
O olhar que ninguém conseguiu apagar Por Flávio Chaves
20/06/2025 -
Havia um olhar que ele nunca esqueceu. E talvez nem fosse possível esquecer. Mesmo que quisesse, mesmo que o mundo inteiro conspirasse contra, mesmo que a vida se derramasse em outros caminhos, em outros amores, em outras geografias… aquele olhar estaria sempre lá, feito uma cicatriz bonita, feito um farol invisível guiando todas as madrugadas de solidão.
Olhava
Ela o olhava de um jeito que o mundo parecia desaparecer. Não era apenas um olhar de mulher. Era um olhar de quem sabia amar com todas as forças, com todos os nervos, com toda a alma. Um olhar que atravessava a pele, as roupas, as máscaras, os medos. E quando ela o fitava, ele tinha a certeza de que, naquele instante, não havia outro homem mais amado sobre a Terra.
Lugar
Se existia outro olhar assim em algum lugar do planeta, ele nunca viu. Nem em filmes antigos, nem nos livros que leu com a avidez de quem procura respostas, nem nas músicas tristes que ouviu em noites de chuva. Aquele olhar era só dela. E era só para ele.
Floresce
Mas como sempre acontece quando algo puro e verdadeiro floresce, vieram os que não suportam a felicidade alheia. Vieram os medíocres, os pobres de espírito, os que vivem mendigando migalhas de status, mesmo que, para isso, precisem se ajoelhar diante de quem os despreza. Vieram os que votam em seus algozes só para garantir um lugar na fotografia social. Vieram os frustrados, os incapazes de amar, os que vestem ternos de hipocrisia para esconder a alma esfarrapada.
Amor
Eles olharam para aquele amor como quem olha para um espelho que revela as próprias misérias. E odiaram o que viram. Porque enxergaram ali tudo o que nunca tiveram: um amor intenso, sem máscaras, sem cálculos. Um amor que não pedia licença, que não aceitava rótulos, que não cabia nas normas burguesas de um mundo podre.
Palavras
Tentaram destruir. Tentaram com palavras, com calúnias, com emissários de esquina, com olhares tortos em festas vazias, com alianças de conveniência, com risos forjados nas rodas da hipocrisia. Tentaram como crianças raivosas que rasgam fotografias achando que, assim, conseguem apagar os abraços que um dia existiram, os beijos dados em noites de entrega, os corpos que se buscaram com fome e desejo. Mas não conseguiram.
Duvidaram
Dividiram, sim. Espalharam os corpos em cidades diferentes, ergueram muros entre as vozes, criaram o silêncio onde antes havia riso. Mas acabar, não. Isso eles nunca conseguiram. Porque o que é verdade permanece. O que é amor de verdade se grava nas retinas, nos poros, na memória física da pele.
Olhos
E mesmo que ela nunca mais o olhasse da mesma forma, mesmo que os olhos dela hoje se voltem para outras paisagens, ele sabe — e talvez ela saiba também, que aquele olhar um dia existiu. Que foi dela. Que foi por ele. Que foi imortal enquanto durou. E que, em algum lugar no fundo da alma dela, aquele olhar ainda respira, silencioso e teimoso, como tudo que é eterno.
Condenados
Os que tentaram destruir? Hoje vivem suas vidinhas miseráveis, condenados a um castigo invisível: saber que falharam. Saber que, por mais que mintam, que posem de felizes nas redes sociais, que riam alto nas mesas de bar, eles jamais terão o que aquele homem teve: o olhar dela.
Permanece
E esse olhar, ah, esse olhar, permanece. No tempo, na memória e, sobretudo, naquilo que nenhuma intriga, nenhuma política suja e nenhuma língua venenosa consegue alcançar: na história dos dois.
Uma história que, mesmo com todas as tentativas de apagamento, continuará sendo, o que sempre foi: Amor.
Flávio Chaves é Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc