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Gago Coutinho e Sacadura Cabral - Os aviadores loucos que não mediam núvens por Zé da Flauta*

16/06/2025 -

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Dizem que português quando não está sonhando, está navegando. E quando não há mais caravelas, inventa um avião. Em 1922, dois desses teimosos da pátria de Camões, Sacadura Cabral, um aviador de Lisboa com cara de herói de romance barato, e Gago Coutinho, um algarvio sério de São Brás de Alportel, que lia as estrelas como quem lê jornal, decidiram voar de Portugal ao Brasil. Sem GPS, sem Google Maps, sem playlist no fone de ouvido. Só coragem, matemática e uma fé desatinada em que o céu não haveria de lhes faltar.






Teimosia

A missão era simples no papel e suicida na prática, cruzar o Atlântico Sul em um hidroavião de pano e madeira, em homenagem ao centenário da independência brasileira. Mas como toda homenagem digna, envolveu drama. O primeiro avião afundou, o segundo quebrou, e o terceiro, o Santa Cruz, foi empurrado por um destino que parecia rir entre as nuvens. E eles foram indo, como dois Dom Quixotes do ar, lutando contra moinhos de vento tropicais e tempestades que não estavam no mapa. Porque quem tem um bom navegador e um piloto meio doido não precisa de bom tempo, precisa de teimosia.





Em Recife

Mas o mais bonito disso tudo, é que eles não queriam provar que eram deuses do ar, queriam provar que o impossível é só uma teimosia que ainda não decolou. Gago Coutinho, com seu sextante inventado, dizia que o céu dava mais pistas que a terra. E Sacadura acreditava que as nuvens tinham vontade própria. Dois homens que ousaram mais do que prometeram. E quando chegaram em Recife, no dia 17 de junho de 1922, carregando sal nos ossos e um silêncio nos olhos, sabiam que tinham feito mais que uma viagem: tinham unido continentes com um rastro de humanidade flutuando sobre o oceano. E foi ali mesmo, na Veneza Brasileira, que ganharam uma estátua, que até hoje resiste firme ao lado do Fórum Thomás de Aquino, vigiando o tempo com cara de lenda.





Coincidência

E olha só, foi um Cabral que trouxe a primeira caravela, e foi outro Cabral que trouxe o primeiro avião. Parece que Portugal tem mesmo o dom de nos atravessar. Hoje, quando um avião cruza o Atlântico em poucas horas e o passageiro reclama da poltrona apertada, é bom lembrar que um dia voar foi milagre. E que há séculos e céus, sempre teve um Cabral à frente, insistindo que, entre o velho mundo e o novo, cabe mais que mares: cabe um sonho em linha reta.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.

NR - As fotos do monumento são da restauradora Karla Grimaldi
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