Junho é conhecido como o mês da Conscientização da Saúde Mental Masculina, uma pauta cada vez mais necessária diante de dados alarmantes e da invisibilidade que ainda cerca o sofrimento emocional dos homens.

Embora os transtornos mentais atinjam homens e mulheres, eles são os que menos procuram ajuda profissional. Pesquisas indicam que apenas 35% dos homens considerariam buscar apoio psicológico, enquanto entre as mulheres esse número ultrapassa 58%. Como consequência, muitos enfrentam depressão, ansiedade, vícios e sobrecarga emocional sem acompanhamento adequado — e, em casos extremos, chegam ao suicídio.

Nos Estados Unidos, os homens representam cerca de 75% dos casos de suicídio. No Reino Unido, quatro em cada cinco suicídios envolvem homens, e a principal causa de morte entre os que têm menos de 35 anos é justamente o suicídio. No Brasil, apesar da carência de dados segmentados, especialistas confirmam que o índice entre homens também é elevado e crescente.

Para a psicóloga Wilma Soares, coordenadora de equipe de Psicologia da Reconciliar SPA Terapêutico, esse silêncio tem raízes culturais profundas. "A maioria dos homens foi ensinada a não demonstrar fragilidade, a não chorar e a resolver tudo sozinho. Só que esse modelo custa caro emocionalmente. Muitos só procuram ajuda quando já estão no limite. É essencial que existam espaços seguros onde eles possam ser escutados, respeitados e acolhidos em sua subjetividade. Em nosso trabalho clínico, temos visto o quanto isso faz diferença na prevenção e no cuidado com a saúde mental masculina", afirma.

Quebra do tabu

Iniciativas internacionais têm contribuído para quebrar esse tabu. A ONG britânica Andy’s Man Club realiza encontros presenciais e gratuitos voltados exclusivamente para homens. A campanha Man Therapy, nos EUA, usa humor para descontrair o tema e atrair quem normalmente evita esse tipo de conversa. Já na Austrália, o movimento The Men’s Table promove rodas de conversa entre homens para fortalecer vínculos e permitir trocas mais profundas sobre o cotidiano e os desafios emocionais.

No Brasil, campanhas como o Novembro Azul, tradicionalmente ligadas ao câncer de próstata, passaram a incluir ações voltadas à saúde mental. Com apoio de personalidades como Zico, Rubens Barrichello e Emerson Fittipaldi, o assunto começa a ganhar mais visibilidade também no meio esportivo e entre os mais jovens.

Além disso, depoimentos públicos de artistas como o britânico Russell Brand, que compartilhou nas redes sociais que “44% dos homens já pensaram em tirar a própria vida”, ajudam a quebrar o silêncio e encorajar outros a buscar ajuda. Fóruns e comunidades online também têm servido como válvula de escape para aqueles que não encontram espaço no círculo familiar ou profissional.

A mensagem central do mês é clara: buscar ajuda não é fraqueza, é um ato de coragem. E todos podemos colaborar — seja incentivando conversas abertas, ouvindo sem julgamento, ou orientando alguém a procurar ajuda profissional.