
Gol de Letra - Coluna semanal por Roberto Vieira* - As Pitombeiras de Alexandre de Moraes e Eduardo Bolsonaro
02/06/2025 -
O deputado Eduardo Bolsonaro ganhou as manchetes da mídia e redes sociais com críticas e acusações ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Eduardo está autoexilado nos Estados Unidos, enquanto Alexandre corre o risco de perder seu visto de entrada na Disneylândia. Há sessenta anos, naquele início de junho de 1965, a Disneylândia já existia na Califórnia desde 1955, mas não havia ainda sua filha famosa da Flórida, o que havia era o autoexílio. Quem ia ser presidente dizia que não seria. O ser humano já passeava pelo espaço.

Mendes de Morais
O grande mérito do marechal Mendes de Morais - nada a ver com Vinicius ou Alexandre - foi inaugurar o Maracanã, em 1950, quando era prefeito do Rio de Janeiro. Dias depois, antes da partida contra o Uruguai, o marechal exigiu a vitória aos jogadores da seleção brasileira. O Uruguai venceu por 2x1, o busto de Mendes de Morais no Maracanã foi arrancado e virou bola de futebol, seu nome mergulhando no limbo até ser eleito deputado após o golpe militar de 1964. Quando soube que o jornalista Afonso Souza escrevera uma matéria na Última Hora sobre parlamentares eleitos graças ao golpe, o marechal pegou revólver e tentou alvejar Afonso. Afonso escapou. Mas a Última Hora dançou, mesmo sem a sonhada Lei de Imprensa. Coisas do Morais. Com 'i'.
Campos
O ministro Roberto Campos tem o golpe militar nas mãos e congela salários do funcionalismo público, assim como o salário-mínimo. O avô de Roberto Campos Neto quer controlar o monstro da inflação, entidade fantasmagórica desde o governo JK com a construção de Brasília. Mesmo com todo esse arrocho, a inflação foi de 90% em 1964 e chega a 35% em 1965. O Brasil gasta mais do que arrecada e ainda manda tropas para impedir a chegada do comunismo na República Dominicana. Ajuste na cesta dos pobres só em 1966. Mais ou menos.

Costa e Silva
O ministro da guerra Costa e Silva repete pela milésima vez que não será candidato a presidente da república. Costa é apenas um servidor da pátria sem maiores ambições de poder. Já o presidente Castelo Branco não acredita nas palavras do seu ministro da guerra, mas se preocupa mesmo com uma tal lei de imprensa. A tal lei, parece que estamos em 2025, né? está sendo elaborada nos corredores do Planalto para acabar com o festival de boatos nesse Brasil de 1965. Uma bomba explode um ano depois no aeroporto dos Guararapes na tentativa de matar o ministro que não queria ser presidente.
Exílio
Os ex-presidentes Jango, Jânio e Juscelino estão exilados por tempo indeterminado, segundo o governo. O único problema como sempre é a Constituição, afirmando no parágrafo 31 do artigo 141 que não pode haver banimento no Brasil. Cidadão brasileiro não pode ser banido. Diante do quadro infausto dessa constituição, o governo federal busca tornar a vida de quem fica insuportável, levando o indivíduo a preferir viver fora do berço esplêndido. O fato só será contornável com a fabricação da nova constituição em 1967 e do AI-5, em 1968. Por via das dúvidas, hospedado na Embaixada da Argélia, Miguel Arraes consegue liberação para sair do país. O governo diz que saiu porque quis. Autoexílio.

Pitombeiras
Jubal é o maioral nas Pitombeiras. Jubal Lins Caldas foi eleito, em eleições diretas, presidente da Pitombeira dos Quatro Cantos no dia 31 de maio de 1965. O vice é José Juarez, o tesoureiro João Novelino e o diretor social Jenner Travassos. Parece inacreditável, mas a Pitombeiras já conta com um diretor de propaganda, o Frederico Pinto, além do Maurício Santos como diretor de protocolo. A Pitombeira, também conhecida após uma brahmas, como Talisia esculenta, está entrando na maioridade dos seus dezoito anos e se a turma não sair não existe carnaval. O hino da agremiação foi escrito por Alex Caldas, mesmo sobrenome do presidente eleito. Caso claro de nepotismo. Em tempo. Jubal jogou muita bola no Sport Club Recife, ao lado dos irmãos Aluísio e Péricles, nos anos 1920, quando não havia Pitombeiras, só bate bate.
Sétima arte
O cidadão pernambucano desejando levar a passeio sua amada e o acompanhante que segura a vela tem muitas opções. Recife e Olinda possuem o cinema Moderno, o São Luís, o Boa Vista, o Coelho, o Eldorado, o Ideal, o Torre, o Politeama, o Império, o Central, o Coliseu, o Albatroz e o Brasil. Ar-condicionado é raro, mas um bom ventilador dá pro gasto. A pedida desse começo de junho é ‘Dois farristas irresistíveis’ com Marlon Brando e David Niven. Irresistível também é nosso ministro da guerra que após dizer que não quer ser presidente sai com a frase: a primeira cabeça de subversivo que se levantar será decepada. Deve ser coisa de cinema. Nada mais que figura de linguagem, certo? Corta!
Gemini
Alexandre de Moraes e Kleber Mendonça Filho não iam ao cinema naqueles tempos. Ambos nasceriam em 1968, ano de loucuras mil e helter skelter. Aliás, Kleber nasceu no mesmo dia de lançamento do álbum branco dos Beatles com Helter Skelter. Alexandre nasceu no dia do AI-5. Coincidência. No dia 2 de junho de 1965, Edward White se prepara na nave Gemini para a primeira caminhada espacial – foi espetacular. Costa e Silva chegou à presidência em 1967. Ele não queria, mas fazer o que. Nesse mesmo 2 de junho de 1965, Pelé faz um hat trick contra a Bélgica no Maracanã, dando famosa bicicleta, imortalizada pelo fotógrafo paraibano Alberto Ferreira. Costa e Silva, emocionado, pediu o tricampeonato mundial na Inglaterra a Pelé. Não deu. Aliás, Costa e Silva nem completa seu mandato. Já Eduardo Bolsonaro só viria ao mundo em 10 de julho de 1984, ano orwelliano. Eduardo que nasceu ainda sob a ditadura que congelava salários, censurava o cidadão e promovia leis kafkanianas de imprensa. Em 1965, o presidente do STF era Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa, filho do general Alfredo Ribeiro da Costa. O general Alfredo participou do julgamento de Luís Carlos Prestes na época do Estado Novo. Alfredo classificou o líder comunista como ‘um homem de valor’. Getúlio fez que não viu. Prestes não prestava para Vargas. Era pitomba que se compra com qualquer tostão.
*Roberto Vieira é médico e cronista. Considerado por muitos o melhor do Brasil contemporâneo.

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