
É Findi - Arretado de bom, por AJ Fontes*
20/06/2025 -
Subia a Avenida Dom Bosco, vindo de uma quadrilha lá para os lados do cemitério. Passava da meia noite e eu varava a cerração soprando a fumaça do frio nas lâmpadas que iluminavam a rua; ouvindo, longe, um pedaço de “a fogueira tá queimando...” aqui; “Já é madrugada” acolá; estalidos de traques e estampidos de rojões. Seguia a trilha das fogueiras, em frente às casas, aquecendo pés e esfregando as mãos no calor dos braseiros.
Na minha cabeça: a menina, meu par da quadrilha, com um sorriso que brilhava qual as estrelinhas a salpicar no chão. E dançamos, só nós dois, embalados pelo batuque da zabumba, o trinado do triângulo e a melodia que saltava das pontas dos dedos do sanfoneiro.
Faz tempo. Eu, ainda imberbe, ganhava as ruas da Capital do Agreste, noite à dentro sem cuidar com roubo ou qualquer malfeito. Incomodava mais o furo no solado do sapato comprado no fim do ano passado, cuja sola já estava fina e carecia de um reforço de papel de jornal para evitar a água e o frio do inverno.
Um mês antes, no rádio, o forró de Luiz Gonzaga, Marinês, Trio Nordestino e tantos outros já enchiam nossos dias. Era o tempo de organizar os pares e os ensaios das quadrilhas. O pagamento do trio musical era rateado entre os participantes e as roupas não eram novas, ao contrário, eram calças bastante usadas que nossas mães remendavam e camisas quadriculadas usadas e reusadas. Dos sapatos, já falei.
Sinto-me com muita sorte, por ter vivido aqueles tempos em Caruaru.
Agradeço por vivenciar décadas de festejos dos três santos entre calçadas e paralelepípedos das ruas Preta, da Matriz, Bahia, da avenida Agamenon, do beco da Estudantil, Duque de Caxias; subindo e descendo as escadas do morro do Bom Jesus e tantos outros lugares.
Levo desde sempre, e para todos os lugares que já passei e passarei, as lembranças do menino que revigoram meus dias presentes.
Viva, São João!
*AJ Fontes, contista e cronista, engenheiro aposentado, e eterno estudante na arte da escrita, publicou o livro de contos: ‘Mantas e Lençóis’.
