
Adeus! 1° Marquês de Vargas Llosa. - Por Jarbas Beltrão*
10/06/2025 -
A morte do poeta, escritor, ensaista e professor universitário Vargas Llosa, deixa em aberto a vida de luta pela liberdade.
Vargas Llosa
Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, 1º Marquês de Vargas Llosa, nascido na cidade peruana de Arequipa, célebre por suas casinhas de pinturas branquinhas - que eu antes de chegar a Machu Pichu tive a honra de visitar, nesses meus périplos pelo mundo - nos deixou neste ano de 2025. Sim, Vargas Llosa, nascera em Arequipa, no dia de 28 de março de 1936, e no dia 13 de abril do ano que vivemos, 2025, faleceu na cidade de Lima, a capital do Peru. Vargas Llosa foi escritor, político, jornalista, ensaísta e professor universitário peruano; o Marquês de Vargas Llosa foi um dos romancistas e ensaístas mais importantes e badalados da América Latina e, um dos principais escritores de muitas gerações.
Impacto internacional
Sobre Vargas Llosa, muitos admiradores e críticos da literatura Latino-americana consideram que ele teve com suas obras, um impacto internacional, tendo arrancado grande admiração no mundo das letras, e seus admiradores o consideram maior, até mesmo, que qualquer outro, escritor do "boom" latino-americano, posterior à 2a. GM.
Confissões de Llosa
Llosa muito antes de sua morte, trouxe a público uma confissão altamente reveladora, daquilo que foi seus sonhos e porque não dizer de toda uma geração do mundo pós 2a. GM. Como todo jovem de então encantou-se com os ideais do socialismo científico revolucionário, que diga-se de passagem, desde a vitória bolchevique de 1917, conquistou corações e mentes de intelectuais dos mais diversos campos: literatos, poetas, filósofos, cientistas naturais e sociais, professores, juristas, artistas, etc. A sentença era, se não fosse socialista marxista, era assumir confissão de reacionarismo, atrasado, alienado, imbecil pequeno burguês.
Em fala bem antes da morte. Jorge Mário Pedro. Vargas Llosa, afirmará: "...na minha juventude, como a maioria dos jovens da minha época, e intelectuais, fui marxista apoiavamos o regime vertical da União Soviética, assim como a sanguinária Revolução cubana (...) O tempo encarregou-se de nos ensinar o quanto estávamos equivocados".
Ser de esquerda
Reconheçemos, a honestidade e veracidade, expressas na fala do grande literato latino-americano. Apesar de uma diferença de idade, eu também ainda vivi os tempos da ilusão revolucionária, assim como tantos outros jovens estudantes, durante, especialmente, o período dos governos que se seguiram, ao movimento civil-militar de 1964.
Lembrança
Me vem a lembrança, os brasileiros, alguns jovens estudantes, colocaram-se na luta contra o arbítrio político da época. Pagaram com prisões, processos, torturas, desaparecimentos temporários ou definitivos. Muitos idealistas foram arrancados do convívio de amigos e familiares.
Retomada da fala.
Mas retomemos a fala de Llosa, ele, também foi seduzido pelo sonho de uma Revolução socialista, conseguiu superar, as prisões, dentre essas prisões, a cognitiva, que leva a arrogância de quem acha ter a verdade sob seu controle que, permitiu o reconhecimento pessoal, expresso na sua fala de negação de um passado socialista.

Anos de chumbo
No período que tivemos dos governos dos generais, chamado "anos de chumbo", foi marcado pelo desmanche das organizações de esquerda, terroristas - ou não - que mais apareceram no campo das oposições. Entretanto, foi período de grande expansão econômica, o país chegou a ter crescimento de dois dígitos, e o Brasil foi alçado de um distante lugar mundial de país atrasado, para uma nova posição no ranking mundial das nações, alcançando o 8° lugar nesta tabela, e em alguns momentos até 6°. O crescimento, chamado : "milagre econômico", se deu a partir de entradas de capitais de corporações mundiais, expansão do Estado Nacional, ampliação da infraestrutura do país. Cresceu o mundo empresarial, o número de trabalhadores, em vista das novas empresas industriais e comerciais e expansão de grupos das classes médias tanto vinculada ao Estado, como a hierarquia empresarial.
A esquerda apropriou-se do monopólio da oposição
A partir das experiências de oposição ocorridas nesse momento, a esquerda construiu, para sua responsabilidade, a narrativa de força exclusiva na luta contra o regime politico de então, a narrativa, até hoje, apresentada pelos grupos de esquerda, e acatada pelo senso comum, tem apresentação dos grupos da "extrema esquerda" , como força, quase exclusiva, da oposição ao regime político ditatorial daquele momento. A "extrema esquerda", construiu uma exclusividade de resistência, obliterando a resistência de outros grupos opositores. Um terrorista, mais tarde anistiado, e deputado federal, disse grande verdade, ele, Fernando Gabeira" A esquerda era contra a ditadura, mas queria substituí-la por uma outra ditadura - a ditadura do Proletariado".

Llosa e Gabeira
Vargas Llosa, fez na sua fala afirmação semelhante a de Gabeira, Os jovens se iludiam, com o socialismo, e a Revolução de Cuba; para aquela juventude era o exemplo de luta contra o "capitalismo opressor",a União Soviética, acreditavam ser, o arcabouço do "futuro promissor" de uma sociedade igualitária. O delírio deu em nada, com a Queda da União Soviética e do socialismo real europeu, as brechas de um regime autocrata ficaram expostas, atraso econômico, reinado dos PCs, fome, miséria, trabalho semi-escravo dos gulags, tá tudo aí escancarado, depois da abertura parcial dos Arquivos Secretos de Moscou - agora fechado pelo fitador Putin - e de outras agências de informações das Repúblicas Socialistas.
Acordados dos sonhos
Acordados dos sonhos, olhando para a realidade histórica, não se pode encontrar nas ruas aqueles que se foram, levaram seus sonhos, Llosa abriu a caixa preta das ilusões e equívocos, sim, mas, Jorge Amado, e muitos outros fizeram o mesmo.
Tenho Dito
*Jarbas Beltrão é Historiador, professor de História da UPE. Mestre em Educação pela UFPB, MBA em Política, Estratégia, Defesa e Segurança pela Adesg (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) e Faculdade Metropolitana de São Carlos/SP.
**Os artigos assinados refletem a opinião dos seus autores. O Poder está sempre aberto a contestações e ao contraditório.
