
É Findi - Dor de Flor, crônica por Xico Bizerra*
05/07/2025 -
Um amigo meu relata sofrer dor de árvore. Ele sempre acorda com pássaros a solfejar ventos, pousados em seus cabelos desgrenhados, ou a declamar brisas e cantar chuvas leves e serenas no caule de seu corpo, como a levar-lhe os nutrientes e seivas para sustentá-lo. Disse-lhe que essa dor eu quero ter. Sofrer de árvore deve ser tão doce quanto padecer de flor, coisa que bem conheço por comigo acontecer sempre. E desperto cantando aromas e cheirando amores, misturados com sorrisos alegres e coloridos, regando-me desde a raiz.
Outro dia também senti dores de mar: ondas e marés suaves e ternas embalaram meu despertar e ensolararam meus pés ansiosos por andar por todas as ilhas, de areia em areia, de grão em grão, até o paraíso de uma floresta verde enfeitada por rios e riachos, árvores e frutos, borboletas e pirilampos.
Mas bom mesmo é ir ao encontro do bom padecimento que só encontro na dor de flor. E se me oferecem um analgésico, aceito e o enterro, escondendo-o no primeiro jardim, cova funda, perto da roseira mais bonita. Deixem-me a dor de flor. Ela me ajuda a viver a vida com todos os cheiros e bem-aventuranças que me são permitidos ...
*Xico Bizerra é compositor, poeta, escritor e gênio da raça, nas horas vagas.