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Não tirem a utopia, preciso do coração para viver. Por Flávio Chaves

11/06/2025 -

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Acordei com a frase inteira dentro de mim. Não era sonho nem pensamento solto: era palavra viva, pulsando no limite do indizível, como se tivesse vindo de um lugar anterior à linguagem — talvez de um tempo em que o verbo ainda era silêncio e o sentimento era o único idioma.

Horas


Demorei alguns minutos, talvez horas, para entender o que me dizia aquela sentença que não me pediu permissão para nascer. Ela não era uma frase qualquer: era um sussurro de urgência, um pedido íntimo, um grito calado. Era como se o próprio coração, esse órgão insubmisso e rebelde, tivesse encontrado voz para dizer que já não aguenta mais sobreviver sem sonho.

Dias

Porque tem dias que o mundo se apresenta árido demais. As manchetes escorrem sangue, os sorrisos vestem máscaras, as mãos hesitam, e os abraços se escondem entre o medo e o protocolo. Tem dias que até a beleza parece pedir licença para existir. Nesses dias, a esperança se torna um bem escasso.

E é exatamente nesse vácuo , entre o cansaço e o desencanto,  que a utopia se ergue, não como luxo, mas como necessidade vital.

Manhã

Aos poucos, como se fosse manhã abrindo as janelas do tempo, eu entendi: não era só pensamento. Era confissão. Era defesa. Era sobrevivência. E como um eco saía de dentro de mim: Não tirem a utopia, preciso do coração para viver.

Utopia

A utopia que me sustenta não é fuga. É fôlego. Não é ilusão. É farol. Ela não se propõe a ser alcançada, sua missão é manter-nos caminhando. Ela não promete chegada: oferece sentido. E sentido, nestes tempos, é mais valioso que vitória.

Matéria

Para quem sente demais - e eu sou feito dessa matéria, a utopia é bússola no caos, é música no silêncio, é ternura viva diante da brutalidade programada. Arrancar a utopia de alguém que ama profundamente é empedrar-lhe o peito. E um peito endurecido é a antessala do fim.
Já vi gente demais desistir de sonhar para não sofrer. Mas eu sei, e você também sabe, no fundo, que há dores que só a utopia consola.

Encantar

Não tirem de mim o dom de me encantar com a gentileza, de me ferir com a injustiça, de me emocionar com o voo de um pássaro ou com o riso de uma criança. Não me supliquem que eu abra mão do ideal de um mundo mais justo, mais terno, mais habitável. Porque viver, para mim, nunca foi apenas respirar, cumprir metas ou atravessar calendários.

Viver

Viver é pulsar com o outro. É chorar pelo que ainda não chegou. É desejar a beleza como quem deseja abrigo. É lutar com ternura. Amar com coragem. Resistir com poesia.
Não me peçam que eu viva sem sonho.O coração ainda é meu último território.
E sem ele, tudo vira exílio. Tudo se torna deserto.

Deserto

Mas mesmo no deserto, ainda é possível levantar uma tenda de esperança. Uma flor teimosa pode nascer entre as pedras. E eu continuo aqui, respirando fundo, como quem acredita que ainda vale a pena ser abrigo para o que não morreu. E também para o que morreu,  porque até o que foi sepultado merece uma vigília de afeto, um gesto de memória, um último aceno de luz.

Flávio Chaves é Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc

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