Astrobiólogos têm a ideia de lançar micro-organismos, enviados por sondas, em locais como uma das luas de Júpiter chamada Encélado onde observarão seu desenvolvimento na água que supõem existir lá.

Essa mesma água, dizem outros cientistas, poderá ser transportada para cá e ajudar na continuidade da nossa vida, além de gerar energia usada aqui mesmo e nas paradas estratégicas em futuras viagens espaciais, à trabalho ou à passeio.

Os protozoários, ou outro micróbio que apareça, evoluirão no desenrolar de eras terráqueas, quiçá uma nova e precisa referência de tempo por nós arbitrada.

À bem da verdade, há tempos inventamos ferramentas, sentimentos, situações, condições favoráveis e desfavoráveis, mas criamos. Graças a capacidade de imaginar e dar existência estamos aqui, nesse momento, especulando ou imaginando possibilidades futuras.

Então, somos criadores.

Mas, a partir de que momento, na estrada da existência, iniciamos essa tarefa? E além, como chegamos até ele?

Parece que nossos olhos ainda não aprenderam a enxergar esse fio de luz, nos achados encontrados nas ruas e cidades desenterradas... submersas, nos desenhos monocromáticos em paredes de pedra de milenares cavernas, nas ossadas, fósseis e múmias brotadas dos quatro cantos da Terra, tão pouco nos escritos de símbolos dos povos mais antigos.

Revisando o que já conhecemos e fazendo o caminho inverso, caminhamos por todo o planeta, pulamos de galho em galho, rastejamos em florestas e nadamos por lagos e mares e por tempos cujos números completariam algumas dessas páginas, nas formas e tamanhos mais variados possíveis, até chegarmos ao nosso querido e prezado amigo:

Micróbio.

Dito assim e visto a semelhança, falta a nós procurar quem nos colocou nessa posição. Talvez um dos que procuramos qual desvairados pelo universo. Qual seria sua aparência? Será que depois de tanto tempo terá ele a mesma? Fará ele a contagem do tempo do nosso modo? Será ele do mesmo universo? Será que ele existe? A esse transloucado questionário, creio que resta uma única certeza.

Somos criaturas.


*AJ Fontes, contista e cronista, engenheiro aposentado, e eterno estudante na arte da escrita, publicou o livro de contos: ‘Mantas e Lençóis’.