1 – Introdução

O mundo de grandes transformações digitais tem provocado mudanças no convívio cotidiano e nas interações das pessoas e das organizações, através da comunicação. Mudanças estas que interferem na interação entre pessoas, na comunicação nas empresas, nos processos deempresas do varejo, diferentes tipos de estabelecimentos comerciais, nas atividades físicas, no processo de formação, nos acessos às informações, nas formas de trabalho, na privacidade e segurança das pessoas através de monitoramentos com uso de câmeras e sensores, nos atendimentos médicos através da telemedicina, na criação, difusão e execução das músicas. nas formas de pensar, nos meios de transporte, nos processos associados aos eventos culturais. Para tal a internet, foi o grande propulsor deste impacto na sociedade, a partir dapossibilidade de interligação através de um conjunto de computadores de diferentes tipos, podendo ser denominada de uma rede de redes compartilhadas.Estas se destacam pela possibilidade de conexão entre pessoas e organizações com rapideze intuitivo para acesso às informações, como grande capacidade de armazenamento, provocam rupturas de vários paradigmas sobre do comportamento humano, gerando sobrecarga de informação, sobrecarga nos trabalhos, reforçados pela flexibilização na mais recente legislação trabalhista do Brasil. Para isto, necessário se faz a desmistificação através da formação crítica nestas tecnologias da informação.

A tecnologia também tem permitido grandes oportunidades com a sua evolução e proporcionado melhorias na solução de problemas em diferentes áreas do conhecimento, como a saúde coletiva e individual através da telemedicina, reduzindo o tempo despendido nos meios de transportes, nas tecnologias assistivas, atuando diretamente na qualidade de vida do cidadão e da população em geral. Na educação os jogos digitais (games) estimula o aprendizado, permite simulações, definição de estratégias ajudando a mudar alguns paradigmas.

Outras áreas diretamente influenciadas pela tecnologia digital podemos citar a biotecnologia, genética, realidade virtual, eliminado algumas experiências de risco com a presença de pessoas e melhorando a qualidade de vida.
Um dos maiores desafios seria o uso da tecnologia sem se esquecer da importância fundamental do contato físico entre os cidadãos atuando de forma colaborativa. Um elemento essencial de duas vias que exprime o comportamento as pessoas e organizações são os processos. Os sistemas de informação automatizados incorporam em seus desenvolvimentos os processos, que poderão simplificar as atividades das pessoas pelo simples uso da tecnologia, mas que geram muitas vezes poucas transformações. No entanto, muitas vezes as novas tecnologias implantadas através da geração de produtos, tais como o celular, incorporam em seu uso novos processos que mudam fortemente o comportamento das pessoas, através da sua ligação direta na mobilidade das pessoas e suas comunicações.

A questão central deste artigo não é a avaliação da relevância do mundo digital em todas as áreas, mas nos impactos gerados no mundo da Cultura e Comunicação por sua interação. Na música, por exemplo, mudou completamente os processos de criação e difusão.

Pode-se constatar pelos fatos relatados que apesar dos conflitos gerados na sociedade com a crescente imersão da tecnologia que é preciso se buscar alternativas para um novo modelo de sociedade convivendo com um mundo híbrido, incluindo realidades presenciais e virtuais. A cultura da virtualidade é irreversível, pelo menos a curto e médio prazos. É preciso se ter uma visão crítica do que de fato queremos e precisamos do mundo digital. O que de fato conseguimos e fazemos no mundo virtual que não temos o mesmo resultado nas relações presencias interpessoais?

As identidades culturais de algumas gerações terão dificuldades de assimilar e conviver com imposições forjadas pelas mídias orquestrada pelos modelos sociais e econômicos vigentes. Um dos desafios no século XXI é como lidar com o grande avanço que as tecnologias da Informação visível no crescimento das mídias digitais, têm promovido e seus impactos na sociedade, que nem sempre são positivos na formação das pessoas, nas mudanças de hábitos, na cultura dos povos, na relação entre as pessoas, no comportamento contemporâneo, no trabalho, no emprego, nas liberdades individuais e sociais, na economia, na política, nas organizações, no desenvolvimento dos países, entre outros.

Antes de tratar sobre as relações entre os conceitos de Cultura e Informática serão abordados os conceitos de Informática, Sistemas de Informação e Tecnologias da Informação por terem muitas similaridades e falta clara de entendimento entre cada um destes e suas relações. Por ser uma área em constante mudança, os conceitos formam também se ajustando ao longo do tempo.

Na área acadêmica também ocorreram adaptações e diferentes interpretações como Sistemas de Informação, Ciência da Computação, Engenharia da Computação e Ciência da Informação.
Como as pessoas são muitas vezes mais emocionais a Tecnologia da Informação torna-se mais atrativa pelos avanços tecnológicos. As tecnologias da informação, os dispositivos como, celular, games, as redes sociais geram muita atratividade pelo avanço tecnológico e pelo que realizam, como também são muito contestadas em nossa sociedade. Mas seu valor agregado para uma comunidade depende fundamentalmente de como são usadas politicamente pelas classes dominantes, incorporando de forma sutil ou mesmo explícita a ideologia que defendem.

O desafio é ainda maior diante da sociedade extremamente alienada, consumista, individualista que se torna ainda mais facilmente manipulada, às vezes sem mesmo se dar conta de forma passiva, com um grande suporte do mundo digital. O maior risco é o de tornar-se um indivíduo politicamente passivo. As diferentes Tecnologias da Informação tais como a Internet e suas aplicações como as redes sociais têm um impacto amplo na sociedade nos diferentes aspectos culturais, fomentando e gerando muitas transformações sociais e econômicas através de mobilizações sociais, mas sendo dependente do ambiente político em que está inserido.

Como a cultura e a tecnologia são temas complexos e abrangentes, que envolvem várias áreas de conhecimento como antropologia, ciências sociais, filosofia, medicina, psicologia, serão abordadas principalmente as suas relações positivas ou negativas nas sociedades modernas e os principais desafios na evolução de novas e futuras mudanças sociais influenciadas pelo mundo da tecnologia digital, visando uma sociedade mais solidária, engajada, focada no coletivo. Espera-se refletir ao longo do texto a forma que a tecnologia atua e influencia a cultura e como estas interferem mutualmente em suas mudanças, gerando uma grande interação entre elas de forma abrangente.

No “Ensaio sobre a cegueira” , José Saramango conta a história de uma cidade inteira que fica cega às vésperas do fim do milênio, quando todos se curvaram ao delírio do consumismo. Segundo Zigmunt Bauman, a sociedade de consumo encoraja, reforça e promove a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial de consumistas e rejeita todas as demais opções culturais alternativas. O ato de consumo é praticamente inato. Os consumidores estão sempre estimulados a terem a nova versão do produto, independente se eles vão precisar ou não. Estes textos corroboram que o mundo digital atua prioritariamente nesta direção, usando as tecnologias digitais como uma propulsora do novo consumismo. Um dos maiores desafios e compromissos de uma nova sociedade é o de impedir que a cultura do consumismo de bens culturais, importados e de produtos de consumos contaminem as populações e as conduzam a processos alienantes. É uma síndrome cultural consumista, que precisa ser combatida.
Um dos grandes problemas do uso intensivo e indiscriminado das tecnologias são as muitas consequências negativas para a população, como o isolamento, a sobrecarga no trabalho, o processo de alienação, o automatismo do aprendizado sem visão crítica na construção do conhecimento. A tecnologia no trabalho, a gamificação na educação, o uso de tecnologia na beleza, fazem parte, segundo Byung–Chui Han. na Sociedade do Cansaço, ou também denominada de sociedade da performance, que tenta confortar o indivíduo alimentando que está ocorrendo um excesso de positividade.

2- Conceituação de Cultura e Tecnologia

A cultura e a tecnologia são frutos de construções desenvolvidas pelas pessoas e comunidades de diferentes formas e com objetivos diversos, tutelados ou não. Geram impactos positivos e negativos para os indivíduos e para a sociedade em geral. É importante ressaltar que a Tecnologia não deve ser analisada ou criticada apenas tendo um olhar direto sobre esta sem relacioná-la com outros temas como a Cultura. Na década de 60 a geração dos dados e da computação a ênfase estava no processamento dos dados. Em seguida, na década de 1970, os dados passaram a ser analisados e começaram a serem tratados como informação gerando significados para uso na gestão, entrando na era da Informação e nos Sistemas de Informação. A computação passou a ser chamada de Informática. Ainda nos anos 70, o termo passou a ser chamado de Tecnologias da Informação, incorporando não apenas as áreas de computação, eletrônica e telecomunicação, atuando de forma convergente. Já nos anos 80, com uma maior popularização dos computadores, passou a ser denominada Tecnologias da Informação e Comunicação, reforçando explicitamente o termo comunicação.

Nestas fases de evolução do conceito de computação pode-se dizer que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) eram mais voltadas ao mundo tecnológico. Os Sistemas de Informação, com uma visão sóciotécnica, consideram as dimensões de Tecnologia, de Organização e de Pessoas com uma visão mais abrangente e integrada das tecnologias, onde se inclui também os processos. Dentro desta perspectiva houve também uma evolução dos Sistemas de Informação de sistemas transacionais para gerenciais e para sistemas de apoio às decisões, permitindo uma grande evolução nos processos decisórios. Com os sistemas de apoio a decisão houve um grande avanço nas tecnologias para análise e inferência de dados e informações, denominada comumente de mineração e muitas vezes também usam os Big Dados que possibilitaram grandes volumes de dados com maior rapidez. É um instrumento fundamental nos processos decisórios. Várias aplicações e consequências grandes impactos na sociedade começaram a surgir, redes sociais, comércio eletrônico. Através do celular quase o mundo todo está disponível na palma da mão, permitindo a comunicação entre as pessoas e as organizações.

Com as Tecnologias da Informação expandidas, tendo uso ampliado com grande volume de dados e diversificado das informações, fortalecidas pelo ambiente virtual e a incorporação da área de inteligência artificial, várias aplicações surgiram que permitiram qualificar mais os dados e informações, fazer previsões com maior precisão, prever tendências, gestão de crise, otimizar volumes de dados e informações relevantes, facilitar buscas na internet, nas câmeras de segurança, propor diferentes tipos de alternativas antes do consumo, decidir o que deseja, apoio em processos agrícolas ajudando na identificação de problemas no solo e na eficiência dos processos, na saúde através dos diagnósticos, tratamentos, criação de vacinas, no monitoramento e entendimento ao comportamento das pessoas, a descoberta de informações não explícitas. Através destas evoluções tecnológicas, foi possível o grande avanço nos monitoramentos, controles e processos automatizados, impacto na rapidez das respostas e demandas.

O conceito de cultura evolui historicamente ao longo do tempo e por diferentes visões, desde a da universalidade que foi o entendimento francês, às mais restritas, considerando as individualidades de uma população considerando características ligadas às artes, à religião, à filosofia, que é uma concepção alemã. Surgiram outras percepções que consideram a cultura como um conjunto dinâmico de saberes que constituem os modos de vida de uma população e hoje se associa além dos saberes, as práticas, invenção e memória. Estes elementos têm mudado de uma forma bem mais rápida neste século com a forte influência do mundo digital. Ela também se caracteriza pela sua multiplicidade e heterogeneidade por envolver ações de diferentes classes, diferentes gerações, raças. As diferentes visões tinham normalmente um viés que diferenciava por preconceito a cultura dita erudita ou elitista da cultura popular enfatizando a percepção de hierarquias culturais e excludentes.

Consideramos a cultura, a comunicação, a informação e a tecnologia como conceitos e temas relacionados e ilustrados como as culturas ditas eruditas, a cultura de massa e a cultura popular são impactadas pelas tecnologias da informação. A cultura popular
se dá a partir de interações entre pessoas e comunidades refletindo muitas vezes padrões de comportamento e heranças de gerações religiosas, artísticas, tradições, costumes. Dependendo de sua construção e das comunidades criadas, é possível a criação de novas expressões culturais. O estímulo aos processos criativos, valorizando e incentivando o envolvimento de cada membro da comunidade, sem tentar impor velhas crenças e a dinâmica do trabalho com reflexão coletivo são fundamentais para ser um novo modelo de participação.
A Informação deve ser considerada como um bem público e não como uma mercadoria onde pessoas, editoras, empresas tentam se apropriar para ter lucros.

Exemplo são os repositórios institucionais onde os artigos científicos, no modelo comercial, precisam ser comprados, diferentemente da proposta dos repositórios de dados abertos, que são disponibilizados livremente para o público em geral.

A cultura é vista por Paulo Freire com tendo uma necessária dimensão política implícita à própria práxis humana e inerente também ao seu conceito de comunicação. Contesta a visão positivista da ciência e da pesquisa e compartilha a modalidade qualitativa de pesquisa predominante nos estudos culturais. Duas palavras chaves que precisam fazer parte deste processo são a reflexão e as ações interrelacionadas.

Os fatores políticos, socioeconômicos e o nível de desigualdade da população, relação de poder, influenciam as relações entre as Tecnologias da Informação e a Cultura, como também os impactos na sociedade.

No início dos anos 1990 foi criado o termo cibercultura, a partir dos conceitos de cibernética e cultura criando uma relação entre a tecnologia através de computadores, redes de computadores e a internet permitindo a conexão virtual. Este conceito evoluiu bastante com a miniaturização de componentes, a evolução das redes e computadores pessoais, redes sociais, smartphones. Alguns autores como Pierre Lévy amplia a definição deste conceito incorporando e destacando principalmente outros elementos mais relevantes do que a própria tecnologia através das relações e práticas entre pessoas e comunidades virtuais, onde ocorreriam diferentes produções sócioculturais, com o uso destes espaços conectados pela internet que permite uma maior comunicação e interação entre as pessoas. Através destes espaços interativos podem ser compartilhados, conhecimentos, valores, pensamentos, visões de mundo que podem influenciar na transformação das pessoas, grupos e sociedade de um modo geral. Nestes espaços, pode-se vislumbrar o uso efetivo do ciclo de vida da informação sob o contexto da cultura. Um grande desafio é garantir que as novas interações advindas destes ciberespaços venham para substituir as relações sociais presenciais. Na prática, temos visto esta situação ocorrer e gerado diferentes impactos nas relações interpessoais e no comportamento das pessoas, além de transformações nas relações sociais e políticas, as relações de mercado de trabalho, o aumento do desemprego, a necessidade de novas habilidades e competências, o isolamento, entre outras.

Vários conflitos têm se apresentado nas diferentes gerações que foram tomadas por este novo ambiente fortemente ligado as tecnologias digitais. Os mais jovens têm apresentado mais facilidade de se inserir neste novo contexto, enquanto pessoas de outras gerações e níveis sociais e econômicos tem tido dificuldades de se incluir neste mundo, gerando um grande impacto na vida das pessoas, nas relações sociais e na economia. A cultura passou a ter um papel ainda mais importante, alimentada pelas tecnologias da informação e pelo insumo maior que é a informação, em todas as etapas do ciclo de vida da informação, conforme explicitado na seção seguinte. É visível a sua inserção cada vez maior no cotidiano das pessoas, das organizações e em muitas práticas sociais e econômicas.

Áreas como arte plástica, teatro, antropologia, música, literatura, dança, cinema, história, ciências sociais, sociologia, museologia, audiovisual, economia criativa, têm estudado o significado da Cultura nos tempos de hoje. A partir da evolução milenar deste conceito se faz necessário mudar a forma de atuação e gestão nas organizações, a partir de um modelo mais transversal, autônomo e independente da cultura, passando a ser tratada como um recurso estratégico.

Um elemento essencial ligado aos reflexos do uso da Tecnologia da Informação, está associado a visão política na qual ela está inserida. Se o modelo adotado pela sociedade cosmopolita trata a comunicação sem levar em conta da participação efetiva das pessoas no processo de comunicação, sem protagonismo e como mero objeto expectador, as consequências são visíveis, com o isolamento das pessoas, com o grau de manipulação gerado, o estímulo a individualidade, negando a visão da construção coletiva com solidariedade através das relações pessoais. Estas mudanças têm levado cada vez mais as pessoas a se isolarem, se alienarem em contextos virtuais improdutivos e a ficarem marginalizadas do mercado de trabalho, muitas vezes por se tornar um analfabeto digital. É a inclusão do diálogo verdadeiro na comunicação defendida por Paulo Freire. A atração e o uso intensivo das novas tecnologias com o poder de comunicação na palma da mão dos usuários, dos marketplaces na venda de produtos, através de sites, aplicativos, de vários fornecedores de tecnologia como o Google e Facebook, além do uso dos mensageiros como o Whatsapp, Telegram, que influenciam o comportamento gerando diferentes tipos de impactos, tais como, a alienação, falta ou presença de solidariedade, o isolamento com a falsa ilusão de muitos amigos nas redes sociais, o estímulo ao consumo.

Este ambiente propicia um grande risco para a população e para cada cidadão pela sua capacidade de alienação, repercutindo no seu cotidiano. Na superficialidade destas interações, as pessoas não têm paciência de escutar os outros, nem analisar criticamente os fatos, problemas existentes. Uma das maiores consequências é o crescimento assustador do isolamento que tem também levado a depressão e ao suicídio de jovens e adultos. A ampliação do isolamento dos idosos se acentua no mundo atual sendo necessário também ações que o inclua na vida da cidade. Um grande desafio é como se pode obter eficiências coletivas de modo a enfrentar o estado atual da população em todas as suas gerações. À luz do que foi tratado, pode-se afirmar que a Cultura, a Comunicação, a Tecnologia e a Sociedade não possuem distinção de fato, e se interrelacionam.

3- Relação e impactos entre o Mundo Digital, a Cultura e a Sociedade

Para criar uma associação entre a cultura e Informática, adotaremos o conceito de ciclo de vida para identificar como estes dois conceitos poderão atuar de forma convergente ou não, tendo a informação como o elemento central de convergência. A Tecnologia da Informação é um conjunto de meios técnicos, ferramentas e soluções que envolvem diferentes dispositivos conectados ou não em redes com ou sem fio capaz finalidade de tratar todo o ciclo de vida da informação, desde a sua coleta até a sua comunicação (transmissão) e/ou descarte, assim como promover a sua gestão, através de hardware, software, redes de dispositivos móveis ou não. Alguns autores incorporam ao conceito de Tecnologia da informação a uma visão sistêmica considerando a influência, da cultura organizacional, as pessoas e processos. A partir deste estágio de desenvolvimento e do avanço de tecnologias de sensores, convergentes com as tecnologias de informação, celulares, tecnologias sem fio, o fato é que muitos acreditam que gerenciar a informação é simplesmente gerenciar a tecnologia e todos os seus componentes, deixando-se de lado outros elementos essenciais para o seu funcionamento, como as pessoas e sua forte resistência à adaptação às mudanças.
Com esse propósito, o presente trabalho faz uma discussão sobre os ciclos de vida da informação e do conhecimento, a sua importância e utilidade, bem como os critérios de qualidade que devem existir neste processo na tentativa de buscar propor uma metodologia genérica e aplicável a diversos contextos.

Na disseminação do conhecimento é notório o grande impacto, em especial na disponibilização das informações e nos trabalhos colaborativos e compartilhados. Todo o ciclo de vida da informação está sendo afetado diretamente, considerando as etapas de Obtenção/Captação, Tratamento, Armazenamento/preservação, Distribuição, Acesso/Uso e Descarte.

Captação

Nesta etapa de captura, é fundamental se identificar fontes confiáveis. É importante ter como fonte de informação um ambiente de reflexão para a criação, processos criativos, e produção cultural para refletir a realidade cultural. Como obter informação quando não se está incluído digital. Excesso ou escassez de Informação. Há uma variedade de informações que o tratamento digital proporciona: imagem, som, movimento, representações manipuláveis de dados e sistemas (simulações), todos integrados e imediatamente disponíveis, que oferecem um novo quadro de fontes.

Tratamento da qualidade

Essa etapa é fundamental pois deverá garantir critérios que assegurem a veracidade, confiabilidadee a qualidade dos dados e informações. No mundo atual seria a etapa onde deveria ser combatida as Fake News.

Armazenamento/Preservação

Registrar os catálogos ou registros multimídia (sonoro, visual), as produções culturais, científicas e tecnológicas, em diferentes formatos e mídias digitais. Mudança de paradigma de processo de memorização. É importante facilitar o acesso aos acervos culturais locais e não locais. Na medida em que a informatização avança, certas funções são eliminadas, novas habilidades aparecem, a ecologia cognitiva se transforma. O que equivale a dizer que engenheiros do conhecimento e promotores da evolução sociotécnica das organizações serão tão necessários quanto especialistas em máquinas.

Divulgação (Comunicação)

A comunicação é um processo bidirecional interativo fundamental para o grande avanço das TIC, tanto do ponto de vista das conexões como nos processos de troca e principalmente a interação e os trabalhos cooperativos e colaborativos, através de mensagens. É importante combater a linguagem unificada, permitindo a preservação das linguagens das diferentes comunidades. Articular as formas e os conteúdos da produção cultural – divulgar obras e as identidades culturais dos povos. Como as comunidades marginalizadas vão saber onde estão as informações relevantes para a sua vida se estão excluídas neste mundo digital?

Como chegar às diferentes comunidades com informações atuais e confiáveis? Se a comunicação for usada para engajar a comunidade nos processos e projetos culturais terá um impacto social relevante, mas se for usada apenas como mero instrumento de divulgação terá outro resultado.

Acesso/Uso

A ideia de universalização dos saberes não é atendida pela ainda forte exclusão digital, que impede o povo excluído e marginalizado em nossa sociedade em ter acesso às informações e processos culturais, entre outros. Ao mesmo tempo, a cultura de usar sempre um menor tempo para entregar resultados no trabalho tem influenciado na qualidade destes pela ausência de tempo para se analisar os problemas e soluções e para tomar decisões no cotidiano e nos processos de compra. As ideias de Paulo Freire nos abrem horizontes entre futuro e passado, atualidade e reminiscências históricas. Amplia o repertório sobre informação como direito, conhecimento compartilhado e debate público. Para tal é fundamental a disponibilidade das informações para todos, com qualidade e de fácil acesso.

Descarte

Esses conceitos precisam ser tratados de forma articulada e integrada, mas dependendo de questões políticas e ideológicas poderão ter impactos distintos nas relações entre a cultura e a tecnologia. A ausência de políticas e ações de preservação de patrimônio histórico que são vítimas de incêndio, de destruição por cupim, larvas, roubos. É fundamental a definição de políticas de preservação das obras relevantes e raras, além de sua proteção através de processos de digitalização evitando o descarte. E que o descarte só poderia ser realizado a partir de regras bem definidas.

Na UFPE foi definido um projeto denominado de UFPE digital que incluiu TVU Digital com a ideia de Convergência e Interatividade.

Na Ufpe foi recuperado um repositório que tinha perdido 9 mil títulos em função da obsolescência da tecnologia e em 2018 além de recuperá-lo passamos a ser um dos mais referenciados no Brasil e com um grande crescimento na6 América l
Latina. Foram também recuperados acervos históricos de vídeos do Núcleo de TV e rádios Universitárias. Essas ações visaram preservar e disponibilizar amplamente esses acervos para a sociedade através da internet. O repositório da Ufpe também ampliou o seu conceito e passou a registrar e disponibilizar vídeos e fotos históricas, inicialmente do acervo da UFPE.

Para dar esta visão mais abrangente, o repositório da UFPE passou a ser denominado de Atena, simbolizando a ideia ampla da sabedoria e conhecimento. Com esta nova visão de repositório, um problema surgiu por falta de recursos ou de priorização de recursos que era a capacidade de armazenamento, impedindo inclusive que um novo site projetado pela Pró-Reitoria de Extensão e que previa uma grande interação com a comunidade que atua na cultura pernambucana, incluindo obras de artistas sob a forma de fotos e vídeos. Como em geral estes tipos de mídia exigem tanto uma grande capacidade de armazenamento e uma grande capacidade de transmissão para serem disponibilizadas de forma adequada para os usuários desta plataforma, ficando muito lenta para acesso aos seus conteúdos, não foi possível ser implantado na UFPE.

Um grave problema no processo de digitalização de acervos, incluindo os culturais, ainda não superado pelas tecnologias atuais, se refere ao tempo de vida útil dos conteúdos armazenados em diferentes tipos de mídias. Neste sentido, existem muitos estudos e estratégias adotadas para garantir para sempre a preservação dos diferentes acervos culturais fundamentais para garantir os conteúdos da história. A institucionalização dos processos de digitalização de conteúdos em diferentes formatos nas organizações é fundamental para não somente garantir os acervos culturais, mas também os arquivos administrativos e financeiros, que são destruídos e se deterioram ao longo do tempo. Vale destacar que acervos históricos na UFPE, incluindo-se a Faculdade de Direito de Recife, Bibliotecas, e demais centros culturais precisam de uma política e uma priorização. Estes mesmos cenários podem ser identificados em prefeituras, governos estaduais e federal, em museus, centros culturais vulneráreis e com grande risco de destruição ao longo do tempo. Outras informações também relevantes para preservação tais como os processos de servidores precisam também precisam ser priorizadas. Na UFPE foi iniciado um projeto denominado de Assentamento Funcional, que teve uma promessa de envolvimento do governo federal não cumprida e que também por falta de priorização e de recursos não conseguiu ser implantado completamente.

Plataforma PorAqui

No mundo privado foi criada uma plataforma colaborativa denominada de PorAquifocada em conteúdo e que permitia que o usuário pudesse dialogar com os demais e expor o que pensa e o que produzem, publicar notícias, histórias de seu bairro. A UFPE estava desenvolvendo um projeto que envolveria a TVU, os cursos de comunicação do Recife e do Agreste visando formar os nossos alunos neste tipo de interação descentralizada e hiperlocal com as comunidades locais, atuando para tratar formas de engajamento social, onde a cultura estaria incluída neste contexto. Com o empoderamento e engajamento das comunidades o combate às fakenews seria mais efetivo. As associações e coletivos dos bairros participariam também usando esta plataforma. Por dificuldade de sustentabilidade desta plataforma para garantir uma equipe mínima de jornalistas para atuar em parceria com a comunidade na geração e gestão dos conteúdos publicados.

Praça da Informação

O conceito de praça da informação, do Programa Temático Multi-Institucional (ProTem-CC) na área de Ciência da Computação o Ministério de Ciência e Tecnologia, dentro do escopo do Projeto Socinfo – Sociedade da Informação, coordenado pelo pesquisador Tadao Takashahi, surgiu a partir da constatação de que era preciso investir na inclusão digital e de que a desmistificação da tecnologia era uma premissa para atingir um maior número de cidadãos neste processo. Este conceito se insere na ideia do conceito de cibercultura. Um dos pré-requisitos para a inclusão é a garantia de infra-estrutura tecnológica e equipamentos digitais disponíveis para acesso e uso para todo o cidadão. A ideia da criação da praça de informação foi de criar e testar um modelo novo de praça pública voltada para a questão mais ampla da informação. É um espaço multimeios (multimídia), desmistificador no sentido de incorporar de forma integrada elementos digitais e não digitais, multifuncional, multidimensional e que precisará envolver uma multiplicidade de agentes transformadores nesta sociedade da informação.

A Pandemia Covid-19 foi indutora para a aceleração da adoção intensa de Tecnologia da Informação, Telemedicina, Home-Office, Interação da comunidade científica mundial a partir da Internet. Aplicativos para o pequeno comerciante, o impacto na cultura (Teatro, Cinema, Produções artísticas, festas populares). O prejuízo das classes mais carentes, meninos de rua, incremento de outros hábitos (maior interação de artistas e a sociedade, redes pessoais e profissionais de relacionamentos com bate papos - lives, foram incorporados na cultura da população. É importante se criar espaços como a praça da informação para que sejam coletivamente construídos para refletir, planejar e desenvolver sobre as formas para construir novos modelos de comunicação e cultura para enfrentar de forma participativa e criativa a atual situação.

4- Considerações Finais

É muito importante tanto nas escolas, como no trabalho, como em centros comunitários, nos espaços públicos, estimular as experiências híbridas para que a prática faça parte do cotidiano visando fortalecer o conhecimento e a consciência adquirida pelas pessoas e que permitam intervir com base nestas práticas. Ampliar estes espaços como parte de uma política pública cultural de âmbito nacional projetando um novo modelo inclusivo tendo o mundo digital como um aliado para construção de uma nova sociedade inclusiva, para garantir uma maior apropriação social, ampliando a cidadania com a geração de oportunidades de trabalhos colaborativos, nos processos de criação e desenvolvimento cultural.

Necessidade de estrutura de Tecnologia da Informação para se universalizar o aprendizado, incluindo digitalmente e socialmente as áreas periféricas, marginalizadas, com necessidades especiais, com baixo poder aquisitivo, carentes, analfabetas.

Desafio: Como o conhecimento do professor terá um papel importante (cultura do aprendizado)?
A construção de espaços vivos híbridos com elementos e processos virtuais e presenciais pressupõe criação de redes colaborativas.
Estas redes precisam ser interativas, transparentes e ter uma ampla visibilidade nas comunidades locais e globais. Muitos dos hábitos de nosso cotidiano estão sendo
rapidamente substituídos a partir das tecnologias da informação embutidas em diferentes produtos.
É importante atuar de forma que a tecnologia possa resolver problemas e ter impactos positivos na vida das pessoas, independente da sua faixa etária. A atuação em redes colaborativas tende a ampliar a sustentabilidade dos espaços digitais humanizados. Necessidade de se buscar as identidades culturais dos povos com as características passadas de geração em geração para estruturar a vida de um indivíduo ou de um povo. As produções culturais para transformar estruturas sociais.

Algumas perguntas precisaremos fazer: as pessoas terão visão crítica dos fatos e do que ocorre na sua vida e no mundo? O mundo digital como está sendo construído e planejado propicia esta prática? A eficiência das tecnologias digitais vai ajudar a sociedade em suas conquistas sociais? Como ficam os museus, as bibliotecas, os centros de arquivos e patrimônio cultural, os monumentos, obras de artes? as obras raras serão preservadas ou todas apenas convertidas em acervos digitais? O que poderá ou deverá ser destruído por circunstâncias naturais ou não?
As tecnologias digitais têm colocado em xeque as impressoras, as aulas presenciais, a comunicação entre as pessoas, os livros em papel. É modismo ou precisa ser incorporado aos novos hábitos?
A ação cultural dialógica para a liberdade e a revolução dialógica são os caminhos propostos por Freire, para que os homens e as sociedades possam reconquistar sua verdadeira voz num mundo humanizado. A comunicação não pode se restringir a agências de notícias, nem promotores dos gestores de um modo geral. Os conceitos de Informação, Cultura, Comunicação e Tecnologia da Informação precisam atuar de forma convergente, integrada e interoperável para ser capaz de funcionar de forma apropriada e eficiente num novo contexto multimídia, atuando com uma grande multidisciplinaridade do conhecimento, transversalidade, diversidade cultural, identidades com aspectos multifacetados.

*Décio Fonseca é engenheiro, professor e pró-reitor da Procit (Pró-Reitoria de Comunicação, Informação e TI) da UFPE.