
A música como metáfora da paz - Quando o belo nos une
03/06/2025 -
Por Zé da Flauta*
Quando uma orquestra sinfônica se apresenta, algo extraordinário acontece diante de nossos olhos e ouvidos: centenas de pessoas, cada uma com sua história, sua formação e seu temperamento, se reúnem para executar, com precisão e sensibilidade, uma mesma partitura. O que poderia ser apenas uma multidão de egos ou um emaranhado de sons se transforma em beleza pura, harmonia, emoção. Isso só é possível porque há um acordo silencioso entre todos: cada um cumpre seu papel, escuta o outro, confia na liderança do maestro e, acima de tudo, serve à música, que está acima de todos.
Recíproca
Esse fenômeno não é apenas artístico, é também profundamente simbólico. Mostra que a humanidade, quando quer, é capaz de se organizar, de se disciplinar e de colaborar com generosidade. Numa orquestra, ninguém precisa anular sua identidade; ao contrário, cada instrumento conserva seu timbre único. O clarinete não tenta soar como o oboé, nem o violino como a flauta. Mas todos buscam o mesmo fim, o som do conjunto, que só se realiza plenamente na escuta mútua e na sintonia. A música, assim, se torna o exemplo vivo de que unidade não é uniformidade, é convivência respeitosa entre diferenças.
Algo maior
Não se trata aqui de idealizar a vida como uma eterna sinfonia, mas de perceber que mesmo em um mundo repleto de ruídos e dissonâncias, há provas concretas de que a paz é possível. Uma orquestra não nasce pronta. Ela ensaia, erra, afina, reinventa. Ela exige esforço, humildade e compromisso. Mas quando funciona, nos dá um vislumbre do que poderíamos ser enquanto sociedade. Uma comunidade afinada, em que cada gesto, cada silêncio, cada nota tem sentido porque está a serviço de algo maior: a beleza, a paz, o bem comum.
Afinado
É apenas um exemplo. Um pequeno, singelo exemplo. Mas suficiente para nos lembrar de que não estamos condenados ao caos, ao ódio ou à discórdia. Ainda há música. Ainda há pessoas dispostas a escutar umas às outras, a construir algo juntas. Se isso é possível em uma orquestra, por que não seria na vida? Talvez o segredo esteja justamente em aprender a tocar com o outro, e não contra ele.
Até a próxima!
PS. Atenção prefeito João Campos. A Orquestra Sinfônica do Recife e a Banda Sinfônica do Recife pedem socorro.
*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.
