
Julgamento do STF: sério, mas nem tanto, por Natanael Sarmento*
30/06/2025 -
Depois das cenas inusitadas de generais no banco dos réus dos ataques à democracia do 8/1 de 2023, o STF começa a julgar os financiadores da conspiração. O empresário Pedro Luiz Kurumenzi é denunciado pela Procuradoria Geral da República pelo pagamento de 59 mil do aluguel de 4 ônibus utilizados no transporte de “manifestantes” à Brasília. A medida foi suficiente para o carnaval de confetes e serpentinas de parcela da imprensa e da esquerda flor de laranja domesticada ou iludida com a frágil democracia burguesa brasileira.
Peixe Pequeno
A rede da legalidade capitalista captura peixes pequenos e médios, os graúdos e tubarões, rompem os nós ou sequer são apanhados. É o caso dos peixões banqueiros, industriais e agropecuaristas, Santander, Rabobank, BGT Pactual, Syngenta, da bancada da FPA – Frente Parlamentar Agropecuarista, nada menos que 1.452 empresários comprovadamente envolvidos nos financiamentos dos atos terroristas, nenhum deles responde judicialmente.
A mão do arco da soja
Qualquer golpe no Brasil só obtém êxito se tiver a unidade das Forças Armadas, apoio externo dos EUA), suporte financeiro e apoio midiático e algum respaldo político e popular suficiente. A patuscada do 8 de janeiro faltou pouca coisa à coesão das Armas, contava com apoio midiático considerável, considerável apoio politico e popular, não contou com apoio do democrata Joe Biden e sobrava dinheiro de capitalistas brasileiros e estrangeiros, mormente da “turma do agronegócio”.
Agrogolpistas
Nada menos que 142 empresários da soja financiaram os acampamentos e os atos atentatórios ao Estado Democrático em 2023 para depor o Lula Presidente eleito e empossar o Bolsonaro derrotado nas eleições de 2022. Consideráveis 71% deles, responsáveis por 47% da safra nacional de soja são concentrados nos estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia. 28 financiadores pertencem a duas famílias de “patriotas”, Bedin e Lermen, gente inocente que nada tinha a declarar a Comissão de Inquérito aberta para apuração dos fatos criminosos. Lideranças responsáveis pelo “progresso do Brasil” da “APROSOJA” – Associação Brasileira de Produtores de Soja, criadores do braço ideológico e logístico da Frente Parlamentar Ruralista através do IPA- Instituto Pensar Agro.
Omissão
Perguntamos para ofender: se um simples mortal como o cronista de beira teve conhecimento desses fatos, por que o excelentíssimo PGR Paulo Gonet não denunciou ninguém dessa “turma do agro”? O cronista sabe a resposta. O Estado e a justiça classista do capitalismo esbarra nos próprios limites dos interesses capitalistas. Comitê administrativo dos interesses da burguesia, para os marxistas autênticos. Tem muita gente, inclusive dita “marxista” querendo passar manteiga em focinho de gato, com ilusão de classe. Ora, a mulher de César, além de séria, calhava aparentar seriedade. Essa pantomima da PGR e STF não é séria para os interesses da classe operária, nem lhe parece.
*Natanael Sarmento é professor e escritor. Do Diretório Nacional da Unidade Popular Pelo Socialismo – UP.
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