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É Findi - Nódoa de Caju - Conto, por Maria Inês Machado*

28/06/2025 -

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Domingo! Bastião apruma a cela do jumento. Josefa, a esposa, arruma as crianças com as vestimentas da missa. Pe. Venâncio, pároco da igreja, aguarda os fiéis. Bastião vai até o cabide e procura a camisa de domingo.

— Que diabos! Sempre deixo essa camisa arrumada!
— Zefa! Não encontro a roupa da missa.
— Ora, Bastião, está onde você a largou!
— Ô menino, que cara é essa?
— Pai, eu não sei de nada.
— Não sabe o quê, seu peste?

Embora amasse os filhos, seu jeito rude de sertanejo não se desgrudava do espinhaço. Crescera daquele modo: à base de feijão, farinha, rapadura — e da rigidez de seu Joaquim, o pai, severo no trato com os filhos. Repetia-lhe o modelo. Achava que homem só se criava no rebenque, pra não virar florzinha. Coisas da cultura dos anos 1930.

— Vamos, menino! O que houve com a camisa de Bastião? — explode Severina, já irritada.
— Não fui eu! Foi Chico. Ele jogou um caju esbagaçado que acertou a roupa do pai.

A confusão ficou feia. Bastião espumava! Josefa tenta consertar o rasgão.
— Homem de Deus, não se avexe. Dou um jeito nisso.

Pega o ferro, coloca carvão, pinga querosene.
— Zefa, o tempo voa. Padre Venâncio já tá de olho nesse atraso. Semana passada, falou disso no sermão.
— É só esperar a brasa acender.

Os meninos sobem no caçuá. Josefa leva Luzia no colo. Partem rumo à igreja.
Horário bom. Ainda dava pra tirar uma prosa.

Zé da venda se aproxima. Bastião tenta escapar.
— Bom dia, compadre! Camisa nova, é?
— Que nada, Zé! O caju estragou a outra. Ficou só a nódoa.
— Compadre, é por isso que digo: pé de caju não presta no quintal.
Os meninos vivem subindo, catam o tempo todo e ainda danificam as coisas. Melhor comprar alguns na venda. Come-se na hora e pronto.

— Arranque esse pé, compadre. Deixe comigo. Dou conta.
— Zé, tá carregado... madurinho e de vez.
— A gente junta o que presta e leva pra venda. O resto, bota abaixo.

As crianças se entreolham, aguardando a palavra do pai.
— Bom seria esses meninos malovidos acharem o que fazer.
— Castigo neles, compadre! Camisa boa, algodão de lã!
— Aceito, Zé. Vai pagar pela dúzia ou pela ruma toda?
— Ora, compadre!
Tô ajudando. Não carece de pagamento.

— Depois da missa, nós resolvemos. Deixo o Zé Pimenta na venda e faço o serviço.
— Tá bom, Zé.

Josefa, que se mantinha em silêncio, entortou o olho — e a fala escapou pelo pensamento:
"Bastião foi mais enrolado que corda de fumo na feira."


*Maria Inês Machado é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e em Intervenção Psicossocial à família. Possui formação em contação de histórias pela FAFIRE e pelo Espaço Zumbaiar. Gosta de escrever contos que retratam os recortes da vida. Autora do livro infantojuvenil 'A Cidade das Flores'.

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