
Gasólcool: pague gasolina, leve álcool — e cale-se - Crônica , por Emanuel Silva*
30/06/2025 -
Dizem que o brasileiro não desiste nunca. Mas, aparentemente, também não faz conta. Ou prefere fingir que não viu. Vai ao posto, escolhe a bomba com a etiqueta “GASOLINA COMUM”, ouve aquele clique do abastecimento automático, paga R$ 5,90 por litro e segue viagem achando que encheu o tanque com um líquido nobre.
O que talvez ele não saiba, ou não queira enxergar, é que, na verdade, 30% desse litro é álcool anidro, e não gasolina de fato. Isso mesmo: com os novos percentuais de mistura proposto (coquetel?) você pagará gasolina, levará quase 1/3 de álcool. E ainda tem que achar isso normalíssimo.
A matemática do engano (agora com lupa)
Vamos fazer uma conta básica com precisão cirúrgica:
Preço médio da gasolina comum: R$ 5,90/litro
Teor de etanol anidro na mistura: 30% (0,3 litro)
Restante (gasolina "pura"): 70% (0,7 litro)
Preço médio do etanol vendido separadamente: R$ 4,46/litro
Agora veja o absurdo:
Você paga R$ 5,90 por 1 litro de gasolina, mas 0,3 litro é álcool. Logo, você está pagando R$ 5,90 × 30% = R$ 1,77 por esse pedaço de álcool.
Mas, se fosse comprar os mesmos 0,3 litro de etanol diretamente, pagaria:
0,3 × R$ 4,46 = R$ 1,34
Ou seja, você está pagando R$ 1,77 por algo que custa R$ 1,34. Isso dá um sobrepreço de R$ 0,43 por litro de gasolina vendida, só no álcool embutido. Agora faça as contas para 100 litros.
Em percentual, significa que o álcool dentro da gasolina está 32% mais caro do que se comprado diretamente na bomba de etanol.

Resumo:
Paga-se gasolina premium.
Recebe-se mistura comum.
E o álcool, esse coadjuvante, vira estrela com preço de celebridade.
O desempenho que evapora (junto com a paciência)
Não bastasse pagar mais caro por algo mais barato, ainda tem o “detalhe técnico”: o álcool rende menos.
Enquanto a gasolina leva seu carro a fazer 12 ou 13 km/l, o álcool reduz isso para 9 ou até 8 km/l em alguns motores.
Mas, como tem 30% de álcool por litro, você está perdendo desempenho sem compensação no bolso.
É como pagar por carne de primeira e receber um picadinho misturado com farinha, sal e discurso ambiental.
No final, o carro bebe mais, o bolso esvazia mais rápido e o único que não sente a pancada é o Excel do governo — que finge que isso é "transição energética".
A militância faltou à aula de matemática ?
Os economistas de estúdio, os amigos da Greta e outras tribos congêneres não fazem conta. Limitam-se a repetir o enunciado do release oficial: “a nova proporção é boa para o meio ambiente”.
Não fazem a regra de três. Não analisam o impacto no custo real por km rodado no carro da empresa ou aplicativo. Não explicam o óbvio.
Aí você pergunta:
Por que ninguém na velha imprensa reverbera isso?
Falta de conhecimento não é. Preguiça? Talvez. Medo? Provavelmente.
Porque hoje alguém disser o que pensa, com a supervisora do Ministério da Verdade em ação, o Google oculta, a plataforma derruba e o cidadão que ousou calcular pode acabar sendo “desmonetizado da realidade” e "convidado a ingressar na neo escola do pensamento correto".
Enquanto isso, siga abastecendo. Mas abasteça com fé, porque com lógica, justiça e transparência...nem cheiro e nem fumaça.
*Emanuel Silva, é Professor e Cronista
**Os artigos assinados expressam a opinia?o dos seus autores e na?o refletem necessariamente a linha editorial de O Poder.
