
É Findi – Tantos Francisquins, crônica, por Xico Bizerra*
07/06/2025 -
Francisquim de Quixadá é seu nome; rabiscar palavras e apelidá-las de Poemas, seu ofício. Assim, sem querer, ajuda a vulgarizar o título, a banalizar a expressão: hoje, todos são Poetas, todos se tratam por Poetas, como se Poetas fossem. Assim como esse Francisquim, da distante Quixadá, que se diz Poeta, se acha Poeta e adora por este título ser tratado. Faz seus versinhos, de quando em vez, utiliza rimas paupérrimas e é desobediente nos quesitos métrica e ritmo em seus poemas (se é que assim podemos chamá-los). Não apenas pés, mas versos de pés, mãos, pernas e braços quebrados. Versos ortopédicos, digamos. Tampouco podem ser seus pretensos poemas classificados como modernos, de tão banais que são.
O de Baturité
Outro Francisquim, o de Baturité, é tão Poeta quanto aquele seu xará, de quem tratamos acima. É, igualmente, pouco afeito às rimas e aos versos. Incautos insistem em nominá-los Poeta e o de Quixadá, de peito cheio e ego lotado, diz, num autoelogio, ser o Poeta mais importante de sua rua. E ele não mente: na rua em que mora só há uma casa, a sua. E ele mora só. Não tem concorrentes. Mas os dois Francisquins são gente boa. Apenas não merecem o título de Poeta, ao contrário de Louro, Pinto, Patativa, Bandeira, de Barros, João Cabral, Penna Filho, Quintana, estes, sim, Barbos verdadeiros.
Eu também sou Francisquim
E apenas para que não restem dúvidas, repito o que já disse em crônicas anteriores: me incluo entre os indevidamente chamados de Poeta. Não sou nem tenho a menor pretensão de sê-lo. Apenas escrevo minhas baboseiras, ajunto palavras e caço rimas, além de, de quando em vez, rabiscar letras de música popular. Sou, digamos, o Francisquim do Crato. Poeta é uma coisa muito maior. Coisa para gente da estatura do chileno Neruda, do luso Fernando Pessoa, do americano Whitman, além dos nativos antes nominados. Salve, salve o Poeta Poeta!
*Xico Bizerra, é compositor, poeta e escritor.
