
Artigo – O Custo da Guerra Atual. Saiba porque o conflito Israel X Irã só durou 12 dias
05/07/2025 -
Por Ricardo Rodrigues*
A retaliação do Irã aos ataques de Israel e dos Estados Unidos em seu território demonstrou, de forma inequívoca, que a natureza das guerras contemporâneas vem sofrendo relevantes mudanças. Hoje, importa mais a troca de mísseis balísticos e o uso intensivo de defesa aérea do que a dependência nas forças de infantaria.
O custo das armas como calcanhar de Aquiles
Com seus ataques retaliatórios, o Irã demonstrou a importância de manter uma capacidade de produzir mísseis eficazes, embora baratos. Digo “barato”, em comparação aos custos estratosféricos da produção de mísseis balísticos na indústria bélica ocidental, em particular nos Estados Unidos. Os ataques do Irã em diferentes locais de Israel, e na base aérea americana no Qatar, em resposta aos ataques em suas instalações nucleares constituíram provas incontestes da eficácia de tal produção. Não obstante o trabalho do celebrado Domo de Ferro, que conseguiu interceptar muitos dos mísseis lançados pelo Irã, vários projéteis conseguiram contornar a defesa aérea israelense, atingindo seus alvos e causando, inclusive, fatalidades. As imagens divulgadas pela mídia dos estragos provocados pelos mísseis iranianos em cidades israelenses são chocantes. As fotos de edifícios atingidos na cidade de Bat Yam mais parecem imagens da destruição em Gaza ou na Síria.

Estoques em baixa
Nem bem terminou a troca de “amabilidades” entre Israel, Estados Unidos e Irã, o governo Trump se deu conta de que a abordagem antiaérea até então empregada pelos americanos e seus aliados não estava funcionando. Trump foi alertado por seu Ministério da Defesa de que os estoques americanos de armas defensivas, a exemplo dos mísseis antiaéreos “Patriot”, tinham baixado consideravelmente e se encontravam em níveis insustentáveis para a defesa dos Estados Unidos.
Não foi por outra razão que, terminada a troca de ataques de drones e mísseis entre Israel, Estados Unidos e Irã, Trump se apressou para anunciar um cessar-fogo na região e declarar o fim da guerra, por ele denominada “Guerra dos 12 dias”. Não dava para continuar com o conflito. Os Estados Unidos não estavam mais na posição de garantir a reposição de mísseis para as defesas antiaéreas israelenses.

Conta que não fecha
Cabe pontuar que para cada míssil iraniano lançado contra alvos israelenses ou americanos, as respectivas defesas antiaéreas eram forçadas a lançar de 2 a 3 mísseis defensivos para garantir o abate. Saliente-se que os misseis americanos repassados a Israel e usados pelas forças militares norte-americanas custam em média 4 milhões de dólares, cada, segundo a ABC news. Os mísseis do Domo de Ferro chegam a custar 60 milhoes de dólares. Já os mísseis produzidos pelo Irã custam em média 400 mil dólares, cada. Não por acaso o custo transformou-se no calcanhar de Aquilles da defesa antiaérea israelense, substancialmente dependente da produção bélica americana.
Além disso, a Lockeed Martin, fabricante do sistema de mísseis Patriot, só consegue produzir 500 unidades por ano. Com a subida na demanda por conta do aumento do seu uso em Israel e na Ucrânia, estava claro que os estoques iriam sofrer. Já o Irã, segundo matéria do New York Times, produz 300 mísseis balísticos por mês. Ou seja, em um mês, o Irã produz mais da metade dos Patriots produzidos pelos americanos por ano. A conta, claro, não fecha a favor do Ocidente.

Opção de Putin pelos mísseis iranianos
Não foi por outra razão que Putin passou a adquirir misseis e armamentos iranianos para seu esforço de guerra. Sua indústria bélica continua a produzir, mas como os custos e os níveis de produção russos se assemelham aos da indústria americana, os mísseis iranianos ganharam relevância para Putin.
Ontem, nem bem encerrou sua conversa telefônica com Trump, que almejava um cessar-fogo na Ucrânia, Putin ordenou um dos mais agressivos ataques de drones mísseis em Kiev. A maioria de origem iraniana. Segundo a força aérea ucraniana, foram 539 drones e 11 mísseis. Como O Poder relatou, a noite de ontem na cidade virou um inferno.
Com os estoques em baixa nos Estados Unidos, Trump terá que esperar até empunhar novamente o porrete de sua política externa. O que, é claro, dará tempo para o Irã reestruturar seu programa bélico, inclusive nuclear, e para a Rússia avançar, com mais ousadia, em sua guerra com a Ucrânia.
*Ricardo Rodrigues é jornalista e cientista político. Ele escreve sobre política internacional para O Poder.

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