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Artigo – Quando o perigo mora ao lado: O jogo duplo do Azerbaijão com a Rússia e o Irã

11/07/2025 -

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Por Ricardo Rodrigues*

Quando, no final do mês passado, a polícia russa deu uma batida numa rede de criminosos de origem Azerbaijana, na cidade de Yekaterinburg, ninguém poderia imaginar que a ocorrência teria implicações geopolíticas. De fato, pelos relatos da imprensa por ocasião da prisão do grupo, tudo levava a crer que se tratava apenas de uma quadrilha de mafiosos. Mas não era bem isso que os russos estavam apurando.
A investigação russa havia encontrado indícios de que o país vizinho, o Azerbaijão, tivera uma participação significativa na operação “spiderweb. Refiro-me ao ataque ucraniano com drones à bases aéreas que, envergonhando as defesas russas, destruiu bombardeiros estratégicos dentro do território russo, a mais de 4 mil quilômetros do front. O objetivo da operação era enfraquecer a capacidade estratégica e nuclear da Rússia.

A Operação

O ataque de drones às bases russas teve todos os traços de uma operação concebida pela agência de inteligência israelense, o Mossad. Pela criatividade e ousadia, a operação lembra o ataque aos integrantes do Hezbollah com os “pagers” assassinos.
De acordo com a BBC, 117 drones ucranianos foram transportados clandestinamente para a Rússia. Uma vez em solo russo, foram acomodados na parte superior de gabinetes de madeira, feitos sob medida para recebê-los. Segundo a BBC, esses gabinetes foram projetados de forma a não levantar qualquer suspeita durante o seu transporte nas carrocerias de caminhões. Seus tetos retratáveis podiam ser abertos remotamente, o que permitiu lançar os drones em locais próximos das bases aéreas. Os motoristas dos caminhões contratados para o transporte desses gabinetes não faziam a menor ideia do que estavam carregando.






O papel do Azerbaijão

Segundo o analista Alex Krainer, as investigações russas revelaram que os azerbaijanos presos faziam parte de uma rede que colaborou com os ucranianos na consecução, em território russo, da operação “spiderweb. E mais, o presidente do Azerbaijão, Alhiam Alyiev, não só tinha conhecimento da operação, como teria ajudado a mobilizar os azerbaijanos residentes na Rússia para participar no ataque. A ideia de prendê-los sob a alegação de cometer crimes comuns teria sido a forma encontrada pelo governo russo para evitar maiores complicações diplomáticas.
Por sua vez, o governo azerbaijano prontamente retaliou. Levou à cabo sua própria incursão policial, neste caso, dirigida à sede da agência de notícias Sputinik Media, em Baku, prendendo vários jornalistas russos. Também cancelou festividades culturais russas agendadas no país e ordenou o fechamento das escolas de idioma russo.

Antigo aliado

Cabe lembrar que, como uma das antigas repúblicas da União Soviética, o Azerbaijão sempre manteve laços estreitos com a Rússia após a queda do muro de Berlin. Muitos no país falam o idioma russo e participam de atividades culturais russas. Não sem razão, Putin enxergava Aliyev como um aliado de todas as horas.
A amizade entre os dois pode ter começado a dar com os burros na água em dezembro do ano passado, quando a defesa antiaérea russa atingiu por engano um avião de passageiros azerbaijano, matando 38 das 67 pessoas a bordo. O incidente deixou Alyiev indignado com Putin.
Contudo, o distanciamento entre os dois não foi surpresa para vários analistas. Para Alex Kraimer, por exemplo, o Azerbaijão, com sua localização estratégica entre a Rússia e o Irã, estaria sendo estimulado por potências ocidentais a antagonizar a Rússia e o Irã há algum tempo.






Passando a perna no Irã

De fato, o jogo duplo do Azerbaijão não vem se limitando à Rússia. Furtivamente, o Azerbaijão também vem passando a perna no Irã, ao colaborar com os israelenses ao mesmo tempo em que apresenta uma fachada de bom vizinho para os iranianos.
A aproximação com Israel não é recente. Segundo a revista eletrônica The Cradle, Israel é uma parceira secreta do Azerbaijão desde que este último declarou sua independência da União Soviética, em 1991. O Azerbaijão secretamente abriga uma base avançada israelense bem na fronteira com o norte do Irã. Ainda segundo a revista, o Mossad mantém ali um posto de vigilância eletrônica para monitorar os movimentos militares iranianos.
Assim, foi de dentro do território azerbaijano que, durante a Guerra de 12 Dias, Israel lançou drones contra alvos no Irã. E, por mais que Alyiev negue, as autoridades iranianas dispõem de provas e testemunhos que confirmam o uso do Azerbaijão como plataforma de lançamento dos drones israelenses que atingiram Teerã.

Ambições expansionistas

O Presidente Alyiev aparenta enxergar mais vantagens do que desvantagens com seu jogo duplo na região. Sua colaboração com o esforço de guerra ucraniano pode lhe garantir a boa vontade das potências ocidentais, inclusive sob a forma de ajuda militar. Por outro lado, a parceria com Israel pode suprir uma segurança contra o poderio militar do Irã.
Ressalte-se que Alyiev nutre ambições expansionistas com relação ao Irã. Afinal, uma considerável parte do noroeste do Irã já é habitada por azerbaijanos. Estima-se que 70% da população azerbaijana more naquela região do Irã. Para Alyiev, não seria uma má ideia anexar esse território ao Azerbaijão.






Mentoria turca

O jogo duplo do Azerbaijão tem o apoio e o incentivo da Turquia. O Presidente Erdogan é uma espécie de mentor oculto do Presidente Alyiev. Para muitos analistas, o Azerbaijão não toma iniciativas sem o aval da Turquia. Alexander Mercouris, por exemplo, acredita que o Azerbaijão jamais auxiliaria Israel a atacar o Irã se o governo em Ankara não se sentisse confortável com tal ação. Como relatou Mercouris em seu podcast desta semana, “o curioso é que no exato momento que acontecia o ataque israelense ao Irã, a partir do território do Azerbaijão, Erdogan usava os meios de comunicação turcos para condenar veementemente a agressão”. Ou seja, o mentor do jogo duplo põe em prática aquilo que ensina.

*Ricardo Rodrigues é jornalista e cientista político. Ele escreve sobre política internacional para O Poder.
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