
É Findi – O São João de Luísa, por Valéria Barbalho*
20/06/2025 -
Uma das homenageadas do São João do País de Caruaru deste ano é a grande Luisa Maciel. Uma mulher à frente do seu tempo. Resolvi também homenageá-la transcrevendo a pequena apresentação que fiz para o seu livro Reflexões à época do lançamento.
Uma mulher plural
Minha amiga e confreira da Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras (ACACCIL), Socorro Maciel, pediu-me para redigir a apresentação do livro Reflexões, escrito pela sua ilustre mãe, Luísa Maciel. Fiquei lisonjeada, claro, mas, essa incumbência também me preocupou, pois não sabia o que escrever sobre uma pessoa com quem não convivi. A única vez que estive com ela foi quando do seu excelente depoimento para o documentário Nelson Barbalho, o Imortal do País de Caruaru (2015).
Lembrei, então, que meu pai no em seu livro Meu Povinho de Caruaru (1980), dedicou um capítulo a Luísa Maciel, que havia sido a autora da capa do seu primeiro livro - Major Sinval (1968). No capítulo 7, seu Nelson escreveu: “Luísa C. Maciel é pintora do Agreste Pernambucano, fixada em Caruaru, em cujo atelier produz quadros maravilhosos, para expô-los pelas principais capitais do mundo, sempre conseguindo vendê-los por lá mesmo, sinal evidente de que eles têm valor, do contrário gringo algum se abalaria em adquiri-los. Já participou de exposições na OROPA, FRANÇA e BAHIA, e qualquer dia desses levará seus quadros para a China e o Japão, deixando sua marca gravada lá do outro lado da terra. É uma aloprada, a pintora Luísa matuta agrestina de projeção internacional”.

Continua ele: “Em se tratando de artes plásticas, a menina dos pincéis mágicos é o cão do segundo livro de Felisberto de Carvalho, uma senhora artista que põe no chinelo muita gente importante daqui da Província ou mesmo de plagas mais distantes. Mão firme, inspiração perene, muita criatividade, extraordinária sensibilidade artística, colorido acentuadamente moderno, motivação sempre voltada para o regionalismo mais puro e expressivo – tudo isso me parece valorizar sobremaneira as produções pictóricas da grande pintora que foi aluna do notável Lula Cardoso Ayres e de quem ainda sofre alguma influência, benéfica, por sinal”.
Mais à frente, ele diz que “Quadro assinado por Luísa C. Maciel valoriza qualquer salão, é motivo de comentários, desperta o interesse da crítica especializada, vale pelo que apresenta e sugere, traz em si toda força e criatividade de uma artista nata. Apesar das exposições universais, apesar dos sucessos alcançados na Alemanha, Portugal, Espanha, nos Estados Unidos, no Brasil inteiro, Luísa C. Maciel permanece simples e até mesmo um pouco inibida ou acanhada. Não bota banca nem perde suas características de mulher autêntica do Agreste de Pernambuco. Continua a matutinha de sempre a minha prima Luísa.”

Em seguida esclarece: “Falei de prima?. Exato. Luísa C. Maciel é Luísa Cavalcanti Maciel. Pelo Cavalcanti somos primos, pois, como pouca gente o sabe sou Nelson Barbalho de Siqueira Cavalcanti de Albuquerque Arcoverde, isto é, um PICA-ENXU (...). Luísa Cavalcanti Maciel vem do mesmo tronco, é ramo de igual árvore, fruto da mesma seiva, farinha do mesmo saco, de tradicional família do Ararobá, por sinal nascida no Belo Jardim, daí, possivelmente, sua eterna inspiração para as belezas das artes plásticas. Muito menina ainda, deixou Belo Jardim para estudar na bela Caruaru, onde se casaria e ficaria residindo até hoje, quando é estrela máxima do panorama cultural da Terra do Ministro Alfredo Pinto”. E meu pai ainda continua rasgando elogios e falando da árvore genealógica da prima.
Diante de uma apresentação tão nelseana da pintora Luísa Maciel, o que me resta falar? Copiei, então, alguns dados da biografia dela, escrita pelos familiares em 50 anos de arte. Pois bem, mais que pintora, Luísa foi escultora, escritora, folclorista, gravadora, professora de arte, fundadora e presidente do Centro de Cultura Popular Luísa Maciel, vice-presidente da Associação Americana de Folclore e Artesanato (sede em Santa Fé, Argentina), acadêmica benemérita ad honorem do Centro Cultural, Literário e Artístico de Felgueira (Portugal), sócia-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, produtora de eventos culturais, membro do Conselho Internacional de Dança da Unesco, fundadora da Academia Caruaruense de Cultura Ciências e Letras, entre outras qualificações.
Ufa! Realmente meu pai tinha razão. Sua prima Luísa era mesmo o “cão do segundo livro”, expressão usada antigamente para definir pessoas excepcionais. Eu diria que Luísa foi uma mulher além do seu tempo e que agora nos presenteia com suas magníficas Reflexões. Salve Luísa Maciel – para mim, uma mulher plural.
*Valéria Barbalho é médica pediatra, cronista e filha do escritor e historiador caruaruense Nelson Barbalho.
