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Cultura, Sobre a Diversidade de um Conceito- 4 - Cultura e Negritude, o caso do Programa de Extensão – GEPAR. Teoria do Afogamento

05/06/2025 -

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Rodrigo Emanuel Celestino dos Santos *
Auxiliadora Maria Martins da Silva *




Resumo:

Ao refletir a realidade com imagens culturais somos levados a pensar criticamente a respeito dos problemas presentes em nossa sociedade. A partir do marco teórico de Kabengele Munanga e Muniz Sodré, nesse contexto, chegamos à conclusão que a Negritude tem e desempenha seu papel cultural, de sorte que não há mesmo por que não aludir a ausência desse fenômeno ao afogamento de um rei,situação no xadrez onde o enxadrista tem a vez de jogar, não está em xeque, mas não tem movimentos válidos.

É como se fosse, por exemplo, estar em batalha sem portar uma arma, já que isso não traz em si, garantia de vencer a guerra.Um projeto de extensão pode trazer acuidade,nesse sentido, levando os sujeitos a entender Cultura e Negritude tal como concretamente são. Desse modo, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação (GEPAR) não é somente a expectativa de entender o corpo negro diante do papel e do conjunto cultural, mas também a luta antirracista, em seus diferentes modos.


Palavras chaves: Teoria do afogamento, Gepar, Cultura e Negritude.


Introdução

Nos segmentos culturais a Negritude partilha seus aspectos, tanto sociais quanto políticos. Sua denominação é legítima, tendo em vista que seu lugar de emergência trata da reação do movimento negro em relação ao racismo. A partir daí, não poderíamos pensar a “Branquitude”, nesse contexto, como sendo também um movimento. Uma vez que, referente à carne branca, a dominação colonial inexiste.

Com base neste paradigma, Kabengele Munangaconstróinegritude em face de compreender a lógica das relações opressoras, aportado no discurso emancipador por mãos negras, em que o negro possuiautoafirmação cultural do seu corpo à sua classe. A Negritude, portanto, possui um papel de cultura na construção da sua imagem.

Afinal, o que seria cultura para além do relativismo absoluto? Muniz Sodré identifica a cultura a partir de forças basilares e constrói um olhar articulado entre a cultura e comunicação.Assim, nesse território, o autor evita a visão tradicional, a preferir o sentido real, em vez de uma visão folclorista, que esvazia absolutamente a tradição de um povo, como feita com os africanos.

Entender essas relações e discutir sobre as problemáticas sociais, através do desenvolvimento de imagens culturais nas futuras gerações, é pertinente e necessário. Desse modo, Cultura e Negritude são fenômenos estruturadores de reconhecimento do negro no mundo, e nesta esfera, devem ser entendidas na sua abordagem crítico-reflexiva.

O que poderia ter sentido apenas num jogo de tabuleiro, de maneira metafórica, veio então a constituir-se num modo de reflexão acerca de Negritude, mais que isso, também sobre Cultura. O rei afogado, movimento tático no xadrez no qual o Rei é incapaz de se mover por estar bloqueado, por seus próprios peões, ganha reflexo abstrato.

É como se ao corpo negro, que deseja refletir sobre a questão colonial, mas que desconhece Cultura e Negritude, lhe fosse permitido pensar e inferir acerca do racismo, mas, não vivesse a plenitude da luta antirracista em virtude de estar afogado pelo seu desconhecimento. Não haveria, por exemplo, mais movimentos para o seu corpo nessa trajetória nem sentido à sua peleja.

Diante de tal panorama, no qual não entender Cultura e Negritude em sua completude é estar em xeque para combalir a sociedade discriminatória, deve permear a educação antirracista. Isto depende, sobretudo, da compreensão dessas duas manifestações de forma equânime. Importam, nesse sentido, compreender a relação entre o movimento negro e essesfenômenos.
Consolidando-se, em um percurso de fortalecimento das identidades, e naquilo descrito no ethos racial visto por Munanga (1988), onde as relações identitárias - enquanto memória —-e processo social - que de memória se alimenta - geram valores culturais, um projeto ganha destaque, nesse sentido, ao trabalhar Africanidades e Afrodescendências.

Assim, podemos perceber que o objeto em questão, Cultura e Negritude, está relacionado de forma orgânica aos bens simbólicos do GEPAR (Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação) da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), uma vez que a educação das relações étnico-raciais e construção da identidade negraestão sendo desenvolvidas.

Nessa direção, a cultura como entendida por Sodré (2000), aparece no GEPARquando o programa de extensão universitária passa a refletir a realidade com imagens culturais, fazendo com que os envolvidos sejam levados a pensar criticamente, no sentido realde significados da luta antirracista.

Desenvolvimento

O professor congolês Kabengele Munanga traz a Negritude e desvenda a interpretação complexa desse fenômeno em sua obra: Negritude – uso e sentidos.
O autor elucida as condições históricas da colonização da África, as questões de embraquecimento cultural e a epistemologia que constitui o movimento negro.

Nessa direção, podemos perceber, conforme o pesquisador, que foi difundido no Brasil o ideal de homem – branco – alicerçado em uma explicação científica – racista- que inferioriza o negro. Para chegar a tal compreensão, fatalmente, é preciso entender o processo autoafirmativo visto por Munanga (1988) vis-à-vis.
Nesse contexto, entender a Negritude consiste em perceber o processo de apagamento da cultura negra, que descaracteriza o negro fisicamente, sua língua, suas origens – surripia sua fé- e domina a sua moral em um estatuto europeuque veio desde o período colonial e perdura até os dias contemporâneos.

Tendo em vista que é fundamental a percepção desse fenômeno como é devidamente, seu significado sociocultural não pode ser dissociado. Para tanto, as
contribuições do Antropólogo Muniz Sodré trazem fundamental clareza. A cor do preconceito fica evidente, desenhado pelo discurso multiculturalista.

Assim, é necessário entender Negritude, bem como Cultura. Para Sodré (2000), nas culturas diaspóricas, a busca pelo espaço é fundamental, uma vez que o colonizador esvaziou o espaço do colonizado no tempo. Sendo assim, a existência de algo ou alguém é revivida pelos elementos culturais.

Percebe-se, dessa forma, que a Cultura amplia o alcance dos questionamentos acerca do Racismo, sua atenuação biológica e a banalização da identidade: entregue à sociedade como “solução” entre Claros e Escuros. E cabe, diante disso, a exata compreensão do arkhé, no qual a ancestralidade é reconhecida.



Durante o transcurso de uma partida de xadrez, quando a maior parte das peças já deixou o tabuleiro, é possível que um jogador fique sem um movimento legal mesmo sendo sua vez de jogar. A esse tipo de situação – no qual qualquer movimentação o colocará em xeque – se dá o nome de afogamento.

Considerando isso, para além do jogo e de suas estratégias, podemos estipular metaforicamente, que a Cultura e Negritude são fundamentais: evitando que as peças brancas afoguem culturalmente o rei negro. Àquele que desconhece esses fenômenos está, nesse sentido, afogado.


Considerações finais

Como tratar de Africanidades e Afrodescendências sem entender como se processa Cultura e Negritude no Brasil?O risco é a folclorização. O projeto GEPAR, enquanto lugar de trânsito da cultura negra, é singular ao desenvolver – de forma pluricultural – as identidades.
Ao trazer apresentações de estudantes e de artistas e grupos culturais para o espaço da UFPE, especificamente, o CE (Centro de Educação) e, em tempos pandêmicos, para as plataformas da internet, o GEPAR promove a dança negra , particularmente, promovendo o jogo do corpo negro no qual o quilombo, o terreiro e a senzala são lembrados,um elo com o passado, na manifestação de sua negritude.

Quando promove um festival um festival de música , nesse sentido, o GEPAR proporciona que a música negra fique aberta ao conhecimento do mundo, de forma a permitir uma troca entre conhecimentos científicos e saberes populares. A música, nessa direção, abole as diferenças.
Ao recorrer ao audiovisual produzido e encenado por negros, o GEPAR promove um ritual da memória negra: alegria, prazer eliberdade, numa realidade ecológica – uma viagem ao mundo natural- da diáspora ligada aos ancestrais, das culturas de arkhé, do cinema negro.

Nessa direção, ao celebrardesfile de moda africana em comemoração ao Dia Internacional da África, O GEPAR causa a desconstrução dos rígidos padrões corporais ocidentais, flexibilizando os padrões impostos ao corpo negro.

Ao criar e, mensalmente, realizar a Feira dos Pretos , o GEPAR desenvolve a tradição oral dos Afroempreendedores, em esforço para elucidar a comunicação epistemológica - que atravessa o tempo - da ciência negra: referência crucial enquanto símbolo de negritude.
As ações deste projeto, baseadas nesses conceitos, estão centradas na perspectiva antirracista, principalmente no que isso significa dentro da universidade. Suas proposições, portanto, são necessárias para a compreensão de Cultura e Negritude.

A partir do marco teórico de Kabengele Munanga e Muniz Sodré, nesse contexto, chegamos à conclusão que a Negritude tem e desempenha seu papel cultural, de sorte que não há mesmo por que não aludir a ausência desse fenômeno à jogada.

Ao tratarmos aqui, metaforicamente, do afogamento do rei, pretendemos alertar os perigos ainda existentes do desconhecimento, entendendo que Cultura e Negritude corroboram no combate ao racismo.

Por esta razão, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação (GEPAR) não é somente a expectativa de entender o corpo negro diante do papel e do conjunto cultural, mas também a luta antirracista, em seus diferentes modos.

Referências Bibliográficas

Munanga, Kabengele. Negritude – usos e sentidos. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1988. Série Princípios.

Sodré, Muniz. Claros e Escuros: Identidade, povo e mídia no Brasil. 2ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

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