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Volte, Amor: o tempo que dança no corpo do cinema

30/06/2025 -

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Por Flávio Chaves



Alguns vídeos não apenas nos mostram imagens, mas nos atravessam como se tivessem sido colhidos diretamente do coração da memória. A montagem do filme italiano Arroz Amargo, unida à canção Torneró, que, em português, ecoa como “Volte, amor”, produz um efeito raro, uma fusão entre cena e melodia que provoca arrepio, saudade e desejo.

A dança

A dança dos corpos cobertos de lama, os olhos acesos de paixão contida, o suor que brilha sem pudor. Tudo vibra como se aquele tempo ainda estivesse vivo, escorrendo pela tela com intensidade quente e romântica.


Filme

O que se vê não é apenas um filme antigo, mas o espelho de um tempo em que amar era coisa sagrada. O corpo de Silvana Mangano, sua força sem filtros, sem maquiagens, sem bisturis, é mais que uma beleza estética. É o símbolo de um erotismo que não pedia desculpas por existir. E o homem que dança com ela não é apenas um personagem, mas um símbolo da conquista primitiva, bruta, mas repleta de ternura. O olhar que ele lança não é vulgar, é um olhar que pergunta e espera, que insiste sem invadir. Um olhar safado, sim, mas de um safado que ainda sabia ser poético.


A música

A música, mesmo sem fazer parte da trilha original do filme, parece ter sido composta para ele. Torneró não apenas canta um retorno. Ela implora por algo que se perdeu e que, ao mesmo tempo, ainda pulsa em algum lugar. É como se dissesse: o tempo passou, mas o sentimento ficou. Ao se encontrar com essas imagens, ela produz uma combustão emocional. O filme se transforma em música.

Cenas

A música se transforma em cena. E nós, espectadores, nos transformamos em memória viva de um amor que talvez nunca tenhamos vivido, mas que reconhecemos como se fosse nosso.
A época retratada, e a que depois revive essas cenas nos anos 60, 70, 80 e 90, é de um tipo de amor que ousava mais. Havia fôlego de eternidade em se tocar uma mão. Existia lentidão. Existia febre. Existia a espera. Conquistar alguém era tarefa de suor, de paciência, de pulsação. Não havia filtros.

Tecnologia

Nem vozes programadas, afinadas por tecnologia. A voz da mulher era voz mesmo, com textura humana, sem parecer uma mistura de aeromoça, GPS, emboladora de coco e cantador de viola — com todo o respeito a todos eles, claro, mas sem disfarçar a ironia.

Amar

Naquele tempo, amar era vício. Era acordar pensando no cheiro da nuca. Era desejar o mesmo beijo mil vezes. Era descobrir onde o outro ria e querer provocar esse riso todos os dias. A naturalidade das mulheres encantava.

Tintas e luzes

A ausência de tintas e luzes fazia o coração bater com mais força, porque tudo era verdadeiro. Não se precisava moldar o rosto em parede lisa de botox para ser bela. Bastava estar presente, com seus olhos, sua boca, seus gestos. O filme Arroz Amargo, com sua fotografia suada e sua lama sensual, representa esse tipo de amor: o amor com gosto de terra, de água, de vento e de urgência.


A montagem

A montagem feita com essa canção, resgatada do fundo do baú de um tempo bom, mostra que o amor, quando sincero, resiste até mesmo ao esquecimento. Ele se camufla na memória, mas basta uma imagem e uma música para que volte com toda a força. Não se trata de um passado idealizado.

Trata-se de um passado que, mesmo com suas dores e ausências, sabia sentir mais fundo. Sentir com o corpo inteiro. Sentir como quem não tem vergonha de se entregar.

Tormento

A música é um tormento que vai do motivo ao momento no espaço do coração. E o que esse vídeo faz é transformar imagem e som num abraço. Ele não mostra apenas uma cena antiga. Ele nos devolve algo que esquecemos que existia. A coragem de amar de olhos fechados. A beleza da imperfeição. O arrepio da espera. O alumbramento da entrega. E, acima de tudo, a vontade de gritar para o tempo: volte, amor.


Flávio Chaves é Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc

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