Por Zé da Flauta*

O brasileiro é, sem dúvida, um gênio da autossátira. Enquanto outros povos talvez prefiram um humor mais contido, o nosso é sem freio, sem eira nem beira, e, por isso mesmo, tão peculiar. Caímos no buraco e já estamos gargalhando antes de nos levantar. E, no meio de tudo isso, a piada vira resistência. Porque, aqui, rir é muito mais que um remédio; é o tempero da sobrevivência. E como todo bom cozinheiro, o brasileiro não gosta que mexam na sua receita. Agora, imagina só: querem tirar de nós o direito de fazer piadas? Aí é golpe baixo, minha gente!

Sem graça

Nosso processo eleitoral já virou meme há tempos. A urna que apita, mas ninguém vê o que ela canta, parece com alguns telejornalistas que dizem ter uma teoria infalível, mas nunca mostram as fontes. E nossos representantes? Muitos deles mais parecidos com personagens de novela mexicana, ora heróis injustiçados, ora vilões presos no próximo capítulo. Se isso não é roteiro de comédia, o que seria? E enquanto o executivo se encolhe como quem perdeu o controle do barco, o judiciário aparece como um super-herói improvisado, sem capa, mas com toga, ditando regras que ninguém pediu. Até aí, dá pra fazer um stand-up. Mas quando tentam censurar nossas piadinhas, aí é que o show deixa de ser engraçado.

Pimenta

Rir das nossas desgraças sempre foi nossa forma de enfrentá-las. Piadas sobre políticos, futebol, novelas, até sobre nós mesmos, tudo vira matéria-prima para nossa arte maior, a resiliência. Mas parece que a brincadeira está incomodando quem, no fundo, sabe que a piada é sobre ele. Censurar as redes é declarar guerra à alma brasileira, porque aqui, até a tristeza é zoada. Imagine só o peso de viver sem poder fazer uma piadinha, uma greia? É como tirar a pimenta do acarajé, perde-se a essência e ninguém mais quer repetir.

Reflexo

Se proibirem a gente de dar nossas opiniões, humoradas ou não, vai ser o caso de falarmos mais alto ainda, porque não tem poder ou decreto que controle a ironia que corre nas veias do Brasil. Nossas piadas são o reflexo do que somos, criativos, irreverentes e resistentes. E como diria aquele velho ditado que acabamos de inventar: podem até prender o comediante, mas nunca vão calar a piada. Então, se preparem, porque o próximo meme já está a caminho. Afinal, aqui no Brasil, quanto maior a seriedade deles, maior é o tamanho da nossa gargalhada!

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.

NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores.