Hoje é o dia mundial do chocolate. Dei um Google: "O chocolate é feito com base na amêndoa fermentada e torrada do cacau. A sua origem remonta às civilizações pré-colombianas da América Central. A partir da era dos Descobrimentos, foi levado para a Europa."

Excludente de Ilicitude

Atiço a memória, véspera de aniversário, me vem a raspa do papeiro de alumínio pesado, o refugo do brigadeiro feito na cozinha da minha infância. Metia a colher de pau, depois os dedos, lambuzando tudo. Aniversário sem brigadeiro era menino sem bola. Depois de devorar um tanto, havia aqueles que entupiam de doce os bolsos da calça. O pequeno furto tinha o chocolate como excludente de ilicitude. Levavam a festa pra casa.

Erro da Natureza

Lembro do domingo de cinema. No São Luiz, o filme começava na fila, meus olhos se lambendo ao ver o papel brilhante do chocolate "Peixinho" na caixa de madeira dos vendedores de bombom. Sonho de Valsa, lua de chocolate no céu da boca de menino. Recordo, na rua onde morávamos, havia um amigo que recusava o desejo de toda infância. Definitivamente, não gostava. Eu achava aquilo um erro da natureza - a boca de uma criança enjeitar um "Diamante Negro".

Carregar a Alma de Chocolate

Um dia, meu irmão - muito jovem - decidiu, "Vou fazer vida em Brasília", mas para isso teve que juntar uns trocados, ajudar nas despesas da viagem. Então arranjou emprego na fábrica de chocolate," Renda Priori" cujo endereço ficava no final da rua da Aurora. Eu gostava de ouvir como nascia o chocolate Peixinho. Ele contava, enfeitava, descrevia a linha de produção. Eu, miúdo, atento, boca cheia d'água. Queria trabalhar lá também. Mergulhar nos tachos, encher não só os bolsos, carregar a alma de chocolate.


*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.