
Cultura, Sobre a Diversidade de um conceito – 5 – Cultura e Publicidade Por José Nivaldo Junior*
06/06/2025 -
A contribuição da publicidade para a cultura da humanidade é muito, mas muito maior do que se imagina.
As pessoas estão acostumadas a pensar propaganda como anúncios em placas ou letreiros na rua, filmetes na televisão, anúncios na mídia impressa ou, atualmente, nos meios digitais. Mas, como disse, essa visão contemporânea não engloba nem meio por cento do que a comunicação em geral e a publicidade em particular representam para a construção do nosso patrimônio material e imaterial.
Nesse texto, não vou me preocupar com exaurir assuntos.
Apenas levantar tópicos instigantes que ampliem a compreensão e possibilitem a qualquer leitor dimensionar a inestimável contribuição que nós, publicitários e "marqueteiros" em geral, demos para o mundo ter a dimensão cultural que possui.

E no início …
Era o verbo. Você já parou para pensar que a Bíblia, em sua maior parte, é composta por textos com intenções publicitárias?
O Antigo Testamento contém uma estratégia comunicativa desenvolvida para dar identidade, unidade e perspectivas para o povo judeu. É a segunda peça publicitária mais bem sucedida do mundo. Mantém um povo unido milênios afora, o único no Ocidente que vem direto da antiguidade aos nossos dias.
A primeira obra publicitária mais bem sucedida é a continuidade da anterior. Trata-se do Novo Testamento, quatro textos de propaganda cuja repercussão ao longo dos séculos não é preciso ressaltar. Destaco que uma leitura rápida de qualquer dos quatro evangelistas, principalmente Mateus, vai encontrar pérolas publicitárias a cada capítulo.

Monumentos
As pirâmides eram monumentos publicitários. Seis mil anos depois, sabemos o nome dos seus patrocinadores. Os templos, obeliscos, estátuas monumentais do Egito Antigo, Mesopotâmia (atual Iraque), Pérsia (atual Irã), tudo eram peças de propaganda. Hoje, temos outdoor descartados em 15 dias. Os de Xerxes ou Ramsés duram até hoje. Podem ser contemplados nos principais museus do mundo e ainda muitos em seus locais de origem.
Você cita Davi, Salomão, Dario, Alexandre, graças aos seus feitos. Mas ficaram imortalizados principalmente graças à sua publicidade. Se não fosse o Mausoléu, outra perfeição em propaganda, quem saberia da existência de um certo rei asiático chamado Mausolo?
Métodos e Técnicas
O rei Dario, já citado, reuniu especialistas em comunicação e sistematizou a propaganda. Fazia pesquisas, através dos "olhos e ouvidos do rei". Estruturou uma rede de estradas e estafetas. Recebia notícias dos mais remotos pontos do seu vastíssimo império em no máximo três dias.
Na Grécia, bem, os resultados do marketing de homens e deuses ainda pode ser visitado ao ar livre, além do que se vê nos museus. Um registro: Alexandre, "O Grande" (slogan perfeito, quem no século XX criou um melhor? ), teve o mais famoso marqueteiro de todos os tempos. Nada menos que Aristóteles, que escreveu textos que viraram filosofia e poucos percebem sua origem publicitária.
Afinal, o ser humano é ou não um "animal político", como ele disse?
Aristóteles também concebeu um projeto cultural para Alexandre que se expressou materialmente na construção de cidades culturais. Foram 32 Alexandrias ao todo. A menor delas ocupava uma área superior ao Plano Piloto de Brasília. Todas com obras gregas e espaços culturais. A Alexandria do Egito, que tinha o farol e a biblioteca mais famosa de todos os tempos, é apenas a mais conhecida delas.
Ainda sobre Alexandre e seu magno assessor: da cabeça publicitária de Aristóteles surgiu a ideia de promover a mistura de povos e culturas, de onde resultou o Helenismo, fusão da cultura grega com a do Oriente. Graças a uma sacada publicitária, nunca mais o mundo foi o mesmo. Sendo repetitivo, produto da propaganda greco-macedônica para facilitar a convivência com os povos conquistados.

E Roma?
Ninguém tratou a propaganda como os romanos. Para não encher o texto de detalhes, as estátuas dos grandes políticos estão por ai... Os livros de Cesar eram puras peças de propagandas, na época, o que hoje chamava -se publicidade era denominado de "comentarii". César escreveu vários. Os mais famosos são as suas versões sobre a guerra gaulesa ( Comentarii de Bello Gallico") e sobre a guerra civil que travou para chegar ao poder. ("Comentarii de Bello Civili") . Ou seja, os aclamados best-selles de Júlio César, nao passam de primorosas peças de propaganda. Não estou "descobrindo" nada, apenas lendo no título. Ainda de César (Ou seus marqueteiros, sabe-se lá), os maravilhosos slogans " Vim, Vi e Venci" Ou "A Sorte está lançada". Frases que dizem tudo que o momento exigia e se tornaram eternas.
Ninguém superou os romanos na propaganda política, sequer os nazistas que os copiaram. A Águia romana ainda é tão conhecida como a suástica. Ninguém montou espetáculos, desfiles, triunfos, símbolos e movimento como eles. O Coliseu e os Aquedutos, peças que uniam utilidade e propaganda, continuam inspirando a arquitetura até hoje.
O Cristianismo
Como todas as religiões, era pura propaganda. Os templos gregos, as mesquitas muçulmanas, as catedrais góticas, os mosteiros, tudo concebido para fazer propaganda.
A igreja católica é craque. Transformou a cruz de símbolo de humilhação e dor no mais difundido logotipo de todos os tempos. E os sinos? E os sermões? E o catecismo? E o próprio Vaticano? E as epístolas de Paulo? As obras de Agostinho, Tomás de Aquino?
Propaganda medieval e renascentista
Na Idade Média, a propaganda ditou da Heráldica ao formato dos Castelos. A Comédia de Dante é uma peça genialissima de propaganda, onde ele distribui personagens do seu tempo no Céu, purgatório ou inferno. Pois foi neste último que o autor colocou o papa da época.
Na Renascença, a propaganda dos príncipes e papas nos levou de Moisés à Capela Sixtina, para ficar só no publicitário Michelângelo. Da Vinci, Rafael e tantos outros produziam contratados para exaltar os grandes patrocinadores da época, chamados de mecenas. Lei do Mecenato, o termo vêm daí.
A necessidade de fazer propaganda levou Lutero a traduzir a Bíblia do latim e nesse processo consolidou a formação da língua alemã.
No contexto da Reforma, a igreja católica reagiu. Criou entre outras coisas a Congregação para evangelizar os povos, sediada no " Palazo di Propaganda Fide", na famosa Piazza de Spagna, vizinha da Via di Propaganda, em Roma. A fé originou o uso da palavra propaganda com o sentido atual.
O Poder
E nem vou falar de Maquiavel, cuja obra mais conhecida, O Príncipe, já analisei como peça de marketing político no meu livro "Maquiavel, O Poder". Nem de Shakespeare, que escrevia sob encomenda. Pulando no tempo, vou apenas mencionar o "Manifesto Comunista", panfleto de publicidade que ainda hoje vende como água. Ou o Mein Kampf, o livro que Hitler escreveu para divulgar suas ideias. Sem esquecer que 90 por cento da produção cinematográfica do século XX não passa de pura propaganda.
Visível aos olhos
Acho que o essencial ficou bem claro. Agora, descubra outros exemplos da inestimável contribuição da publicidade para a cultura. Basta abrir os olhos e a janela.
O essencial da contribuição da publicidade para a cultura está bem visível aos olhos.
José Nivaldo é Jornalista, publicitário, historiador e profissional de Marketing Político desde 1978. Faz parte da Academia Pernambucana de Letras desde 2015.

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