máquina fiscal insaciável, que tributa o fiado do mercadinho, monitora o PIX do autônomo e ainda tasca imposto até na mortalha parcelada da esperança do brasileiro.
A crônica do empobrecimento nacional é escrita com códigos de barras, boletos e IOFs, enquanto a farra da gastança federal se dá entre espumantes, cartões corporativos e voos em jatinhos, debatendo se já não é hora de apertar mais um pouco o torniquete sobre quem já sangra.
A propaganda oficial finge dar com uma mão, enquanto toma com as duas.
Isso não é redistribuição de renda — é redistribuição de desespero.
O Cenário Nacional da Inadimplência
O mês de abril de 2025 escancarou a chaga: 76,6 milhões de brasileiros inadimplentes, segundo o Serasa. Isso representa mais de 47% da população adulta, com R$ 294,1 milhões de débitos em aberto, quase quatro por pessoa.
O valor médio da dívida por inadimplente é de R$ 5.968,71, e por registro, R$ 1.555,33. O montante total das dívidas chega a R$ 457 bilhões, com crescimento de 4,2% em apenas um mês. Não se trata de consumismo — é sobrevivência a crédito.
As famílias estão atrasando contas para colocar arroz na panela, manter a luz acesa e botar gás no fogão. E com o aumento do IOF, o ciclo da dívida se aprofunda e se perpetua. Não adiantou Desenrola, pois todos continuam enrolados. E não adianta o governo federal prometer crédito para comprar moto ou marmita. Quem está negativado não vai acessar. Simples.
Como Andar para Trás
Os estados com maior inadimplência são, previsivelmente, os com menor renda. No topo: Amapá (62,24%), Roraima (60,45%), Maranhão (54,66%). No Nordeste, Pernambuco (48,06%) lidera, seguido por RN, CE e AL. É o mapa da desigualdade desenhado com o pincel do abandono. E qual a resposta do governo? Mais IOF.
E a justificativa? “Ah, é pra financiar os programas sociais”, respondem os porta-vozes engravatados do mandatário-mor, entre um café gourmet e uma passagem de primeira classe.
Difícil acreditar nessa fábula quando o noticiário exibe gastos secretos com cartões corporativos, banquetes com lagosta e vinho caro, e uma rotina de viagens nababescas. A cereja do bolo é feita com chantili de deboche e servida ao povo em horário eleitoral.
Isso não é justiça social — é alimentar a jiboia com o próprio rabo. Ou melhor: é encher a pança do Leviatã estatal com a marmita do motoboy.
E as perguntas que não querem calar:
O povo — esse sim — já está sendo cobrado há tempo demais.
Com juros, multas, IOF… e humilhação.
Por que não cortam as mordomias? Por que não rasgam os cartões corporativos? — grita o povo.
O governo está surdo? Ou apenas cego pelo poder? — brada a multidão.
Chega de aumentar imposto. O Brasil não aguenta mais.
*Emanuel Silva, é Professor e Cronista
**Os artigos assinados expressam a opinião dos seus autores e não refletem necessariamente a linha editorial de O Poder.
