
É Findi - Coisa boa é namorar, Conto, por Ana Pottes*
28/06/2025 -
Forró, poema e poesia dançam na poeira suspensa nos ares do Nordeste e em junho explodem junto com o frio na Serra, a chuva miúda, friinha, fininha e o cheiro da fumaça das fogueiras dos três Santos.
É uma terra abençoada onde bons cantadores resistem aos novos tempos, plantando poesia ao som da zabumba, do triângulo e da sanfona.
Na noite de Santo Antônio, após cumprir os ritos do casamenteiro, sonhei sonho leve. Nele, São Pedro me entregava uma carta em plena noite de São João, que li na beira da fogueira. Se a memória não me traiu estava escrito assim:
Sou um caboclo sonhador e ando mergulhado nos becos do meu passado, cercado por saudade traiçoeira que vai matando devagar. Olho para a parede e vejo o retrato daquela esteira com o meu sapato pisando o seu. Fotografia que a Lua malandrinha fez pela brechinha da telha. Um lindo cenário. Era tanto amor...
Como se fosse transmissão de pensamento, você ligava para mim e eu estava pensando em você, lembrando que sou rei da espada e tô esperando o seu jogo, meu amor pegando fogo e você escondendo ás! Agora, procuro num canto e você não está.
Se avexe não! Deixa o meu verso passar na avenida e creia, que nem todo atalho diminui a distância e nem toda ânsia no final tem alegria.
Mesmo sendo sonhador, leio no seu olhar, que não mente e ele diz que você sente saudade de mim. Contudo, se não for assim diz para mim: Onde errei? Onde vacilei?
E se foi tudo uma ilusão, me dá meu coração que eu vou embora.
Minha flor, deixa que eu fale ao teu ouvido, assim baixinho: Se tu quiser, crio um sentimento para a gente se amar de novo, poemo poemas bem cheios de rimas pra tu ficar mais eu. Se tu quiser acendo a estrela mais bonita lá de cima, desenho um jeito novo de te abraçar e beijo com um beijo que ninguém nunca beijou... Um beijo molhado na tua boca macia. E assim poder falar do meu amor e te revelar minha paixão.
Se avexe não! Descansa! Espera que a Lua vem te ninar trazendo o cheiro do nosso amor.
Por aqui me despeço nessa missiva carregada de saudade que está matando devagar. Não tem conversa, nem tem cachaça que dê jeito. Só de um jeito posso até suportar saudades suas: basta dizer que eu irei correndo e a vida se transforma em uma linda aquarela pintada com lápis de cor.
Do seu eterno amor
Flávio Melo de Santana
*Ana Pottes, psicóloga, gosta de escrever crônicas, contos e poemas sobre as interações emocionais com a vida. Autora do livro de poemas: Nem tudo são flores, mas... elas existem!
