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Ensaio Filosófico - Seth sem Osíris, Sísifo sem Síntese: O Colapso da Reconstrução Política no Ocidente

05/06/2025

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Por Jorge Henrique de Freitas Pinho*

Alternância sem Síntese: De Lisboa a Buenos Aires, de Washington a Brasília - quando a alternância democrática falha em produzir sabedoria histórica e degenera em ciclos de destruição sem superação.

Epígrafe

"Quando os contrários deixam de gerar sínteses, resta-nos apenas o pêndulo vazio da repetição."
— Jorge Pinho





1. Introdução – Quando Alternância Deixa de Ser Progresso

Em teoria, a alternância democrática é o motor do aperfeiçoamento político. Permite que diferentes visões de mundo se revelem, que erros sejam corrigidos e que novas sínteses civilizatórias emerjam a partir do confronto respeitoso entre o que foi, o que é e o que pode ser. No entanto, há momentos históricos em que essa alternância se converte numa repetição cíclica de destruições, num revezamento entre projetos inconclusos e narrativas inconciliáve...

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Por Jorge Henrique de Freitas Pinho*

Alternância sem Síntese: De Lisboa a Buenos Aires, de Washington a Brasília - quando a alternância democrática falha em produzir sabedoria histórica e degenera em ciclos de destruição sem superação.

Epígrafe

"Quando os contrários deixam de gerar sínteses, resta-nos apenas o pêndulo vazio da repetição."
— Jorge Pinho

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1. Introdução – Quando Alternância Deixa de Ser Progresso

Em teoria, a alternância democrática é o motor do aperfeiçoamento político. Permite que diferentes visões de mundo se revelem, que erros sejam corrigidos e que novas sínteses civilizatórias emerjam a partir do confronto respeitoso entre o que foi, o que é e o que pode ser. No entanto, há momentos históricos em que essa alternância se converte numa repetição cíclica de destruições, num revezamento entre projetos inconclusos e narrativas inconciliáveis — e, então, a democracia adoece.

Em diversas nações do Ocidente, tanto na Europa quanto nas Américas, o que se observa não é mais uma sucessão dialética de avanços e correções, mas uma oscilação infrutífera entre polos que se alternam sem se ouvir, sem integrar, sem aprender. Cada novo governo, em vez de herdar o que funciona e aprimorar o que falta, recomeça do zero, destruindo o anterior como se a verdade nascesse da negação, e não da superação. É o retorno do mito de Sísifo, condenado a reiniciar eternamente sua tarefa sem jamais alcançar o cume. Ou, em termos mais profundos, a repetição da violência de Seth, que destrói Osíris, sem jamais permitir que Ísis o reconstrua — símbolo da ruptura sem redenção.

A essa ausência de síntese, Hegel chamaria de fracasso dialético. Pois onde a tese e a antítese deveriam fecundar uma nova forma mais elevada, vê-se apenas a recusa mútua e o desperdício do tempo histórico. Não há Aufhebung. Há apenas alternância sem transcendência, governo sem legado, poder sem sentido.

Este ensaio parte dessa constatação para analisar a realidade política e fiscal de seis países ocidentais — Portugal, França, Alemanha, Brasil, Estados Unidos e Argentina — não para julgá-los moralmente, mas para compreendê-los em profundidade. O que os une não é a ideologia dominante, mas o déficit de síntese civilizacional, que se manifesta ora como desgaste institucional, ora como hipertrofia do Estado, ora como colapso moral da elite dirigente.

Não se trata, aqui, de defender uma ideologia contra outra, mas de revelar que, em muitos casos, a esquerda destrói mais do que a direita consegue reconstruir — e a direita, por sua vez, não é capaz de proteger o que edifica, nem de oferecer um horizonte simbólico suficiente para evitar a revanche. A história, então, transforma-se em campo de batalha estéril, onde o futuro é adiado por sucessivos retrocessos travestidos de progresso.

Como dizia Montaigne, “governar é servir a alma de um povo, não seus apetites passageiros”. E como alertava Viktor Frankl, o que falta ao mundo moderno não é liberdade, mas sentido. Este texto propõe-se, portanto, a examinar não apenas o que cada país fez ou deixou de fazer — mas o que cada um se tornou, ao perder a capacidade de aprender com o próprio passado.

Não se trata, portanto, de propor a eliminação da alternância ou de demonizar um dos polos ideológicos. Por mais imperfeita que seja, a possibilidade de alternância entre visões de mundo ainda é um antídoto vital contra o autoritarismo — de esquerda ou de direita.

Nenhuma síntese será possível onde não há escuta, dissenso e liberdade. A crítica aqui empreendida não é contra a democracia em si, mas à sua degradação em ciclo infrutífero, à sua conversão em revezamento estéril entre forças que, ao invés de se superarem mutuamente, apenas se vingam.

O que este artigo propõe, em essência, é um convite à reflexão filosófica: será possível restaurar o impulso hegeliano da história — aquela capacidade de produzir sínteses que elevem o espírito humano, ao invés de esmagá-lo entre a repetição e o ressentimento?

Essa é a aposta civilizacional que precisa ser resgatada. Não para apagar as diferenças, mas para transcendê-las com lucidez, memória e responsabilidade. Enquanto isso não ocorre, o Ocidente permanece entre a exaustão de Sísifo e a destruição de Seth — sem que Osíris renasça, sem que o Espírito encontre sua forma racional na política.

2. Nota Simbólica – Sísifo, Osíris, Shiva: As Faces da História Sem Síntese

A linguagem simbólica não é uma fuga da razão — é sua mais alta forma de expressão. Onde o discurso político se empobrece em estatísticas e slogans, os mitos preservam as verdades profundas da condição humana. Este ensaio utiliza três imagens arquetípicas — Sísifo, Osíris e Shiva — para iluminar o drama filosófico vivido pelas democracias ocidentais contemporâneas: o da alternância sem transcendência, da destruição sem legado, e da criação impossibilitada por ausência de síntese.

2.1. Sísifo – o esforço político sem finalidade

Na mitologia grega, Sísifo é condenado pelos deuses a empurrar eternamente uma pedra montanha acima, apenas para vê-la rolar de volta ao ponto de partida. Seu castigo é o da repetição sem resultado, o da luta desprovida de sentido.

Nesta imagem, vemos refletida a condição de algumas democracias da atualidade que alternam governos sem produzir elevação, que constroem apenas para destruir, e destróem apenas para vingar — sem memória, sem legado, sem espírito.

Sísifo é a política contemporânea privada de telos: movimento incessante, mas sem direção.

2.2. Osíris, Ísis e Seth – a ruptura da ordem sem reconstrução

No mito egípcio, Seth assassina seu irmão Osíris, esquarteja seu corpo e espalha seus pedaços pelo mundo. Ísis, esposa de Osíris, representa o princípio feminino da fidelidade, da memória e da sabedoria: é ela quem recolhe os fragmentos e possibilita a ressurreição.

Neste ensaio:

Osíris simboliza a herança civilizacional, a ordem construída com esforço ao longo do tempo;

Seth, as forças políticas que destroem essa ordem por inveja, ressentimento ou ambição facciosa;

Ísis, aquilo que falta à nossa era: a consciência simbólica, a capacidade de restaurar o que foi partido, integrar os opostos e gerar vida a partir do caos.

Sem Ísis, não há regeneração — só entropia e decadência. O triunfo de Seth, sem a reconstrução de Osíris, é o símbolo da política moderna reduzida a guerra de narrativas e silenciamento recíproco.

2.3. Shiva sem Brahma – destruição sem criação

Na tradição hindu, Shiva é o deus da destruição transformadora, o dançarino cósmico que dissolve formas para permitir o renascimento. Mas sua função só faz sentido quando está em harmonia com Brahma, o deus da criação, e Vishnu, o da preservação.

Uma destruição sem propósito — sem Brahma e sem Vishnu — deixa apenas o vazio. E o mundo moderno está cheio de “Shivas” ideológicos que queimam sem plantar, criticam sem reconstruir, desfazem sem oferecer um novo sentido.

Quando governos ou partidos se dedicam apenas a desmontar estruturas, sem visão fundadora, sem proposta de mundo, sem sentido de totalidade, tornam-se expressões de uma destruição estéril — não sagrada, mas cínica.

2.4. A síntese perdida: Hegel ausente

Esses três mitos convergem num ponto filosófico fundamental: a ausência da síntese. Na dialética de Hegel, o progresso se dá quando:

Uma tese (ordem estabelecida),

É confrontada por uma antítese (força de contestação),

E ambas são superadas e preservadas numa síntese mais elevada, que integra o valor de cada polo.

Mas quando a antítese destrói a tese sem aprender com ela, e a nova ordem se instala sem preservar nada do que a precedeu, não há síntese — há recomeço sem sabedoria, alternância sem aprendizado, história sem espírito.

É isso que se repete em tantos países: governos que se revezam como Sísifo; elites que agem como Seth; ideólogos que dançam como Shiva em meio aos escombros — mas onde está Ísis? onde está Brahma? onde está Hegel?

Com essa chave simbólica e filosófica em mãos, o leitor poderá compreender que este ensaio não é apenas uma crítica política — mas um apelo civilizacional. Não se trata de escolher entre esquerda e direita, mas de clamar por uma superação que restaure o sentido da política como arte da construção do bem comum.

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3. Portugal e a Dialética Desfigurada: Construir para que se Destrua?

Portugal é um caso emblemático da alternância democrática que se realiza sem maturação histórica. Desde o fim do salazarismo e a redemocratização em 1974, o país reconstruiu suas instituições com notável estabilidade. No entanto, ao longo das últimas décadas, o que se observa é que a alternância entre os principais blocos — Partido Socialista (PS) e Partido Social Democrata (PSD) — não tem produzido síntese dialética, mas sim descontinuidade estrutural e desgaste simbólico.

Assim, Portugal, como muitos países europeus, vive sob o peso de uma estrutura estatal volumosa, cuja expansão foi naturalizada após o pós-Guerra e reforçada no pós-Revolução dos Cravos. A ideia de um Estado forte, presente e redistributivo passou a ser vista como condição de justiça, ainda que, na prática, tenha resultado em déficits crônicos, entraves burocráticos e um setor produtivo asfixiado por encargos e instabilidade normativa.

O PSD, identificado com a centro-direita, historicamente assumiu o papel de “reformador relutante”: tenta conter o crescimento do Estado, racionalizar gastos e incentivar alguma liberdade econômica — sem romper, no entanto, com o espírito intervencionista que moldou o país no pós-Guerra. O PS, por sua vez, volta-se reiteradamente ao expansionismo estatal, à redistribuição sem ganho de produtividade e ao uso da máquina pública como meio de afirmação ideológica — um uso que, em certos aspectos, ecoa a lógica centralizadora e doutrinária do Estado Novo salazarista, embora agora travestida de vocabulário democrático.

Não obstante, desde a Revolução dos Cravos, a cada ciclo, o que foi reconstruído sob esforço fiscal e racionalidade é desfeito em nome de uma justiça social de superfície, frequentemente ancorada no aumento de impostos e na multiplicação dos encargos burocráticos.

O resultado é uma sociedade que oscila entre a esperança de reformas e o cansaço cívico diante de promessas recicladas. Muitos cidadãos, pressionados por uma carga tributária crescente e por um custo de vida que se multiplica sem explicação proporcional, recorrem à informalidade como mecanismo de sobrevivência. É o paradoxo de um Estado que se agiganta para prover, mas termina por expulsar a vitalidade econômica que deveria sustentar seu próprio funcionamento.

Esse vaivém tem um custo profundo. O Estado português torna-se cada vez mais pesado e presente, mas menos eficiente e confiável. O cidadão médio, esmagado entre tributos, taxas e tarifas, começa a buscar mecanismos de sobrevivência à margem do sistema: trabalhos informais, pagamentos sem recibo, pequenos gestos de evasão que, somados, revelam o esgotamento da confiança cívica. A informalidade não é aqui fruto de má-fé — é um grito silencioso contra a assimetria entre o que se paga e o que se recebe.

Essa dinâmica configura, na prática, uma dialética desfigurada: a tese (reformas e contenção) é seguida por uma antítese (expansão e gasto), mas nenhuma das fases aprende com a anterior. O que se repete é o conflito — não a elevação. Portugal vive assim um ciclo de destruição sem transcendência, onde o esforço de um governo é desfeito pelo próximo, sem que se construa uma visão de Estado que seja cumulativa, coerente, duradoura.

E como toda desfiguração simbólica, essa também tem seus efeitos morais: o país que ensinou ao mundo o sentido da travessia, hoje vê sua juventude buscando saída em outras terras, e seu povo resignando-se à sobrevivência, não à esperança. O que se destrói não é apenas a política — é a alma de continuidade que dá sentido ao sacrifício coletivo.

Portugal precisa reencontrar Ísis, Brahma, Hegel. Precisa de lideranças capazes não apenas de alternar, mas de reconhecer o valor do que veio antes — para poder superar com justiça, não com vingança. Precisa de um novo espírito político que compreenda que governar não é apagar o outro, mas integrar a verdade que ele carrega, mesmo quando imperfeita.

Sem essa síntese, restará a repetição estéril — e Sísifo, de novo, empurrará sua pedra.

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4. França e Alemanha: Dois Caminhos Opostos dentro da Mesma Europa

A Europa, berço da razão ocidental e da política moderna, oferece contrastes reveladores. Ao observar França e Alemanha, dois pilares históricos da civilização europeia, percebe-se que mesmo entre vizinhos que compartilham laços culturais profundos e instituições democráticas maduras, os caminhos trilhados diante da tensão entre Estado, sociedade e poder revelam posturas radicalmente distintas diante do tempo, da memória e do sentido do progresso.

4.1. França: O Esplendor da Forma e a Falência da Síntese

A França carrega consigo a herança simbólica das revoluções, dos ideais universais e de uma concepção quase estética — quase sacral — do Estado. É o país onde a política, mais do que gestão, sempre foi gesto: um ato de afirmação filosófica, civilizacional, quase litúrgico.

No entanto, o modelo político francês contemporâneo sofre de um paradoxo crescente: um gigantismo estatal que consome mais do que entrega, aliado a uma cultura de mobilização permanente, onde qualquer tentativa de reforma se converte, inevitavelmente, em embate ideológico e contestação de princípio. A razão pública foi substituída por trincheiras simbólicas, e o pacto social, por antagonismos morais.

A carga tributária — entre as mais altas da Europa — penaliza severamente o trabalho, o consumo e a produção, especialmente entre a classe média. Ao mesmo tempo, o retorno em serviços públicos, embora presente, é afetado por ineficiências sistêmicas e pela fragmentação social crescente.

A sucessão de governos (de direita, centro e esquerda) não resultou em síntese, mas em sobreposição de políticas inconclusas, muitas vezes marcadas por:

Reforma sem continuidade,

Expansão fiscal sem base produtiva,

Promessas universalistas sem enraizamento comunitário.

A crise dos “coletes amarelos” não é um surto isolado — é o sintoma de uma fratura entre o Estado parisiense e a alma das províncias, entre a elite tecnocrática e a realidade vivida pelos cidadãos comuns. A República, ao tornar-se abstrata demais para ser sentida e concreta demais para ser reformada, perdeu sua capacidade de reconciliação. E o que resta é um país em constante oscilação entre o orgulho e o colapso.

A França transformou-se, simbolicamente, em um espaço onde Seth domina o discurso — e Ísis é esquecida em nome da razão pura. O espírito revolucionário, que um dia libertou, agora paralisa. E a síntese hegeliana é rejeitada, pois cada polo político insiste em ser fim em si mesmo, e não meio para uma verdade mais alta.

4.2. Alemanha: A Ordem como Patrimônio, a Prudência como Método

A Alemanha, por outro lado, enfrentou sua história com o peso da culpa e a lucidez da reconstrução. Após a barbárie do século XX, forjou um modelo político baseado na disciplina fiscal, na descentralização federativa e na valorização do dever como forma de ética pública. Não por acaso, é o país que melhor encarnou, até aqui, a dialética concreta de Hegel — o avanço que integra a dor, a crise e a negação num novo estágio de racionalidade institucional.

Mesmo em meio às pressões da União Europeia, à chegada de imigrantes e à crise energética, a Alemanha manteve — até recentemente — uma política de Estado estável, que respeita o pacto intergeracional, a prudência fiscal e a autonomia produtiva. O resultado foi uma sociedade com forte senso de coesão, que percebe a tributação como contrato, e não como confisco.

No entanto, essa herança começa a sofrer erosões. A entrada de correntes ideológicas transnacionais, o avanço da censura sutil sob a bandeira da tolerância e a crescente perda de coesão cultural colocam a Alemanha diante de um novo desafio:

Como preservar o espírito hegeliano de síntese sem ceder ao peso de novas pressões morais e políticas que exigem ruptura sem prudência?

4.3. Entre Paris e Berlim: O Desafio da Europa

A França e a Alemanha, juntas, expressam dois rostos da crise europeia:

A França, quando destrói sem reconstruir.

A Alemanha, quando reconstrói, mas hesita diante da nova ruptura.

Se uma despreza a continuidade, a outra teme romper até mesmo onde seria necessário inovar. Em ambas, o perigo é o mesmo: o esvaziamento do centro racional da política e a substituição da dialética pela polarização.

A Europa que um dia ensinou ao mundo o que era liberdade, responsabilidade e razão, hoje precisa reaprender o valor da síntese — não como conciliação covarde, mas como expressão superior do espírito político. O risco não está na divergência entre França e Alemanha, mas na perda da capacidade de gerar, entre elas, um novo logos europeu.

5. Estados Unidos: A Superpotência em Guerra Contra Si Mesma

Nenhuma civilização moderna incorporou tão profundamente a ideia de liberdade como fundamento da ordem quanto os Estados Unidos da América. Fundados sob o princípio do equilíbrio entre poder e virtude — com um sistema de freios e contrapesos herdado de Montesquieu e reconfigurado por Madison e Hamilton —, os EUA emergiram como a síntese moderna entre república, mercado e religiosidade civil.

No entanto, nas últimas décadas, o que se observa é a decomposição desse centro dialético. A república americana já não é sustentada por um ethos comum, mas por forças que disputam a linguagem, o passado e até mesmo a realidade compartilhada. A alternância política, que deveria produzir aprendizado institucional, passou a ser vivida como revanchismo existencial. A democracia se mantém na forma, mas o conteúdo do diálogo público degenerou em um conflito simbólico entre universos inconciliáveis.

5.1. Direita populista e esquerda identitária: o duplo abandono da síntese

A polarização nos EUA não é apenas política — é ontológica. A nova esquerda, representada pelo partido Democrata, progressista e identitária, substituiu o ideal da igualdade perante a lei por uma lógica de reparação constante, baseada em categorias raciais, de gênero e orientação. O indivíduo deixa de ser cidadão para se tornar porta-voz de um grupo ressentido. O Estado, antes limitado, torna-se reeducador moral.

A nova direita composta pelo PartidoRepublicano, por sua vez, abandonou o espírito conservador clássico — prudente, institucional, constitucionalista — para aderir a um populismo reativo, que transforma a desconfiança legítima em negação sistemática, e a crítica ao globalismo em justificação para rupturas. Trump não inventou esse fenômeno; apenas o encarnou de forma espetacular.

Ambos os polos — embora opostos — compartilham uma mesma falência filosófica:
recusam o legado comum como ponto de partida para o futuro. Um nega a história em nome do progresso; o outro nega o presente em nome de um passado idealizado. Nenhum quer superar — ambos querem substituir.

5.2. O colapso fiscal americano e o Estado desfigurado

Nesse ambiente de fragmentação, a política fiscal torna-se refém da guerra cultural.

Os gastos públicos explodem sob ambos os partidos — seja para financiar subsídios sociais, seja para ampliar o aparato militar ou sustentar cortes tributários sem lastro.

O endividamento público dos EUA ultrapassa níveis históricos, mas o tema é secundário: o eleitor médio vota por identidade, não por responsabilidade.

A esquerda governa prometendo justiça histórica, a direita governa prometendo vingança institucional. Em nenhum caso há projeto de reconstrução coesa do país real — há apenas acenos simbólicos à base emocional que sustenta cada lado.

5.3. A morte do centro e a crise do espírito republicano

O que morre nos Estados Unidos não é apenas o consenso político — é o espírito republicano. O modelo americano, que sempre valorizou a liberdade como responsabilidade, está sendo corroído por um hiperindividualismo de um lado e um coletivismo ressentido de outro.

O resultado é um país que permanece formalmente livre, mas espiritualmente em guerra. A Constituição sobrevive — mas já não inspira. O Estado permanece — mas já não une. A sociedade se fragmenta em bolhas simbólicas que já não compartilham linguagem, nem pátria, nem telos.

A síntese, que antes se realizava no "melting pot", tornou-se impensável. A alternância entre democratas e republicanos, que deveria assegurar correções mútuas, degenerou em sabotagem recíproca. O sonho americano transformou-se em arena: um império sem alma, uma superpotência sem espírito comum.

6. Brasil: O Pêndulo do Ressentimento e a Tragédia da Não-Síntese

Poucos países encarnam com tanta clareza a oscilação inconclusa entre promessa e frustração quanto o Brasil. Terra de potencial continental, com riquezas naturais vastas e uma diversidade humana incomparável, o país jamais encontrou uma forma política capaz de harmonizar liberdade, ordem e justiça. A alternância democrática, em vez de produzir aprendizado coletivo, tornou-se um revezamento entre projetos inconciliáveis, cada um mais interessado em apagar os traços do anterior do que em construir sobre suas fundações.

O que se chama de “polarização” no Brasil é, na verdade, um processo de substituição simbólica contínua, em que cada força política governa como se fosse refundar o país — e não aperfeiçoá-lo. Não há espírito de continuidade. Não há legado a ser respeitado. Cada novo ciclo começa como se nada tivesse vindo antes, exceto erros a serem denunciados e instituições a serem instrumentalizadas.

6.1. Esquerda distributiva e direita racionalizadora: duas metades que não se encontram

A esquerda brasileira, capitaneada pelo petismo e seus satélites, consolidou um modelo de redistribuição com viés ideológico. Amparada por discursos de reparação histórica e inclusão social, ela expandiu o Estado, ampliou benefícios, inchou a máquina e normalizou práticas de aparelhamento institucional — tudo isso sem contrapartida estrutural de produtividade ou mérito. Quando a economia mundial favorecia, colheu prestígio. Quando a realidade impôs seus limites, entregou inflação, endividamento, corrupção sistêmica e desconfiança moral.

A direita, por sua vez, raramente governa com tempo suficiente para consolidar reformas. Tenta, em geral, aplicar medidas de contenção fiscal, liberalização econômica e racionalidade orçamentária — mas enfrenta resistência feroz de um sistema que vive da dependência do Estado. Quando assume, como no ciclo recente de 2019 a 2022, precisa governar sob cerco institucional, sabotagem midiática e judicialização permanente, o que impede a maturação das reformas.

A esquerda destrói o que não entende; a direita não consegue proteger o que constrói.
E assim, como num relógio de areia, o Brasil volta sempre ao ponto de partida — só que com mais pobreza, mais cansaço e menos esperança.

6.2. A máquina que se alimenta da própria inércia

Por trás desse pêndulo, opera uma estrutura que sobrevive de sua própria paralisia: um Estado lento, pesado, desproporcional ao que entrega — mas eficiente em proteger privilégios. A elite burocrática, blindada por estabilidade e benefícios, tornou-se uma casta indiferente ao país real. A classe política, por sua vez, oscila entre fisiologismo e populismo, raramente oferecendo projetos de país — apenas estratégias de poder.

A classe média, esmagada por tributos, desconfia do futuro; os pobres, dependentes de transferências, temem qualquer mudança; os ricos, protegidos por consultores e brechas legais, financiam o sistema que os imuniza. O resultado é um pacto de imobilismo em que todos perdem algo — mas ninguém ousa romper.

6.3. A ausência de síntese como tragédia civilizacional

O que falta ao Brasil não é ideologia: é projeto histórico. Falta-lhe uma consciência nacional que compreenda que a política não é guerra de posições, mas reconciliação possível entre vocações divergentes. Não se trata de escolher entre redistribuir ou crescer, mas de superar a falsa dicotomia que paralisa o país há décadas.

A tragédia brasileira é hegeliana às avessas: temos a tese (ordem, mérito, responsabilidade), temos a antítese (inclusão, justiça, redistribuição), mas nunca alcançamos a síntese — porque nos falta o espírito que reconhece o valor parcial de cada lado e os integra num projeto superior.

Enquanto isso, Sísifo empurra a pedra no Planalto, e Seth reina nas ruínas da República. Ísis está em exílio, e Osíris permanece esquartejado em gabinetes, pareceres e votos vencidos.
O Brasil não precisa de um salvador. Precisa de um espírito.

7. Argentina: O Cemitério das Tentativas

A Argentina é o exemplo mais trágico da América Latina de uma história interrompida por ela mesma. No início do século XX, figurava entre as economias mais promissoras do mundo, com uma sociedade urbana e letrada, uma agricultura pujante e uma elite intelectual conectada à Europa. Tudo parecia apontar para um destino de grandeza.

Entretanto, o país escolheu um caminho que o tornou prisioneiro de suas próprias promessas não cumpridas. A alternância política, em vez de maturar instituições, gerou um ciclo de sabotagem entre populismo e racionalidade, no qual nenhuma tentativa de reforma sobrevive ao retorno da velha ordem clientelista. A política argentina é o laboratório do eterno retorno — mas sem aprendizado, sem elevação, sem tragédia digna de catarse. Apenas repetição, agora com fadiga.

7.1. O peronismo como estrutura de dessintetização

O fenômeno do peronismo, embora tenha nascido com pretensões nacionalistas e sociais, tornou-se, ao longo do tempo, um dispositivo de conservação do atraso, sustentado pela criação de dependências artificiais entre o povo e o Estado. Sob o manto da proteção social, o que se instituiu foi uma cultura política personalista, emocional e avessa a qualquer lógica de responsabilidade institucional.

Mesmo quando partidos opositores assumem o poder com agendas liberais ou reformistas, como nos casos de De la Rúa, Macri ou agora Javier Milei, o que enfrentam é um Estado aparelhado, sindicatos radicalizados, corporações burocráticas entrincheiradas — e uma população cansada demais para defender reformas antes que seus frutos apareçam. E como todo esforço político exige tempo, mas o populismo entrega promessas imediatas, os ciclos racionais são sempre interrompidos antes de frutificar.

7.2. O presente: um grito liberal dentro de um corpo antiliberal

Com Javier Milei, a Argentina dá um salto paradoxal: um libertário no comando de um Estado moldado para impedir qualquer ideia de liberdade estrutural. Seu discurso — radicalmente antissocialista e anticasta — é recebido como heresia por um sistema que vive da manutenção do privilégio estatal.

Ainda que suas propostas tenham coerência interna (cortes profundos, privatizações, redução de ministérios), ele enfrenta uma realidade objetiva: o país já não é reformável sem dor.

E o argentino médio, moldado por décadas de tutela simbólica, já não distingue entre liberdade e abandono, nem entre reforma e retaliação.

O risco é que o grito de Milei, ainda que legítimo, seja tragado pelo deserto institucional e transformado em mais uma tentativa malograda — e, com isso, o próprio desejo de reconstrução desapareça da cultura cívica. O sistema político, ao falhar reiteradamente, gera um niilismo coletivo: a convicção de que nada mais dará certo. E quando essa ideia se instala, o espírito nacional já não deseja reformas — deseja sobrevivência.

7.3. Argentina: a terra onde Osíris já não quer ressuscitar

A tragédia argentina é que ela não alterna entre construção e destruição. Alterna entre tentativas de reconstrução e colapsos organizados. Seth não destrói uma estrutura estável — ele impede que qualquer estrutura se consolide. E Ísis, cansada de juntar pedaços, já não os busca. O corpo de Osíris se perde no pampa do desencanto.

Hegel, aqui, não encontra lugar: a história não avança por superações, mas afunda em repetições que já não prometem nada. O Estado é frágil, o mercado é sufocado, e a sociedade vive entre a nostalgia e a fúria.

A Argentina não é apenas um país em crise. É um espelho invertido da modernidade: um lugar onde todas as promessas do Ocidente foram feitas — nenhuma foi cumprida e todas estão sepultadas.

7.4. Recoleta: o túmulo da síntese argentina

Nenhuma metáfora exprime melhor essa tragédia silenciosa do que o Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires. Ali jazem presidentes, generais, poetas, cientistas, empresários e artistas — os nomes que moldaram, cada qual a seu modo, a alma argentina. Seus túmulos, adornados com mármores, esculturas e inscrições eloquentes, testemunham o passado de um país que já foi catedral cultural da América Latina.

Mas caminhar pela Recoleta é também perceber que a grandeza argentina está, em grande parte, petrificada no passado. É como se o país, incapaz de realizar o que projetou, tivesse se dedicado a construir mausoléus para seus ideais.

A Argentina transformou sua história em pedra — não em ponte.

Os nomes ali sepultados — de Eva Perón a Sarmiento, de Alfonsín a grandes intelectuais — não se tornaram fundamentos vivos de um projeto contínuo, mas ícones fragmentados de um país que não sabe reconciliar suas partes. Seth reina com solenidade. Ísis recolheu-se. Osíris, embalsamado, repousa entre colunas neoclássicas — não para ressurgir, mas para ser lembrado como lenda.

Recoleta, portanto, não é apenas um cemitério físico — é um cemitério simbólico de uma Argentina que já foi promessa continental, mas que, diante de tantas rupturas, fez da memória um monumento, não um ponto de partida.

8. Filosofia do Abismo: Quando a Democracia Perde sua Alma

A democracia, em sua concepção mais nobre, é um regime do espírito — não apenas da forma. Ela se sustenta não no simples rodízio de partidos, mas na possibilidade de que o poder seja exercido como expressão temporária de um projeto comum, jamais como domínio sobre a história ou como vingança contra o outro. Quando essa noção é perdida, a democracia não se extingue juridicamente — ela adoece simbolicamente.

Os casos aqui analisados — Portugal, França, Alemanha, Estados Unidos, Brasil e Argentina — demonstram, cada qual à sua maneira, que a alternância no poder, sem síntese, degenera em esvaziamento existencial. O Estado sobrevive, mas o sentido civilizacional se dissolve. A cidadania permanece, mas o vínculo espiritual entre o povo e sua história se rompe.

8.1. A perda do telos: entre fragmentação e ressentimento

O traço comum entre essas democracias é o esquecimento do telos político: Portugal tenta recomeçar a cada ciclo, mas sem construir continuidade.

França idolatra o passado revolucionário, mas rejeita qualquer projeto comum de futuro.

Alemanha teme inovar por respeito à prudência, mas corre o risco de estagnar por excesso de cautela.

Os Estados Unidos vivem uma guerra cultural que transformou a política em arena de identidades, e a Constituição em documento litúrgico sem alma viva.

O Brasil, por sua vez, não sintetiza: alterna ressentimentos, cada lado vivendo o poder como revanche simbólica.

E a Argentina, enfim, caminha entre ruínas com altivez melancólica, como quem sabe que foi grande, mas já não acredita poder sê-lo novamente.

O que une todos esses casos é o afastamento da política em relação ao espírito. A democracia deixou de ser projeto moral coletivo e passou a ser técnica de dominação institucionalizada ou discurso de justiça instrumentalizada. Nessa ausência de sentido comum, as forças políticas já não se confrontam em nome do bem maior, mas se anulam mutuamente para manter o jogo girando — mesmo vazio.

8.2. A dialética traída: sem tese, sem antítese, sem superação

Hegel ensinava que a história avança por meio do embate entre contrários, cujas tensões são superadas numa nova forma, mais elevada, mais inclusiva, mais verdadeira. Mas o que observamos no Ocidente contemporâneo é uma trágica inversão desse processo:

A tese é descartada como opressora;

A antítese é absolutizada como redentora;

E a síntese nunca acontece — porque nenhum dos lados reconhece no outro qualquer valor digno de preservação.


O resultado é o eterno retorno da não-superação. A política converte-se num ciclo estéril, e o povo, num espectador fatigado que já não crê que o jogo possa gerar algo além de frustração.

8.3. Sísifo, Seth, Shiva: o espírito fragmentado da modernidade

É nesse ponto que os arquétipos resgatados neste ensaio ganham sua plenitude simbólica: Sísifo, que empurra a pedra da reconstrução sem jamais alcançar o cume — metáfora da política feita sem memória e sem espírito;

Seth, que destrói a ordem com fúria cega — imagem dos governos que anulam o anterior por orgulho, medo ou ideologia;

Shiva, que dança a destruição em um mundo sem Brahma — sem criação, sem horizonte, sem nova fundação.


Em todos eles, falta Ísis: a consciência restauradora, a sabedoria amorosa, a memória espiritual que não repete, mas recolhe e eleva.

E falta Hegel: o mestre do espírito que reconhece que sem negação não há avanço, mas sem preservação também não há civilização.

8.4. A democracia sem alma é apenas um mecanismo: funcional, mas desumanizado

Por isso, este não é um ensaio nostálgico, nem cínico, nem partidário. É um chamado à elevação do olhar político.

A política não pode mais ser o campo das promessas impossíveis ou das repetições ressentidas. Ela precisa voltar a ser aquilo que Aristóteles e Confúcio vislumbraram: a arte de ordenar a cidade segundo a justiça e o bem comum, guiada por virtude e prudência.

Sem alma, a democracia continuará existindo — mas como um corpo sem espírito, como uma cerimônia sem fé.

9. Conclusão – A Reconstrução como Projeto Filosófico

Diante do diagnóstico apresentado, não nos resta o lamento — mas a escolha do que fazer com a consciência que agora possuímos. Não é mais possível negar que a alternância democrática, quando não se eleva à altura da história, degenera em ciclo de destruições. Tampouco é legítimo romantizar regimes autoritários como solução para esse esgotamento. O que se impõe é uma terceira via — não política, mas filosófica.

Essa via exige um gesto de maturidade coletiva: reconhecer o valor da alternância, mas denunciar a ausência de síntese; proteger a democracia, mas exigir que ela reencontre sua alma.

A reconstrução não será feita por slogans, nem por messias, nem por tecnocratas. Será feita por homens e mulheres capazes de pensar com profundidade e agir com espírito — não com cálculo eleitoral. O que falta não é inteligência: é grandeza. Não é planejamento: é telos. E, acima de tudo, não é ideologia: é vontade de integrar e elevar.
9.2. A democracia como ponte — não como pêndulo

Este ensaio não propõe o fim do jogo democrático, mas o fim de sua banalização. Alternar entre esquerda e direita pode ser saudável — desde que não se destrua o que foi construído, desde que se reconheça o valor parcial do outro, desde que o país avance, ainda que em direções alternadas.

A política só cumpre seu papel civilizacional quando aceita que nenhum lado possui toda a verdade — mas que cada lado carrega um pedaço dela. A democracia torna-se virtuosa quando as teses opostas não se anulam, mas se transformam em síntese — e essa síntese, por sua vez, prepara o terreno para uma nova elevação.

Essa era a sabedoria de Hegel. E é essa sabedoria que falta ao Ocidente.
9.3. Recuperar Ísis, invocar Brahma, reencontrar o Espírito

Se queremos escapar do eterno retorno da estagnação, precisamos resgatar as figuras esquecidas deste ensaio:

Ísis, como símbolo da inteligência que restaura o que foi partido;

Brahma, como imagem da criação espiritual que gera um novo mundo após o colapso;

Hegel, como mestre da síntese que não anula, mas integra;

E, por fim, o próprio Logos — o princípio que dá ordem ao caos e sentido ao tempo.


Porque sem espírito, a política é só cálculo.
Sem síntese, a alternância é só revanche.
E sem memória, o povo é só massa — não nação.

9.4. Última palavra: entre cinismo e esperança, escolhemos o Logos

A travessia civilizacional que se avizinha será longa. Os sintomas do colapso já estão em curso: endividamento crônico, esgotamento moral, relativismo absoluto, repressão velada da divergência e banalização da liberdade. Mas, como ensinava Viktor Frankl, “quanto maior a crise, mais urgente é a busca por sentido.”

A esperança verdadeira não é ilusão — é lucidez ativa. É reconhecer a tragédia sem se deixar paralisar por ela. É saber que Seth existe, mas que Ísis ainda pode reconstruir.
É lembrar que, se Sísifo carrega a pedra, é porque a montanha ainda existe.

E que, por mais longa que seja a noite, o Espírito — se invocado com verdade — ainda pode renascer.

10. Epílogo – A Apatia como Renúncia: Quando o Silêncio se Torna Cúmplice

A política, quando desprezada, não desaparece — ela se entrega aos que não a desprezam. E estes, nem sempre guiados por virtude ou projeto comum, mas muitas vezes apenas por ambição pessoal, ocupam os espaços que a cidadania vazia deixou. Assim, a apatia não é neutralidade: é abdicação. É silêncio que autoriza. É ausência que convida a captura.

A crescente descrença com a política — compreensível diante de tantos escândalos, ineficiências e traições — não pode se converter em cinismo coletivo. Pois é exatamente esse vazio, esse desencanto convertido em desistência, que abre caminho para o domínio dos que sabem organizar votos sem representar verdadeiramente o povo.

Os números são claros e inquietantes:

Portugal, berço de tantas lições civilizacionais, figura entre os países com os piores índices de participação eleitoral na Europa democrática. Na eleição legislativa de 2025, 41,7% dos portugueses se abstiveram de votar — e já foram mais de 50% em 2019.

No Brasil, mais de 31 milhões de eleitores não compareceram às urnas em 2022.

Na Argentina, a abstenção nas primárias de 2023 atingiu o recorde de 30%, com um país exaurido de tantas promessas frustradas.

Nos Estados Unidos, ainda que a eleição de 2020 tenha registrado um comparecimento histórico, um terço da população permaneceu ausente de um dos pleitos mais decisivos da história recente.

Democracias esvaziam-se não apenas pela tirania dos poderosos — mas também pela indiferença dos justos.

E aqui reside o perigo mais sutil: quando o cidadão comum abandona o campo político, ele não interrompe a política — apenas entrega seu destino nas mãos daqueles que jamais deixaram de disputá-la. É como abandonar o leme do próprio barco porque a corrente é forte — e deixar que ele seja guiado por quem deseja, precisamente, que o povo se ausente.

Por isso, este ensaio — que nasceu da constatação das falhas, das destruições e das repetições inconclusas — não se encerra em denúncia, mas em exortação.

É preciso resgatar o valor da política não como instrumento de dominação, mas como expressão do logos coletivo, do nosso destino comum deliberado à luz da razão.

Não basta mais votar por instinto ou desistir por cansaço. É preciso refletir — com lucidez, com responsabilidade e com grandeza — que tipo de sociedade desejamos, que tipo de líderes aceitamos, que tipo de história queremos escrever.

O bem só triunfa quando aqueles que o desejam ocupam os espaços com coragem e discernimento. A reconstrução que este ensaio propôs — espiritual, simbólica, política e filosófica — só será possível quando cidadãos conscientes retomarem sua vocação de agentes do destino. Não como torcedores, mas como construtores. Não como seguidores, mas como responsáveis. Não como espectadores, mas como protagonistas.

Que cada um de nós, portanto, retorne ao espaço público não por paixão ideológica, mas por dever racional. E que o voto, a palavra, a presença e a ação sejam os instrumentos com os quais a luz supere a sombra — e a razão vença a apatia.

(*) O autor é advogado, Procurador do Estado aposentado, ex-Procurador-Geral do Estado do Amazonas e membro da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas.

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Brasil deixou sua indústria bélica ser sucateada, analisa neste artigo Marcelo S. Tognozzi*

13/12/2025

Um general veterano conta que no início do século 20 havia três tipos de militares: os que ainda acreditavam na volta do Império, os que só queriam o soldo no fim do mês e os jovens turcos que acreditavam poder refazer a República do zero e mudar o mundo. Em parte, eles conseguiram. Eram oficiais enviados à Alemanha entre 1906 e 1912 para receber treinamento militar de primeira linha. O acordo foi costurado pelo Barão do Rio Branco e o então ministro da Guerra Hermes da Fonseca com o governo do imperador Guilherme II.

Rio Branco enxergava longe e sabia que o Brasil precisava de um Exército bem treinado e profissional. Naquele tempo as forças armadas eram a Marinha e o Exército, ambos influenciados por governadores que se achavam generais. Os estados tinham suas tropas e, muitas vezes, havia exércitos particulares, como nas guerras civis do Sul. Aquilo era um fordúncio, com soldados marchando descalços e sem treinamento.

Entre os militares enviados à Aleman...

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Um general veterano conta que no início do século 20 havia três tipos de militares: os que ainda acreditavam na volta do Império, os que só queriam o soldo no fim do mês e os jovens turcos que acreditavam poder refazer a República do zero e mudar o mundo. Em parte, eles conseguiram. Eram oficiais enviados à Alemanha entre 1906 e 1912 para receber treinamento militar de primeira linha. O acordo foi costurado pelo Barão do Rio Branco e o então ministro da Guerra Hermes da Fonseca com o governo do imperador Guilherme II.

Rio Branco enxergava longe e sabia que o Brasil precisava de um Exército bem treinado e profissional. Naquele tempo as forças armadas eram a Marinha e o Exército, ambos influenciados por governadores que se achavam generais. Os estados tinham suas tropas e, muitas vezes, havia exércitos particulares, como nas guerras civis do Sul. Aquilo era um fordúncio, com soldados marchando descalços e sem treinamento.

Entre os militares enviados à Alemanha estavam Euclides Figueiredo, Bertoldo Klinger, Estevão Leitão de Carvalho e Cesar Augusto Parga Rodrigues criador da revista Defesa Nacional, porta-voz dos jovens turcos. Eram conhecidos assim por se identificarem com Mustafá Kermal Ataturk, fundador da República Turca, seguidor da doutrina militar prussiana. Queriam para o Brasil as reformas que Ataturk impulsionou na Turquia. E rezavam pela cartilha do positivismo de Benjamin Constant.

Mas a cooperação com a escola alemã durou pouco. Veio a 1ª Guerra e a França passou a ser a grande influenciadora do Exército brasileiro. Foi a partir da missão francesa que surgiram as escolas militares, doutrina, treinamento eficiente e unificação do Exército. A França formou uma geração de militares que pegariam em armas em 1922, 1924 e 1930, quando finalmente tomam o poder com a revolução liderada por Getúlio Vargas.

Governo ou geometria?

Os jovens turcos foram ver o presidente e entregaram um gordo documento de centenas de páginas, com gráficos, esquemas geométricos e outras firulas. Getúlio olhou aquilo e perguntou: “Isso é governo ou geometria?”. “É geometria aplicada ao governo”, respondeu um deles. Getúlio, raposa velha, arrematou: “Vocês são bons de quartel, mas na política se complicam”.

A França influiu na formação militar até 1940, quando suas defesas se mostraram um fiasco frente ao poderio bélico alemão. Com a 2ª Guerra, os Estados Unidos passaram a influir cada vez mais nas nossas forças armadas. Isso perdurou até o depois da redemocratização. Com o governo Fernando Henrique, começou a fase de submissão absoluta das Forças Armadas ao poder civil com a criação do Ministério da Defesa.

Os traumas do passado, especialmente do governo militar, fizeram com que esta submissão tivesse seus percalços, especialmente depois de 2023, com a posse de Lula. A esquerda vê com desconfiança as Forças Armadas, que vê a esquerda com desconfiança. Um sempre acha que o outro quer dar um golpe. E isso acabou influindo decisivamente na capacitação, investimento em equipamentos, armas e munições.

Indústria bélica sucateada

Existem situações que precisam urgentemente ser revistas, principalmente num momento em que o mundo todo dá sinais de conflitos iminentes. O Brasil deixou sua indústria bélica ser sucateada, depois de exibirmos uma performance acima da média produzindo blindados e foguetes no fim do século passado. Nós hoje poderíamos ter uma indústria de helicópteros capaz de abastecer o mercado interno e externo, mas comemos nas mãos dos franceses. Eles voltaram a ter hegemonia aqui. Com a já conhecida simpatia zero.

A coisa é pior do que se imagina. O presidente Lula tem à disposição helicópteros EC135 franceses obsoletos, com 18 anos de uso. É no mínimo falta de bom senso deixar o presidente da República voar nestas carroças aladas. Aliás, em outubro do ano passado, Lula e sua comitiva tomaram um susto com uma pane no Airbus francês presidencial, obrigado a sobrevoar a cidade do México por mais de 4 horas para queimar combustível. Simplesmente porque venderam um avião sem o equipamento que esvazia os tanques de combustível numa emergência. Claro que o presidente não sabia disso, mas quem comprou, sabia e imaginou que este tipo de situação nunca aconteceria. Será que haveria este sufoco se o avião presidencial fosse produzido pela Embraer?

O Brasil parece um imenso ferro velho militar quando se trata de aeronaves, navios e carros de combate. Nosso porta aviões tem 30 anos, o navio de desembarque de carros de combate é de 1966. Ambos são ingleses. Temos aqueles Mirage franceses obsoletos, puro ferro velho, e dos 36 caças Grippen suecos comprados recebemos apenas 11. Os outros não chegaram por falta de pagamento.

Na mão dos franceses

No quesito helicópteros, o Brasil está praticamente nas mãos dos franceses, os mesmos, aliás, que melaram o acordo com o Mercosul. Querem empurrar para a nossa Marinha helicópteros com trem de pouso fixo, quando os mais indicados para o pouso num convés em alto mar é o helicóptero com rodas, porque elas amortecem e evitam acidentes, especialmente à noite.

Existem vários fabricantes de aeronaves e armas no mundo. Ficar nas mãos de um só é temeridade. Temos submarinos sendo construídos com parceria francesa, inclusive um nuclear que nunca saiu do papel e já ficou obsoleto antes de existir, porque só deve virar realidade em 2032. O Brasil já foi uma potência em construção naval, mas perdeu fôlego e hoje entregou o mercado de plataformas da Petrobras para chineses e coreanos. E pensar que entre 1840 e 1910 tínhamos a segunda Marinha do mundo, rivalizando com os britânicos.

No dia 30 de setembro do ministro da Defesa José Múcio Monteiro foi ao Senado e falou sobre a situação de abandono das nossas Forças Armadas, responsáveis por defender 8 mil km de costa, 16,8 mil km de fronteiras e um espaço aéreo de 8,5 milhões de km quadrados. É muita missão para quem não tem dinheiro para o combustível, que dirá para as peças de reposição.

Necessidade para o país

O Brasil precisa de Forças Armadas bem equipadas e treinadas, como imaginou há mais de 1 século o Barão do Rio Branco. Não é normal um Exército incapaz de combater, uma Força Aérea que não voa e uma Marinha que não patrulha nossa costa.

Infelizmente ainda vale a piada da época dos jovens turcos. Instrutor francês no interior de Minas, vê soldados marchando com uniformes improvisados e pergunta: “Mon Dieu, onde está a brigada mecanizada?” E o comandante mineiramente: “Tá chegando professor. Assim que as mulas descansarem”.

*Marcelo S. Tognozzi é jornalista e consultor. Uma das principais referências da imprensa brasileira contemporânea.

NR - Autorizada a postagem do artigo, originalmente publicado no Poder360. O título foi mudado e os intertítulos inseridos à revelia do autor.




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As aventuras de Cacimba 18 —Cacimba e o dia em que o céu virou chão

13/12/2025

Por Zé da Flauta*

Foi numa terça-feira que tinha cara de sábado, cheiro de quinta e preguiça de domingo. A cidade ainda tentava entender a história do trem que andava sem trilho quando outra coisa impossível resolveu acontecer:

O Céu desceu.

Desceu mesmo, encostou no chão como se estivesse cansado de altitude. No começo, o povo achou que era neblina. Depois, acharam que era castigo. Em seguida, disseram que era praga. Por fim, concluíram com toda a sabedoria popular:
— Isso só pode ser coisa de Cacimba.

O céu estava tão baixo que dava para passar a mão nele. E era macio.
Macio como a barriga de um boi dormindo.
Tinha gosto de chuva guardada e cheirava a lembrança molhada.

As crianças começaram a fazer bolhas de nuvem e arremessar umas nas outras. Os velhos, sempre mais sérios, passaram a medir o céu com fita métrica, dizendo que aquilo não podia estar dentro da ABNT celeste.

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Por Zé da Flauta*

Foi numa terça-feira que tinha cara de sábado, cheiro de quinta e preguiça de domingo. A cidade ainda tentava entender a história do trem que andava sem trilho quando outra coisa impossível resolveu acontecer:

O Céu desceu.

Desceu mesmo, encostou no chão como se estivesse cansado de altitude. No começo, o povo achou que era neblina. Depois, acharam que era castigo. Em seguida, disseram que era praga. Por fim, concluíram com toda a sabedoria popular:
— Isso só pode ser coisa de Cacimba.

O céu estava tão baixo que dava para passar a mão nele. E era macio.
Macio como a barriga de um boi dormindo.
Tinha gosto de chuva guardada e cheirava a lembrança molhada.

As crianças começaram a fazer bolhas de nuvem e arremessar umas nas outras. Os velhos, sempre mais sérios, passaram a medir o céu com fita métrica, dizendo que aquilo não podia estar dentro da ABNT celeste.

Cacimba, claro, apareceu com a calma de quem já viu o impossível estacionar na porta de casa.
— Eita, o céu cansou de ficar pendurado. Desceu pra prosear.
Os macaquinhos nos ombros dele cochichavam:
— Diz que foi tu.
— Diz que não foi não.
— Diz que sim outra vez.

Cacimba riu, aquele riso que parece poeira brilhando no sol.
— Eu só chamei, meus filhos. Foi ele que veio.

E explicou, como se fosse a coisa mais simples do mundo:
— O céu se sente sozinho. Vive lá em cima sem ninguém pra fazer um carinho. Hoje resolveu encostar na terra pra sentir o pulso do chão.

Foi aí que começaram as estranhezas.
As galinhas, assustadas, botaram ovos quadrados.
Os cachorros latiram para o alto e responderam ao próprio eco.
Teve um vaqueiro que, ao ver o céu baixo demais, tentou laçar um pedaço azul para vender na feira como “nuvem de estimação”.

Tudo estava confuso, mas bonito.
Parecia que o mundo finalmente decidira descansar a coluna.

Só que, como toda coisa bonita demais, veio também o medo.

Dona Beata, a rezadeira, gritou que o fim dos tempos era aquilo mesmo.
Seu Zé do Açúcar jurou que viu o sol piscando.
E o padre anunciou que, se o céu continuasse ali, não dava mais pra prometer paraíso no alto — no máximo um bairro vizinho.

Cacimba então bateu o pife no chão, fez um som que parecia galope de estrela, daqueles que Dom Fredom gosta, e falou para o povo:
— Quando o céu vira chão, minha gente, é o mundo lembrando que tudo que é alto quer ser baixo e tudo que é baixo quer ser alto. É só um abraço grande.

E, com isso, ajoelhou-se, encostou a testa no chão e sussurrou uma coisa inaudível.
As nuvens estremeceram.
O azul fez um arrepio.
E o céu, lentamente, começou a subir de volta, como quem acorda de um sonho bom e não quer levantar.



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No exato momento em que recuperou seu lugar lá em cima, caiu uma chuva miúda, fina, doce, parecendo lágrima feliz.

Cacimba se levantou, limpou o rosto com a manga da camisa e disse:
— O céu só queria ser ouvido. Igual a gente.

Depois sumiu pela rua estreita, com os macaquinhos discutindo se o céu tinha sotaque.

Desde então, vez ou outra, quando o entardecer fica pesado e dócil, o povo comenta baixinho:
— O céu tá ensaiando outra visita… Será que Cacimba chama de novo?

E ninguém duvida.

*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.



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Entrevista: “STF precisa ser só Corte constitucional”, diz jurista José Paulo Cavalcanti Filho

13/12/2025

Jurista, ex-ministro da Justiça, três vezes imortal — na Academia Pernambucana de Letras, na Academia Brasileira de Letras e na Academia de Portugal, sediada em Lisboa — e escritor, José Paulo Cavalcanti Filho pregou recentemente que o Brasil passe a ter um Supremo Tribunal Federal (STF) “mais constitucional”. Ele fez um comparativo entre a Corte Suprema brasileira e as de outros países, que julgam muito menos processos por ano e se atêm apenas a casos sérios relacionados à Constituição. “Essas Cortes julgam menos casos”, disse, ao acrescentar que se atuasse dessa forma, o STF deixaria de ser instância revisora de outros tribunais e também não admitiria mais decisões monocráticas (unilaterais dos ministros). “Claro que podemos ter problemas. Com o Supremo declarando que as novas regras, definidas pelo Congresso para a Constituição, seriam inconstitucionais. Não seria caso único no mundo”, enfatizou, na entrevista que segue abaixo.

O PODER: Recentemente o senhor disse...

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Jurista, ex-ministro da Justiça, três vezes imortal — na Academia Pernambucana de Letras, na Academia Brasileira de Letras e na Academia de Portugal, sediada em Lisboa — e escritor, José Paulo Cavalcanti Filho pregou recentemente que o Brasil passe a ter um Supremo Tribunal Federal (STF) “mais constitucional”. Ele fez um comparativo entre a Corte Suprema brasileira e as de outros países, que julgam muito menos processos por ano e se atêm apenas a casos sérios relacionados à Constituição. “Essas Cortes julgam menos casos”, disse, ao acrescentar que se atuasse dessa forma, o STF deixaria de ser instância revisora de outros tribunais e também não admitiria mais decisões monocráticas (unilaterais dos ministros). “Claro que podemos ter problemas. Com o Supremo declarando que as novas regras, definidas pelo Congresso para a Constituição, seriam inconstitucionais. Não seria caso único no mundo”, enfatizou, na entrevista que segue abaixo.

O PODER: Recentemente o senhor disse que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem dois problemas graves, um por dentro do outro. Que problemas são esses?

José Paulo Cavalcanti Filho: Um é estrutural e outro, conjuntural. Em relação ao problema estrutural, minha posição é que o Supremo julga casos demais, quando o que deveria era seguir a regra das Cortes Constitucionais importantes no Primeiro Mundo. Basta ver como julgaram, no ano passado: Estados Unidos, 80 casos; França, 80; Inglaterra, 82; Alemanha, 90; e Canadá, 44. Para muitos, o Canadá tem o melhor sistema judiciário do mundo. Com a Supreme Court of Canada se reunindo em janeiro, abril e outubro, para julgar apenas causas revestidas de public importance ? segundo Gentili (Protective Rights in a Worldwide Rights Culture).

Enquanto isso no Brasil, segundo a internet (com indicação “dados do STF”), são “aproximadamente 114 mil”. O CNJ [Conselho Nacional de Justiça] deveria fornecer um número exato, afinal sua função é exercer algum tipo de controle sobre essa atividade, mas ninguém tenha esperança nisso. Que, no seu site, apenas se vê “cerca de 110 mil”.

O PODER: O que o senhor aponta como mais impactante em relação a esses números?

A consequência nefasta desse número pantagruélico de casos é o excesso de decisões monocráticas tomadas pelo Supremo. Simplesmente porque não funcionaria, sem elas. O CNJ não sabe quantas foram. Ou não diz. Algo ruim, nos dois casos. Como se tivéssemos que escolher entre inércia (não se dar a esse trabalho) e prepotência (o considerar que isso não interessa a ninguém). Por sorte o Ministro Barroso nos salvou ao dizer em discurso recente, numa espécie de Prestação de Contas por sua gestão na presidência da Casa, terem sido no ano passado exatos 92.805 casos. Grave, aqui, é que decisões monocráticas existem só no Brasil.

O PODER: Nenhum outro país concede este tipo de decisão?

Em nenhum outro dos 193 Estados Membros da ONU [Organização das Nações Unidas]. Vale explicar um ponto. É que nos Estados Unidos e na Grã-bretanha, em situações de extrema gravidade e urgência, quando não esteja reunida a Corte, pode o ministro plantonista decidir. Mas essa decisão fica sem aplicação, até que seja convocado o plenário para deliberar sobre o caso. E vale, apenas, se a maioria (usualmente a totalidade) da Corte aprovar.

Ninguém decide sozinho, pois, essa é a regra de ouro para todos os tribunais do planeta (menos em nosso Supremo, talvez por se considerar melhor que os outros). Dado não fazer sentido, numa Democracia moderna, tanto poder concentrado em apenas uma pessoa. Devendo as decisões nesses outros países serem todas, sempre, coletivas. Não de um Ministro, apenas, mas do Tribunal como uma coletividade. Sem contar que o Supremo, nos tempos atuais, deseja ir ainda mais longe.

O PODER: Mais longe em que sentido?

Faz pouco, por exemplo, que o Supremo enviou ofício a todos os tribunais recomendando que, “nos feitos representativos de controvérsia, ainda que se vislumbre questão meramente infraconstitucional, seja admitido o Recurso Extraordinário”. A fim de permitir o pronunciamento do Supremo sobre a existência, ou não, de matéria constitucional em cada caso. Eventualmente, com Repercussão Geral. O que significa mais casos. E mais decisões monocráticas.

O PODER: E sobre a questão conjuntural que o senhor mencionou? Qual é o problema do STF quanto a isso?

Tudo começou com Prudente de Moraes e Ruy Barbosa, ao redigir a Constituição de 1891. Preocupados com o fim caótico do Império, e o início também caótico da República, decidiram recriar o Poder Moderador, até então exercido por Pedro II – que, com seu enorme bom senso, garantiu estabilidade ao país naquela quadra histórica conturbada. Esse papel foi por eles atribuído ao Supremo. Que, além de decidir questões da Constituição, também passou a ser instância revisora do Poder Judiciário. Como se dava com Pedro II; quando, por exemplo, comutou todas as condenações com penas de morte depois do caso Mota Coqueijo.

Fosse pouco ainda se auto-outorgou o Supremo, bem além disso, o papel de Poder Legislativo. E de Poder Executivo. Todos sabemos, tantas foram as decisões, nem será preciso dar exemplos. E as últimas, senhores, são estelares.

O PODER: Mesmo assim, o senhor poderia nos dar exemplos mais detalhados?

O ministro Dias Toffoli, por exemplo, decidiu que o caso do Banco Master é dele ? a partir de uma filigrana, pouco séria, de que haveria contrato do banqueiro com um deputado, no meio da papelada, o que garantiria foro privilegiado. Quando esse Deputado nem investigado é. Qual contrato?, ninguém sabe. O que diz?, também ninguém sabe. Nem saberá que paira, sobre o processo, um estranhíssimo “sigilo absoluto” decretado pelo ministro. O mesmo que andava em jatinhos particulares do Banco Master, em conversas secretas com Augusto Arruda Botelho, advogado de Daniel Vorcaro, dono do jatinho e do Banco.

Fosse pouco, o ministro Gilmar Mendes não aceita que o povo requeira no Senado o impeachment dele e de seus colegas, como regulado na Constituição (artigo 52, II) e na Lei 1.079, de 10/04/1950 (artigos 6º e 7º). E o dito artigo 52, quando se usa a sua mirabolante interpretação, nos leva a uma impossibilidade absoluta. Que ministros do Supremo, Advogado Geral da União e Procurador Geral da República estão, no tal artigo de nossa Constituição, indissoluvelmente juntos em casos de impeachment. Agora, segundo o ministro, só poderão ser julgados pelo Senado se um deles (o PGR) aceitar denunciar qualquer dos três. Inclusive o próprio. Não é uma interpretação séria, amigo leitor, perdão. Como ensina o Eclesiastes (1.2.), “Tudo é vaidade”. Fosse pouco, há também outros problemas.

O PODER: Ao seu ver, quais seriam esses outros problemas?

Como o espiral de um poder absoluto que passou a habitar o mais íntimo de cada um dos ministros, convertendo o Tribunal em um conglomerado formado por 11 capitanias hereditárias independentes. Que decide o que quiser, como quiser, e sem nenhum limite. Num crescendo. Virou regra. Com todos protegidos pelo corporativismo, onde nenhum ministro admite questionar decisões dos demais. Garantindo, assim, que suas próprias decisões também não o sejam. Sem contar que em vez de irem ao Supremo os mais respeitados juristas do país, o que vemos hoje é uma procissão enfadonha de advogados e amigos íntimos do presidente, integrando aquela Casa sobretudo para lhes emprestar apoio político, em evidente falta de respeito a seu passado.

O PODER: Na última semana, uma reportagem do jornal O Globo, noticiou que o escritório da mulher e filhos de Alexandre de Moraes tem um contrato com o Banco Master. O que o senhor acha sobre essa informação?

O contrato, conforme a reportagem, da jornalista Malu Gaspar, informa que que prevê “pagamento de R$ 129 milhões em três anos”. Parece que todos no Supremo acham isso natural. Ser ministro é algo bom, financeiramente, para a família (e o próprio ministro, claro). E nem apenas com ele, que muitos dos outros ministros têm também seus próprios escritórios por trás. Perdão, senhores, mas isso, em uma dimensão ética, também não está certo.

O PODER: Em sua opinião, o que poderia ser feito para superar esses problemas?

Antes de seguir no tema é preciso recusar, veementemente, proposta (que vem sendo apresentada por alguns grupos) de fechar o Supremo, recorrendo à força, o que nenhum espírito democrático pode admitir, pois nada seria pior que a volta da ditadura. A questão, então, passa a ser a de buscar uma solução adequada, madura, para o Brasil de hoje. E o curioso é que ela existe. Fazer com que o Supremo seja semelhante a todas as demais Cortes Constitucionais democráticas do mundo. Simples assim. O que nos remete somente a dois pontos que deveriam ser alterados.

O PODER: Quais seriam esses pontos?

O primeiro é que o Supremo passe a ser apenas uma Corte Constitucional. Como todos os demais tribunais similares, nos países democráticos. Julgando menos casos, somente os que interfiram na Constituição. Deixando de ser instância revisora de outros tribunais. E sem admitir mais decisões monocráticas, claro. Claro que podemos ter problemas. Com o Supremo declarando que as novas regras, definidas pelo Congresso para a Constituição, seriam inconstitucionais. E não valeriam. Não seria caso único, no mundo.

Na Índia, por exemplo, e apesar de a Constituição estabelecer que o presidente deve indicar os ministros da Corte Suprema, foi ela quem decidiu, há mais de 20 anos, que um collegium formado pelo presidente da Corte e pelos quatro ministros mais antigos é que escolheria seus novos membros. Proposta de um colegiado mais plural chegou a ser aprovada pelo Parlamento, em 2014. Mas foi derrubada, um ano depois, pelo próprio Supremo. Que a considerou “inconstitucional”. Qualquer semelhança com o Brasil não se deve ter como coincidência. Mas será que nossos ministros iriam ter coragem de nos converter em uma nova Índia?, eis a questão.

O PODER: E qual o senhor aponta como segundo ponto?

A partir de quando o Supremo for uma Corte assim, a última instância das causas infraconstitucionais passa a ser o STJ. Inclusive nos casos de Habeas Corpus. Com enormes vantagens para o funcionamento da Justiça no país. Diminuindo a duração dos processos e reduzindo uma instância, para início do cumprimento das penas. Reduzindo a impunidade que virou regra, em nosso país. E permitindo que o Supremo passe a se ocupar apenas da Constituição, função típica de uma Corte Constitucional.

O CNJ e o Supremo deveriam zelar para que a Constituição fosse respeitada. Mas, como dizia um antigo presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos. Charles Evans Hugues, Constitution is what the judge say it is (Constituição é aquilo que o juiz diz que é).

O PODER: Em sua opinião, o que seria preciso para que tal mudança possa ser feita?

Isso requer apenas alteração da Constituição via PEC [Proposta de Emenda à Constituição]. Vontade política. E pode ser feita sem maiores problemas, ainda quando os poderosos ,ministros do Supremo não gostem e tentem trazer para seu curul (aquela poltrona em que sentam) alguns partidos políticos que se acostumaram a lhes usar nas suas demandas. Que contra egos, ou questões menores, o interesse coletivo deve prevalecer. Sempre. Em resumo, pode ser feito. E deve. Por ser o melhor, sem dúvida, para o nosso Brasil.




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Mesmo em meio a crises internas, Congresso promete votar OGU até quinta-feira (18)

13/12/2025

Da Redação

Ao longo de uma semana tumultuada, destacada pelo anúncio de retirada, pelo governo dos EUA, das sanções referentes à Lei Magnitski impostas ao ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal) e sua esposa, da decisão do STF de perda do mandato de Carla Zambelli (PL-SP), da suspensão por seis meses do mandato do deputado Glauber Braga (PSol-SP) e tantas outras votações emblemáticas, o que mais se perguntou nos últimos dias foi: E o orçamento?

Isto porque o Congresso Nacional chega à metade do mês de dezembro sem ter aprovado o Orçamento Geral da União (OGU) com vistas a 2026. O que preocupa todo o Executivo Federal e o país como um todo.

Garantia de Alcolumbre

Por isso, em um pronunciamento que serviu muito mais como ajuste de contas em relação às cobranças diversas sobre o tema, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União - AP), afirmou que a matéria deve...

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Da Redação

Ao longo de uma semana tumultuada, destacada pelo anúncio de retirada, pelo governo dos EUA, das sanções referentes à Lei Magnitski impostas ao ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal) e sua esposa, da decisão do STF de perda do mandato de Carla Zambelli (PL-SP), da suspensão por seis meses do mandato do deputado Glauber Braga (PSol-SP) e tantas outras votações emblemáticas, o que mais se perguntou nos últimos dias foi: E o orçamento?

Isto porque o Congresso Nacional chega à metade do mês de dezembro sem ter aprovado o Orçamento Geral da União (OGU) com vistas a 2026. O que preocupa todo o Executivo Federal e o país como um todo.

Garantia de Alcolumbre

Por isso, em um pronunciamento que serviu muito mais como ajuste de contas em relação às cobranças diversas sobre o tema, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União - AP), afirmou que a matéria deve ser votada até a próxima quinta-feira (18/12).

Muitos parlamentares acham que não haverá tempo hábil para isso, o que levará o Legislativo mais uma vez a, em meio aos embates com o Executivo Federal e o Judiciário, decretar uma espécie de “recesso branco” a partir do dia 22, permitindo aos deputados e senadores que se ausentem, mas sem que possa ser formalizado o recesso de fim de ano.

Norma constitucional

A impossibilidade se dá porque a Constituição deixa claro: O Congresso só pode parar os trabalhos do final do ano depois de votar o OGU. E antes de ir a plenário, a matéria ainda precisa passar pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) pela última vez.

A sessão conjunta de senadores e deputados está marcada para às 9h de quinta-feira. Mas, segundo Davi, é possível que a proposta orçamentária seja votada ainda na quarta-feira (17/12). “Nós estamos organizando para quinta-feira, porque foi a data combinada com a Câmara dos Deputados, mas se conseguirmos adiantar, adiantarmos”, disse Alcolumbre aos jornalistas.

No aguardo do relatório final

A proposta orçamentária aguarda o relatório final do deputado Isnaldo Bulhões Júnior (MDB-AL). Segundo o presidente da CMO, senador Efraim Filho (União-PB), o texto deve ser publicado na segunda-feira (15/12). E a votação da matéria na comissão está prevista para o dia seguinte (16/12).

A CMO concluiu nesta semana a votação de 16 relatórios setoriais ao Orçamento. Foram estes os de: Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Pesca; Assistência Social e Família; Cidades; Ciência & Tecnologia e Comunicações; Defesa; Educação e Cultura; Esporte; Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio; Infraestrutura, Minas e Energia; Integração, Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente; Justiça e Segurança Pública; Mulheres e Direitos Humanos; Poderes de Estado e representações e Saúde.

Resta saber se vão resumir a briga que sempre acontece durante a votação do orçamento por acréscimos e retiradas de emendas para várias obras entre os parlamentares e bancadas dos estados e do Distrito Federal desta vez, em meio a um prazo tão exíguo.




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TSE: partidos podem se desligar de federações até início do ano eleitoral de 2026

13/12/2025

Hylda Cavalcanti/ Por HJur

Os cidadãos interessados a serem candidatos nas eleições de 2026 já tinham uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as confederações, mas como isso ainda vinha suscitando dúvidas em toda a Justiça eleitoral, agora podem ficar satisfeitos. É que, independentemente do prazo para punições aos partidos que trocarem de federações partidárias, todos, sem exceção, poderão fazer suas trocas até o início do ano eleitoral de 2026.

A medida consiste numa regra de transição permitida pelo STF no início do ano e que foi reiterada essa semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O entendimento dos ministros do STF foi de que, como a lei estabelece um período de quatro anos para trocas de partidos entre a formalização das federações, os políticos ficariam prejudicados nas eleições de 2026, uma vez que a legislação ainda não fez quatro anos. Enquanto nos pleitos de 2028 e 2030, não haverá mais essa preocupação.

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Hylda Cavalcanti/ Por HJur

Os cidadãos interessados a serem candidatos nas eleições de 2026 já tinham uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as confederações, mas como isso ainda vinha suscitando dúvidas em toda a Justiça eleitoral, agora podem ficar satisfeitos. É que, independentemente do prazo para punições aos partidos que trocarem de federações partidárias, todos, sem exceção, poderão fazer suas trocas até o início do ano eleitoral de 2026.

A medida consiste numa regra de transição permitida pelo STF no início do ano e que foi reiterada essa semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O entendimento dos ministros do STF foi de que, como a lei estabelece um período de quatro anos para trocas de partidos entre a formalização das federações, os políticos ficariam prejudicados nas eleições de 2026, uma vez que a legislação ainda não fez quatro anos. Enquanto nos pleitos de 2028 e 2030, não haverá mais essa preocupação.

Multas e penalidades

Caso não tivesse sido aprovada essa regra de transição, o partido que resolvesse trocar de federação poderia ser submetido a multas e outras penalidades pela Justiça eleitoral. O Supremo é a Corte máxima do país, mesmo assim, os tribunais regionais eleitorais vinham recebendo uma enxurrada de pedidos de consulta sobre como ficaria a situação das federações no próximo ano.

Por isso, durante sessão realizada na noite da última quarta-feira (10/12), os ministros do TSE não aceitaram um pedido de consulta sobre o tema ajuizado à Corte superior pelo partido Cidadania e reiteraram, oficialmente, a posição do STF.

Tema superado

Para o relator da consulta, ministro Antonio Carlos Ferreira, a questão já foi analisada e decidida pelo STF no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) relatada pelo ministro Luís Roberto Barroso, em agosto de 2025. Na ocasião, o STF declarou constitucional a lei que criou as federações partidárias, exceto quanto ao prazo de registro, que deve ser o mesmo exigido para a criação de partidos políticos.

O Supremo definiu, porém, que nas Eleições Gerais de 2026, os partidos que formaram federações em 2022 podem alterar sua composição ou constituir nova federação antes de completar quatro anos, sem aplicação das penalidades previstas na legislação, de modo a permitir que essas agremiações cumpram o prazo legal de registro de federações no ano eleitoral de 2026.




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Políticos repercutem decisão do STF que reverteu votos da Câmara e determinou cassação de Zambelli

13/12/2025

Da Redação

O sábado (13/12) está sendo de repercussões por parte de parlamentares de oposição ao Governo e aliados de Carla Zambelli (PL-SP), em função da decisão formalizada pelo plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) de decretar a perda imediata do mandato dela, até então deputada federal. Zambelli foi condenada por dois crimes em julho passado pelo STF e está presa na Itália, para onde fugiu. O Tribunal determinou que a Câmara dos Deputados dê posse ao seu suplente em, no máximo, 48 horas.

Com o julgamento, o STF desfez deliberação da Câmara, que na última quarta-feira (10/10) manteve o cargo da parlamentar. Zambelli foi condenada por unanimidade pela 1ª Turma do STF pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica, no ataque hacker aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os integrantes do colegiado definiram 10 anos de prisão para a parlamentar, além da cassação, inelegibilidade e pagamento de m...

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Da Redação

O sábado (13/12) está sendo de repercussões por parte de parlamentares de oposição ao Governo e aliados de Carla Zambelli (PL-SP), em função da decisão formalizada pelo plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) de decretar a perda imediata do mandato dela, até então deputada federal. Zambelli foi condenada por dois crimes em julho passado pelo STF e está presa na Itália, para onde fugiu. O Tribunal determinou que a Câmara dos Deputados dê posse ao seu suplente em, no máximo, 48 horas.

Com o julgamento, o STF desfez deliberação da Câmara, que na última quarta-feira (10/10) manteve o cargo da parlamentar. Zambelli foi condenada por unanimidade pela 1ª Turma do STF pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica, no ataque hacker aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os integrantes do colegiado definiram 10 anos de prisão para a parlamentar, além da cassação, inelegibilidade e pagamento de multa.

“Desrespeitou princípios”

No voto, Moraes reiterou que a deliberação da Câmara “desrespeitou os princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade”. O ministro Flávio Dino, por sua vez, destacou que, segundo dados oficiais do Legislativo, desde quando a condenação se tornou definitiva, foram gastos R$ 547 mil em recursos públicos para manter o gabinete da deputada, mesmo com sua completa inatividade funcional e constando como foragida.

O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), criticou a decisão e disse que o STF “avançou sobre as competências do Poder Legislativo”. O parlamentar afirmou que o Supremo “voltou a rasgar a Constituição” ao anular a sessão da Câmara que rejeitou a cassação do mandato de Zambelli por não alcançar o número mínimo de votos exigido. E que, ao seu ver, a decisão “compromete a soberania da Casa e o resultado das urnas”.

“Voltou a rasgar a Constituição”

“O STF endossou a canetada de Alexandre de Moraes (ministro da Corte) e voltou a rasgar a Constituição. Não houve independência entre ministros. Houve alinhamento para confirmar uma decisão que atropela a soberania da Câmara, o voto popular e o Estado de Direito”, frisou o parlamentar.

Cavalcanti ainda cobrou do presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que não aceite o que ele classificou como “avanço do Judiciário sobre o Legislativo”. Até o fechamento desta edição, Motta não se pronunciou a respeito nem da fala do deputado e nem sobre a decisão do Tribunal.

Julgamento na Itália

Na próxima quinta-feira (18/12), está marcado pela Justiça italiana o julgamento do pedido da defesa de Zambelli para incluir no processo de extradição dela, apresentado pelo Brasil ao governo italiano, novas provas.

Dependendo do resultado do julgamento, a Corte de Roma pode decidir no mesmo dia sobre o processo de extradição. Mesmo assim, caso decida pela extradição, conforme as regras, depois de ser aprovada pela Justiça daquele país (se for o caso), a decisão ainda terá de ser chancelada pelo governo da Itália.

— Com Agências de Notícias




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Surpresa pela direita - Ratinho tem contra Lula o mesmo desempenho de Tarcísio

13/12/2025

A pouco menos de um ano para as eleições gerais de 2025, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), apresenta um surpreendente desempenho em cenário de segundo turno contra o atual presidente Lula. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, alcançaria hoje 42%. Ratinho Junior (PSD) chegaria a 41%. Nas duas comparações, o atual presidente fica com o mesmo índice: 47%.

A revelação foi feita pelo sociólogo Antônio Lavareda, do institudo Ipespe, analisando na CNN os mais recentes dados das pesquisas de opinião, particularmente o Datafolha, divulgado esta semana. Flávio Bolsonaro apresenta um desempenho um pouco abaixo, 37%, mas não pode ser liminarmente descartado. Pode ter jogo para ele, aguardemos pesquisas que alcancem as repercussões do seu anúncio de pré-candidatura. Vamos, por agora, comparar as posições de Tarcísio e Ratinho.



Por que nossa surpresa?

Ratinho, é verdade, foi reeleito, está no se...

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A pouco menos de um ano para as eleições gerais de 2025, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), apresenta um surpreendente desempenho em cenário de segundo turno contra o atual presidente Lula. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, alcançaria hoje 42%. Ratinho Junior (PSD) chegaria a 41%. Nas duas comparações, o atual presidente fica com o mesmo índice: 47%.

A revelação foi feita pelo sociólogo Antônio Lavareda, do institudo Ipespe, analisando na CNN os mais recentes dados das pesquisas de opinião, particularmente o Datafolha, divulgado esta semana. Flávio Bolsonaro apresenta um desempenho um pouco abaixo, 37%, mas não pode ser liminarmente descartado. Pode ter jogo para ele, aguardemos pesquisas que alcancem as repercussões do seu anúncio de pré-candidatura. Vamos, por agora, comparar as posições de Tarcísio e Ratinho.



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Por que nossa surpresa?

Ratinho, é verdade, foi reeleito, está no segundo governo e faz uma gestão muito bem aprovada. Porém, ainda é pouco conhecido pelo eleitorado nacional, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. Ou seja, tem muito espaço para crescer. Considere-se que o Paraná é um Estado com muito menos visibilidade nacional do que São Paulo. E só há pouco tempo Ratinho começou a ser percebido como candidato pelo restante do país. Tarcísio é citado como potencial presidenciável desde que foi eleito. E São Paulo é São Paulo.



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Potencial

O filho do comunicador Ratinho também é bom no ramo e, ao mesmo tempo, craque na política. Está solidamente ancorado no PSD, o partido de Kassab. Legenda por legenda, o paranaense leva vantagem.



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Kassab empoderado

O futuro é uma bola de cristal opaca. Mas, a simples constatação do desempenho de Ratinho triplica o cacife de Gilberto Kassab, o cacique do PSD, no tabuleiro da sucessão. A pelota das forças do centrão e da direita chegou naturalmente aos seu pés, na grande área adversária. A bola procura os craques, como se falava antigamente na linguagem do futebol.



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Desdobramentos

As possibilidades são diversas, com repercussões tanto no jogo nacional como nos estaduais. O PSD, protagonista, não tem por que fazer alianças ou abrir mão do seu candidato. Verdade que Kassab anunciou esta semana que seu candidato será Tarcísio. Isso, se ele se licenciar em abril e estiver na urna em agosto. Caso contrário, a reciprocidade é provável. Desenho de um possível fato novo no cenário da disputa. E tudo o que os favoritos mais temem em eleição é o tal do fato novo.

(José Nivaldo Junior e equipe O Poder)




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Margarida Cantarelli e Maria Lectícia vão comandar APL

13/12/2025

Uma dupla de ouro. As acadêmicas Margarida Cantarelli e Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti serão eleitas, na próxima segunda-feira (15/12), presidente e vice, respectivamente, da Academia Pernambucana de Letras - APL. Margarida já ocupou o cargo com brilho por dois mandatos.



Breve histórico

A Academia Pernambucana de Letras foi fundada em 26 de janeiro de 1901, por Carneiro Vilela e mais 19 escritores pernambucanos, com a missão de “promover a defesa dos valores culturais do Estado, especialmente no campo da criação literária”. Foi a terceira academia de letras do Brasil, sendo precedida apenas pela Academia Cearense de Letras e pela Academia Brasileira de Letras.



Perfil

A Academia Pernambucana de Letras destaca-se no cenário local e nacional pela produção literária de seus acadêmicos, pela contribuição ao desenvolvimento da cultura literária, pelo estudo da língua portuguesa e...

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Uma dupla de ouro. As acadêmicas Margarida Cantarelli e Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti serão eleitas, na próxima segunda-feira (15/12), presidente e vice, respectivamente, da Academia Pernambucana de Letras - APL. Margarida já ocupou o cargo com brilho por dois mandatos.



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Breve histórico

A Academia Pernambucana de Letras foi fundada em 26 de janeiro de 1901, por Carneiro Vilela e mais 19 escritores pernambucanos, com a missão de “promover a defesa dos valores culturais do Estado, especialmente no campo da criação literária”. Foi a terceira academia de letras do Brasil, sendo precedida apenas pela Academia Cearense de Letras e pela Academia Brasileira de Letras.



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Perfil

A Academia Pernambucana de Letras destaca-se no cenário local e nacional pela produção literária de seus acadêmicos, pela contribuição ao desenvolvimento da cultura literária, pelo estudo da língua portuguesa e por zelar e divulgar o patrimônio literário do Estado, dentro e fora dele.



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Atividades

Tais resultados são alcançados através da realização, individual ou colaborativamente, de seminários, colóquios, festivais e feiras literárias, prêmios literários, lançamento de livros, cursos, rodas de leitura, edição de livros e revistas, recitais de música, saraus, entre outras ações.



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Confira

Agora, a chapa completa que formará a nova diretoria.

CHAPA JANEIRO 2026/2028

Presidente: MARGARIDA DE OLIVEIRA CANTARELLI

1ª Vice-presidente: MARIA LECTICIA MONTEIRO CAVALCANTI

2º Vice-presidente: JOSÉ MÁRIO RODRIGUES

SECRETÁRIO-GERAL: LOURIVAL HOLANDA BARROS

1º Secretário: GEORGE FELIX CABRAL DE SOUSA

2º Secretário: JOSE ANGELO CASTELO BRANCO

Tesoureira: ANNA MARIA VENTURA DE LYRA E CESAR

Comissão de Contas:

ALVACIR RAPOSO

JOSE NIVALDO JÚNIOR

CICERO BELMAR

Suplente da Comissão de Contas:

ROBERTO JOSE MARQUES PEREIRA

Diretora da Biblioteca: FLÁVIA SUASSUNA

Diretor do Arquivo: SILVIO NEVES BAPTISTA

Diretor de Publicações: FÁBIO LUCAS DE BARROS E SILVA

Diretor da Memória: LUZILA GONÇALVES FERREIRA

Diretor de Eventos Culturais: CICERO BELMAR




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SP sofre consequências de ciclone, com cerca de 2,5 milhões de pessoas ainda sem energia

13/12/2025

Da Redação

São Paulo — maior cidade do Brasil e da América Latina, além de ser considerada uma das maiores metrópoles do mundo—, segue neste sábado (13/12) o seu quarto dia sem luz em mais de 500 mil imóveis. Considerando-se a média feita pelos institutos sociais de cinco pessoas morando, em média, em cada residência, isso representa aproximadamente 2,5 milhões de pessoas sem acesso à rede elétrica e nem à internet.

Os dados da defesa civil, entretanto, são desencontrados em relação aos anunciados pela Enel — concessionária de energia elétrica que opera na cidade. A companhia aponta que ficaram sem luz 2,2 milhões de clientes (residências) no primeiro dia e que já foi restabelecida a situação de 1,8 milhões de residências.



Ciclone extratropical

O caos começou na quarta-feira (10/12), quando a passagem de um ciclone extratropical pela cidade provocou ventos fortes, queda de árvores e danos à red...

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Da Redação

São Paulo — maior cidade do Brasil e da América Latina, além de ser considerada uma das maiores metrópoles do mundo—, segue neste sábado (13/12) o seu quarto dia sem luz em mais de 500 mil imóveis. Considerando-se a média feita pelos institutos sociais de cinco pessoas morando, em média, em cada residência, isso representa aproximadamente 2,5 milhões de pessoas sem acesso à rede elétrica e nem à internet.

Os dados da defesa civil, entretanto, são desencontrados em relação aos anunciados pela Enel — concessionária de energia elétrica que opera na cidade. A companhia aponta que ficaram sem luz 2,2 milhões de clientes (residências) no primeiro dia e que já foi restabelecida a situação de 1,8 milhões de residências.



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Ciclone extratropical

O caos começou na quarta-feira (10/12), quando a passagem de um ciclone extratropical pela cidade provocou ventos fortes, queda de árvores e danos à rede elétrica. Na noite desse primeiro dia, cerca de 200 milhões de imóveis ficaram sem energia, número que já baixou drasticamente de quinta-feira e ontem, mas que continua grandioso neste sábado.

E que, mais que nunca, aponta o quanto as mudanças climáticas atrasam o desenvolvimento e a vida das pessoas, quando não colocam em risco a própria sobrevivência da população.

Na noite de ontem, a Justiça de São Paulo acolheu pedido feito pelo Ministério Público para que a Enel restabeleça a energia nestes locais. Até as 11h deste sábado, eram, no total, 567.605 as residências ainda afetadas.



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Mais complexo, em alguns locais

Por meio de uma nota pública, a companhia informou que, em certas localidades, o restabelecimento é mais complexo por envolver a reconstrução da rede, substituição de postes, transformadores e, em alguns casos, a recondução de cabos quilométricos. A determinação judicial foi de que se a eletricidade não for retomada o mais rápido possível, serão aplicadas multas e outras penalidades à Enel por não ter mantido uma boa infraestrutura para operacionalização da rede por ela coberta.

“Mesmo com a mobilização tardia de equipes, a empresa não forneceu previsão clara e precisa de restabelecimento, ampliando a vulnerabilidade de idosos, crianças, pessoas com deficiência e eletrodependentes, além de paralisar unidades de saúde e atividades econômicas”, ressaltou a decisão judicial.



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Quedas de árvores, postes e desabamentos

Conforme dados do Corpo de Bombeiros de São Paulo, foram atendidos na quarta-feira, 1.642 chamados para quedas de árvores, 26 para desabamentos e cinco para enchentes. Nos dias seguintes, mesmo em menor quantidade, os chamados prosseguiram para quedas de árvores e socorro a desabamentos de casas e estabelecimentos comerciais.

O ciclone extratropical que provocou chuvas e ventanias em São Paulo também atingiu municípios da Região Metropolitana de SP, atingidos por fortes ventos de até 100km/h em alguns pontos.



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— Com Agências de Notícias




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O populismo exótico de Jânio, por Natanael Sarmento*

13/12/2025

No populismo destaca-se a figura do “líder carismático”. O líder apresenta-se acima de instituições e interesses classistas e do sistema vigente.

Marketing

Supostamente antissitêmica a liderança busca se “conectar” diretamente com as massas populares. Sua retórica vende ilusões e promessas “salvacionistas”. Produzem epifanias milagrosas para trair multidões de seguidores, num misticismo político beatífico.

Para o povo e sem ele

Produto de determinações históricas, o populismo tem função sistêmicas materiais e ideológicas e bases de sustentação. Não organiza ou eleva a cidadania, não busca governar com o povo.

Terreno fértil

O populismo se desenvolve com mais desenvoltura nas sociedades inorgânicas, desorganizadas, de tessitura “gelatinosa”. Nas populações difusas e carentes, com demandas reprimidas, desejosas de mudanças nas quais os acenos de esperança do líder corres...

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No populismo destaca-se a figura do “líder carismático”. O líder apresenta-se acima de instituições e interesses classistas e do sistema vigente.

Marketing

Supostamente antissitêmica a liderança busca se “conectar” diretamente com as massas populares. Sua retórica vende ilusões e promessas “salvacionistas”. Produzem epifanias milagrosas para trair multidões de seguidores, num misticismo político beatífico.

Para o povo e sem ele

Produto de determinações históricas, o populismo tem função sistêmicas materiais e ideológicas e bases de sustentação. Não organiza ou eleva a cidadania, não busca governar com o povo.

Terreno fértil

O populismo se desenvolve com mais desenvoltura nas sociedades inorgânicas, desorganizadas, de tessitura “gelatinosa”. Nas populações difusas e carentes, com demandas reprimidas, desejosas de mudanças nas quais os acenos de esperança do líder correspondem aos anseios das legiões de seguidores. É aparentemente “antissistêmico”, mas reproduz o sistema dominante.



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Jânio

O populismo janista teve o traço do exotismo do líder. Jânio caminhava como “homem do povo”, cabelos desgrenhados, bolachas no bolso, vestimenta descuidada. Consta que até as caspas faziam parte da personagem. O professor de gramática abusava das figuras de linguagem, nas ênclises e mesóclises dos “fi-lo” e dos “dar-vos-ei” ...

Vassourada

Na conjuntura dos anos 1960, permeada pelos escândalos de corrupção do governo, o oposicionista usou a vassoura símbolo da campanha eleitoral “para varrer a corrupção” de forte apelo moralista. Foi o grande mote da campanha.

A disputa

Na corrida presidencial concorriam três andores. O da coligação situacionista formado pela PSD-PTB e outros com o Marechal Teixeira Lott. A oposição PTN/UDN/PR/PL de Jânio e Adhemar de Barros pelo Partido Social Progressista.



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Voz das urnas

Jânio arrasou como fenômeno eleitoral obtendo 48,26 dos votos. Com mais de 2 milhões de votos de vantagem sobre o segundo. Lott obteve 32,3%.

Meteórico

A passagem de Jânio na presidência foi meteórica. Assumiu em janeiro de 1961, renunciou em agosto do mesmo ano.

Marcas

Apesar de breve, a governança janista deixava sua marca. Resumidamente, ambiguidades, surpresas e banalidades.



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Banalidades

O presidente normatizou a transmissão de ordens através de bilhetinhos. Ocupou-se de trivialidades quais uso de biquínis, brigas-de-galo, proibição da lança-perfume, etc.

Falando sério

Nas questões sérias envolvendo a política externa Jânio surpreendeu russos e americanos. Evidente que não foi a força do minúsculo PST a base que garantiu a vitória janista. A principal força da coligação era a UDN, partido historicamente alinhado aos interesses dos Eua.

No entanto

Para surpresa geral Jânio adotava política independente e nisso contrariava os EUA e os seus apoiadores udenistas. Manifestou-se contra o bloqueio econômico dos Eua à Cuba. Desejo de reatar relações diplomáticas com a URSS interrompidas no governo Dutra por determinação dos EUA. Condecorou heróis comunistas, o cosmonauta russo Yuri Gagárin e o Comandante Ernesto Che Guevara.

O Corvo pula o umbral

O assaz golpista da UDN Carlos Lacerda, o Corvo, salta do umbral palaciano, rompe com Jânio e publica matéria denunciando suposta trama do presidente para fechar o Congresso Nacional.



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Blefe?

Jânio Quadros apresentou a sua renúncia em 25 de agosto de 1961. Para alguns, uma jogada política, blefe no qual apostava todas as fichas dos capital de 5 milhões de votos para obter poderes amplos de cônsul romano. Jogada, ou não, Jânio perdeu o cargo de Presidente. O golpe de 64 cassa os seus direitos políticos e fica fora da ribalta.

O retorno

Com a redemocratização, em 1985, Jânio volta à ribalta na disputadíssima eleição para Prefeito de São Paulo. Os institutos de pesquisas davam como certa a vitória de Fernando Henrique do PSDB. No segundo lugar ficava Eduardo Suplicy do PT. Jânio figurava em terceiro. Os jornais publicaram foto de FHC sentado na cadeira de Prefeito, antes do pleito, mas ele perdeu.

Urnas

Na única pesquisa válida do voto popular, a da urna, Jânio ultrapassou todos os concorrentes favoritos e venceu.
O troco janista foi bizarro. No primeiro dia de trabalho como prefeito eleito da capital posa para foto borrifando a cadeira com desinfetante. Questionado, respondeu: “Desinfeto porque nádegas indevidas a sentaram!” O exótico populista morreu em 1992, na cidade de São Paulo, aos 75 anos. Sem mais nádegas a declarar.

*Natanael Sarmento é professor e escritor. Do Diretório Nacional do Partido Unidade Popular Pelo Socialismo – UP/80.



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