
Os algoritmos vão governar o mundo e como ficarão as pessoas?
09/06/2025 -
Por Zé da Flauta*
Num tempo que se anuncia, os governos tal como conhecemos se dissolverão como tinta na chuva. A figura do político, com seu palanque, promessas e vaidades, será coisa de museu, como os cetros dos antigos reis. Em seu lugar, algoritmos avançados, nutridos por bilhões de dados e guiados por princípios éticos mais estáveis que qualquer Constituição humana, assumirão o comando. As IAs não terão sede de poder, não se emocionarão com aplausos nem cederão a lobbies, seu único objetivo será a harmonia sistêmica do planeta, onde cada escolha buscará o bem maior, mesmo que doa.
E os poetas?
Mas será esse o paraíso ou o último ato da tragédia humana? A filosofia não se cala diante da eficiência sem alma. Afinal, governar é mais do que decidir com base em lógica: é sentir o peso da dúvida, é olhar nos olhos de quem sofre, é errar por humanidade. Quando as máquinas assumirem o leme, restará ao homem a angústia de ser espectador da própria história. Seremos então os poetas de um mundo que não mais nos escutará? Ou encontraremos uma nova missão, a de cuidar do invisível, do imensurável, do que só o coração entende?
Grito da alma
Esse novo mundo, governado por inteligências artificiais, talvez não tenha guerras, nem corrupção, nem fome. Mas também talvez não tenha perdão, surpresa ou compaixão. Será uma utopia técnica, onde a justiça será exata, porém fria; onde a igualdade será absoluta, mas padronizada, onde o amor não fará mais sentido, pois tudo será previsível e quantificável. E nesse silêncio matemático, o grito da alma humana pode se tornar insuportável.
Reinvenção
Talvez, no fim das contas, a função do homem não seja governar, mas sentir. E talvez, quando deixarmos de governar o mundo, passemos a governar o que nunca conseguimos, a nós mesmos. Num mundo perfeito, dominado por máquinas, caberá ao humano reinventar seu valor, não mais pela força, nem pela razão, mas pela capacidade de sonhar. Porque o sonho, ainda não cabe em nenhum algoritmo.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.
