
Escola de Sargentos é um crime ambiental segundo ambientalista
18/06/2025 -
O Poder tem uma posicão clara de apoio à instalação da Escola de Sargentos em Paudalho, conforme o projeto original, com replantio de área equivalente ao que será devastado. No entanto, fiel ao seu princípio de estimular o contraditório, dá voz à todas as correntes. Nesse sentido, fomos ouvir uma voz enfaticamente contraria ao projeto. Milton Tenório,
Profissional liberal, ativista ambiental e morador de Aldeia. Eis a nossa conversa.

O Poder : Quais os argumentos para ser contrário à instalação da Escola de Sargentos do Exército no local previsto ?
Milton Tenório : Não é só uma Escola de Sargentos do Exército ,é um complexo militar ,com duas vilas militares, campo de tiro e outros equipamentos.
A construção da Escola de Sargentos do Exército dentro da APA Aldeia-Beberibe, no Grande Recife, é um escândalo anunciado. Trata-se de um crime ambiental em plena Mata Atlântica, que prevê a destruição de cerca de 200 mil árvores em uma das regiões mais estratégicas para a preservação ambiental e comprometer o abastecimento de água para cerca de um milhão de pernambucanos. É um ataque direto à biodiversidade, aos mananciais e à inteligência da população.
Mais do que devastar a flora, o projeto ameaça a fauna já fragilizada, onde das 38 espécies de mamíferos da Mata Atlântica com algum grau de ameaça de extinção (ICMBIO, 2018), 6 ocorrem na APA Aldeia-Beberibe, dentre elas o Gato do Mato e o Gato Maracajá , correspondendo a 16% dos mamíferos ameaçados para o bioma, além de comprometer as nascentes do Rio Catucá, único rio que alimenta a Barragem de Botafogo . Em vez de zelar pela segurança hídrica, o Exército avança com uma obra megalomaníaca, orçada em R$ 1,8 bilhão.
Não há justificativa plausível para instalar uma escola militar em cima de nascentes ,desrespeitando decretos estaduais que protegem os mananciais e os corredores ecológicos .O que deveria ser um espaço de formação cidadã se converte em um exemplo desastroso de desprezo pelo meio ambiente .Que lição se pretende dar aos jovens ? Que destruir florestas e comprometer o futuro do planeta é aceitável ?

O Poder - A área de Mata Atlântica a ser efetada é original ou resultado de replantios ?
Milton Tenório - A área onde o Exército Brasileiro quer desmatar ,é uma área da União e sob o domínio dessa instituição.
Outrora Engenho Aldeia, hoje CIMNC e que foi desapropriado para treinamento de militares na 2° Guerra Mundial .
A Mata da Miritiba, como é seu nome , se regenerou com o passar dos anos e lembrando, que essa Mata está inserida nos corredores ecológicos da APA Aldeia Beberibe, criado em 05/06/2019 pelo então Governador Paulo Câmara .
Do KM 20 ao KM 30 da PE 027 Estrada de Aldeia, dentro do CIMNC tem a maior faixa continua de Mata Atlântica acima do Rio São Francisco.
Segundo estudos apresentados por docentes das Universidades UFPE, UFRPE, UFAL e o Fórum Socioambiental de Aldeia, o estudo da referida área e os impactos ambientais desse projeto foram apresentados para a Sociedade Civil e Governamental no auditório da UFRPE e ainda publicado em revista científica internacional .Os números desse impactos são assustadores e preocupantes .
Nessa área as árvores tem uma altura média de 30 metros e levaram anos para se regenerar.
Uma árvore grande com uma copa de 20 metros de diâmetro, chega a botar na atmosfera 1000 litros de água por dia. São verdadeiras máquinas de produzir água, para o consumo humano, para a agricultura, para as empresas de cervejaria e as fontes de água mineral da região.

O Poder - Um replantio das espécies da Mata Atlântica em área similar ou maior, na mesma região que será afetada, não mantém o equilíbrio ecológico atual na Zona da Mata de Pernambuco ?
Milton Tenório - Não existe compensação ambiental para mananciais, para nascentes de rios ou de um bioma já consolidado e não se mantém equilíbrio ecológico devastando uma área equivalente a cem campos de futebol, procurar outra área e ainda gastando mais do erário público para tais fins.
Insistir nessa área o Exército terá que abrir licitação, contratar empresa e fazer inventário de árvore por árvore, resgate de animais silvestres, levando mais tempo e correndo risco de judicialização.
O Exercito Brasileiro precisa atender as alternativas locacionais, seria menos desgastante para a instituição que já não anda com sua imagem muito boa e para a sociedade civil que já sente os efeitos da crise climática e não tolera sequer ver a derrubada de uma árvore, imagine de 200 mil.
Isso vai cair mal para o Exército , Governo Federal e Estadual em pleno ano da COP30! Certamente esse crime ambiental vai cair na conta da pressão não só nacional como internacional.
O Poder - Como você viu a escolha da Escola de Sargentos do Exército em Pernambuco?
Milton Tenório - Vejo com muita preocupação, tanto economicamente quanto politicamente.
Embora tenha sido propagado que será um grande empreendimento que vai gerar emprego e renda ao Estado, esses números nunca foram apresentados.
Para se ter uma ideia dos exageros, um deles foi numa audiência pública na Alepe o Secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, comparou esse complexo militar que só chamam de Escola de Sargentos com o Complexo de Suape, no qual eu rebati tal comparação quando tive direito a fala, mesmo não sendo economista. Comparação esdrúxula, absurda.
Politicamente, discordei desde o princípio com alguns Coletivos que seguiram o Slogan "Escola de Sargentos Sim, desmatamento Não! Pessoalmente não concordo com essa leitura, porque deveria sim perguntar lá atrás qual a finalidade de sargentos na nossa sociedade? Quanto vai custar a formação de um sargento do exército nessa escola?
Para formar tecnólogos é preciso gastar tanto? Tecnólogos é um curso ofertado em várias Universidades públicas e privadas desse País, até mesmo em AD.
São essas perguntas que movimentos sociais e a Sociedade Civil começaram a se fazer e se antes o Exército anunciasse esse projeto num local sem atentar contra o meio ambiente talvez não teria despertado tais indagações.
Um bilhão e oitocentos milhões para implantação desse Complexo Militar num País onde faltam verbas para as Universidades Públicas é o que podemos chamar no mínimo de uso inadequado de recursos públicos.
Também vejo como estratégia , palavra inclusive usada pela alta cúpula do exército, a escolha de duas escolas militares no Nordeste. Com toda essa movimentação, formações "escolares" em Pernambuco com a Escola de Sargentos do Exército e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) em Fortaleza no Ceará, não tenho duvida em afirmar que foram de cunho ideológico.
O Poder - Como vê a participação do Ministro da Defesa José Múcio Monteiro nessa pauta ?
Milton Tenório - É inadmissível que o Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro - pernambucano - esteja à frente de uma ação tão desastrosa para seu próprio estado. Enquanto seu primo, o empresário Eduardo Queiroz Monteiro, do Grupo EQM, mantém mais de 11 mil hectares de Mata Atlântica preservados. Múcio se torna um símbolo do negacionismo climático, patrocinando a destruição de uma das áreas mais sensíveis do território pernambucano.
Fiquei feliz ao saber recentemente que o Ministro José Múcio Monteiro de fato tem aberto um diálogo concreto com os ambientalistas .
Acredito que o Ministro, o Exército e o Governo do Estado subestimaram a capacidade de mobilização da sociedade civil e dos movimentos sociais. Espero que esse diálogo leve as alternativas locacionais e parem com esse negacionismo climático .
Os vídeos produzidos por vários artistas locais e nacionais, dentre eles Maciel Melo, Antônio Nóbrega, o médico e poeta Wilson Freire, Jessier Quirino, Xangai , Silvério Pessoa, Helder Vasconcelos, Geraldo Maia, Cannibal, Flaira Ferro, Lucinha Guerra, Fabiana Pirro, Otto, Evandro Mesquita, o Campeão Mundial de ondas gigantes Carlos Burle, a cineasta Kátia Mesel, a influencer e empresária Maria do Céu e tantos outros nomes mostraram a indignação com tal projeto e até políticos do Estado como a Presidente do Meio Ambiente da Alepe a deputada estadual Rosa Amorim, a deputada estadual Dani Portela, a vereadora de Olinda Eugênia Lima, as Vereadoras do Recife Jô Cavalcanti e Liana Cirne. Tendo repercutido bastante nas redes sociais.
Quem tem contribuído na esfera Federal, o único por sinal é o Deputado Federal Túlio Gadelha, sempre sensível as causas ambientais.
Nossa luta continua, estamos organizando outros atos e o Movimento Gato Maracajá junto com outros companheiros estamos preparando um grande ato cultural em defesa da APA Aldeia Beberibe.
O Poder - Como os ambientalistas avaliam a governadora Raquel Lyra no caso?
Milton Tenório - A governadora nunca recebeu os ambientalistas e fez pior. A omissão ou conivência do Governo de Pernambuco merece repúdio. A governadora Raquel Lyra utilizou a máquina pública e o CRPH para pedir a derrubada da decisão da juíza da Comarca de São Lourenço da Mata, que proibia obras públicas e privadas nos corredores ecológicos. E o presidente do TJPE, desembargador Ricardo Paes Barreto, atendeu ao pedido em decisão monocrática, escancarando o caminho para o desmatamento em larga escala. A Governadora nunca recebeu os ambientalistas. O que é lamentável .
Ainda assistimos alguns órgãos governamentais do Estado cometendo greenwashing , termo em inglês para maquiagem verde.
Esperamos que a Governadora abra sua agenda para nos receber como fez o Ministro de Estado José Múcio Monteiro.

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