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Uma visão de Brasil: O Painel de Brennand na ABL em homenagem a Joaquim Nabuco

07/07/2025 -

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O painel concebido por Francisco Brennand em 2010, por ocasião do centenário de morte de Joaquim Nabuco, é mais que uma homenagem. É uma leitura sensível e profunda do Brasil, feita por um dos nossos maiores artistas plásticos e ceramista, a convite do acadêmico e também pernambucano Marcus Vinícius Vilaça, então Presidente da Academia. Instalado no Centro Cultural da Academia Brasileira de Letras, esse painel é uma provocação e um convite à reflexão sobre a formação histórica, cultural e política do país, nesse período turbulento de país e do mundo que atravessamos.

Esse ano

Completamos 115 anos de Nabuco.
Dividido em três partes, o mural simboliza passagens fundamentais da trajetória de Nabuco e do Brasil:
1. A Sala do Trono – Representa a presença do Imperador Dom Pedro II, figura que, a cada dia, se revela em maior estatura humana e intelectual. Sua imagem no painel resgata a sua deposição e ao mesmo tempo a sua grandeza.
2. A Apoteose de Nabuco – O abolicionista aparece em pedestal, mas com um gesto singular: estende a mão a um escravizado. Um símbolo de empatia e compromisso com a justiça e a liberdade. Ao fundo, vê-se a cabeça de um escravo preso ao tronco e, mais distante, o Engenho Massangana, lugar da infância de Nabuco e da sua primeira experiência com a dor da escravidão – o encontro com um escravo que lhe suplicava ajuda. Essa memória foi a inspiração maior de sua luta abolicionista.
3. O Encontro Imaginário – A terceira cena retrata uma reunião idealizada entre três gigantes do pensamento e da literatura nacional: Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha e Machado de Assis. Um diálogo simbólico entre a abolição, a interpretação do Brasil profundo e o olhar crítico sobre a sociedade brasileira.

Nesse formato

Criado por Brennand, homenageando essas cinco figuras centrais – Nabuco, Pedro II, Machado, Euclides e o próprio povo representado pelo escravo – há uma convocação à interpretação do Brasil e de seus múltiplos “Brasis”.
É significativo que esse mural esteja na ABL, casa do pensamento, da tradição e da renovação da cultura e da língua portuguesa.





A importância da ABL

Vivemos tempos turbulentos, de fragmentação e incertezas. Pensar o Brasil com profundidade, equilíbrio e de forma estratégica é uma tarefa fundamental, e a Academia Brasileira de Letras tem papel de destaque nesse processo. Como instituição de memória, cultura e renovação, a ABL deve ainda mais ser uma casa de pensar nesses momentos difíceis do mundo atual no qual o Brasil está inserido.
A figura de Dom Pedro II, presente no mural, é cada vez mais reconhecida por sua grandeza moral, intelectual e humanista. Como ensinava o sociólogo Gilberto Freyre, o fato social é muito mais amplo que o fato jurídico. O Brasil precisa de um novo pacto civilizatório, inspirado no exemplo do Pacto de Moncloa, que foi essencial para a redemocratização da Espanha e numa convivência menos tensa no país.





Joaquim Nabuco e a Fundaj

Tive a honra de presidir a Fundação Joaquim Nabuco por mais de três anos, inclusive durante a pandemia. Entidade criada pelo mestre Gilberto Freyre.
Entre os projetos realizados, destaco a reedição do livro de Nabuco sobre Camões e Os Lusíadas, uma obra que une Brasil e Portugal, cultura e identidade.
Foi relançada na Universidade de Coimbra e na Academia Brasileira de Letras, com a presença do escritor e acadêmico Joaquim Arruda Falcão e representantes da família de Nabuco.

Francisco Brennand, ceramista, pintor e escritor

Fui amigo de Francisco Brennand, artista visionário. Deixou como legado a Oficina Brennand, uma releitura do ser humano, da criação e da Terra através da arte. O Portal de Gaia, um dos seus painéis na entrada da oficina, demonstra isso.
Brennand foi um criador com consciência ecológica, herança de seu pai e de sua própria reflexão sobre o mundo e o tempo.
Brennand aprendeu com Picasso que a cerâmica não é uma arte menor, sendo também um grande pintor e escritor.

Conversa imaginária entre gigantes

Machado de Assis, talvez nossa maior glória literária, Euclides da Cunha, com Os Sertões, e Joaquim Nabuco, formam um triângulo de pensamento que nos inspira a completar a abolição – agora com mais educação, justiça social e inclusão social.
Dessa conversa imaginária, retratada no mural de Brennand, surge um ensinamento claro: a solução do Brasil não virá de gabinetes oficiais, nem de Tribunais, mas da escuta sensível do povo brasileiro e da construção de um verdadeiro projeto de nação.





Atualidade do mural e do legado

O mural cita uma frase dos Diários de Nabuco sobre “a força do desconhecido”, lembrando-nos que o futuro ainda está por ser moldado. É um alerta e um chamado para que não desistamos do Brasil real – um Brasil em que todos possam sentar à mesma mesa, com menos ódios e mais partilha. Nabuco foi um dos que escutou e estendeu a sua mão aos escravizados. Chegou a estar com o Papa Leão XIII, que depois escreveu uma encíclica
A ABL, por tudo que representa, é guardiã desse painel e também do legado de figuras como Machado, Nabuco, entre tantos. Cabe a ela, mais uma vez, o desafio de pensar o Brasil, de apontar caminhos para a afirmação da nossa identidade nacional e para a superação de nossas contradições históricas, que passa por completar a abolição, superando a servidão financeira de um país a uma dívida pública, com mais cultura, educação, igualdade social e respeito as liberdades.
É tempo de tornar o Brasil não mais apenas o país do futuro, mas o país do presente – com mais desenvolvimento sustentável, menos tensões e polaridades políticas, mais apoio a cultura e valorização da língua portuguesa, educação e menos desigualdade social que está desintegrando o Brasil.

*Antonio Campos é escritor, advogado e membro da Academia Pernambucana de Letras.
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