
"Trump ameaça aplicar o torniquete do tarifaço, que poderá estrangular a economia brasileira" - Por Jarbas Beltrão*
14/07/2025 -
O tarifaço de Trump é sua arma para o que seria a reestruturação do mercado e da ordem global.
Decisão do Lourão e reações
A ameaça de Trump de elevar em 50% a tarifa de importação de produtos brasileiros que chegam nos EUA deixou muitos setores de nosso ambiente politico - econômico dominado por clima de pânico e desespero. Nas mais diversas reações, de repente, deixaram visíveis que permanecem velhos sentimentos que pareciam abandonados, porém, ainda estão presentes na nossa mentalidade nacional, e, aí incluímos, como seus divulgadores desde as elites políticas até as diversas camadas de nossas classes médias. Refiro-me às velhas e insistentes emoções de antiamericanismo, anticapitalismo e "anti-imperialismo".
Na verdade, quem não desenvolve essas reações, sobretudo de anticapitalismo, é a camada de trabalhadores, que muitos dizem defendê-la, exceto, as elites de um sindicalismo urbano, desgastado e declinante. Todos os "antis" que revelei, misturam-se, com: marxismo, falso patriotismo, saudoso terceiromundismo, nacionalismo, que juntos e combinados resultaram nas ideias, neste momento, de defesa à uma "Doutrina de soberania nacional", com roupagem engomada, mas não consegue esconder os punhos e golas desgastados; desgastes adquiridos pelo tempo.
Pois é, as ameaças do abusado Lourão, provocaram emoções no mundo político e econômico, também dos acadêmicos (tinha que ser) e, passamos a ter de ouvir aquelas enfadadas vozes de políticos identificados como "direita" e/ou "esquerda", estes enxergaram grandes oportunidades para soltar suas verborragias oportunistas, nacionalistas, esquerdistas e populistas, tendo no horizonte a renovação dos seus mandatos eleitorais.
Vozes
As vozes, na maioria das vezes, são desprovidas de cuidados, com respeito à abordagem desses acontecimentos com as decisões de Trump, isto em relação as ameaças da inevitável retração às importações brasileiras ao maior mercado consumidor do mundo, o mercado americano.
As reações, estão ancoradas nas velhas molduras teóricas, lá dos tempos da guerra fria, realidade do pós 2a. GM, mas, que a partir dos anos 1990, foi ganhando novo desenho, com a China ganhando protagonismo, com a opção pelas práticas de uma economia de mercado de produção de massas.

Anulação de processos
Sabemos, que o "abusado Lourão" deu o prazo até 01 de agosto para que o judiciário brasileiro suspenda os processos entendidos por ele, como injustos e injustificáveis, contra o ex-Presidente perseguido, Jair Bolsonaro, suposto envolvido, numa suposta tentativa de golpe, denominação dada ao "quebra-quebra" de 8 de janeiro de 2023.
Não podemos ser ingênuos ao ponto de achar que a perseguição e consequente exigência de anulação de processos contra Jair Bolsonaro seja o verdadeiro motivo das decisões do ocupante da Casa Branca. Ele é, sim, um dos motivos geradores de oportunidades para fazer o cerco ao governo brasileiro atual, estão escondidas (até agora) outras razões que podem ter revelações futuras.
O fato é, que quaisquer das razões, reveladas ou não, demonstram descontentamento com afastamento cada vez maior do governo brasileiro da agenda econômica do mercado ocidental (EUA, UE, e adjacências), bem como de acordos político - diplomáticos, mas ao mesmo tempo há uma aproximação ao eixo de governos autoritários do lado Oriental e alguns poucos aliados do Ocidente (recém chegados ao Brics e Cia.).
A reestruturação do mercado global é o pano de fundo aparente, pelo nenos num segundo momento, às ameaças de aplicação do "torniquete tarifário" de Trump. Quanto ao tarifaço é mais uma tentativa de reestruturação e já feito com outros atores do mercado global, inclusive que já negociam, no momento, com os EUA.
Tarifa de 50% ... Se retaliar vem mais
O Lourão sinalizou com a tarifa de 50% para os produtos brasileiros que, seguem para o mercado dos EUA, se houver retaliação do lado brasileiro, o dispositivo do "torniquete" será acionado e poderá levar ao estrangulamento do "condenado", vai aumentando 10% + 10% e assim sucessivamente.
10%, é tarifa atual e será o tamanho de cada aperto no aparelho de estrangulamento, para cada resposta de retaliação.
É preciso buscar entender porque os importados brasileiros teriam a maior tarifa (50%) dentre todos os países tarifados. O que pode estar mais além das camadas que conseguimos enxergar?
Hostilidades
No Encontro do Brics, mais uma vez nosso governante destilou ódio e hostilidades ao presidente americano e, sinalizou na direção de "deletar" o Dólar no comércio entre nações. Sérgei Lavrov, ministro de Putin, afirmou, que a ideia de substituir o dólar é originária do governo brasileiro...Hum !
Ao atacar o Dólar como moeda de trocas comerciais, nosso governante, fechou os olhos para a referência de valor nas reservas mundiais, e, inclusive, colocou nossa reserva de dólar em risco, nossa reserva é maior que nossa dívida externa.
Prá piorar, o discurso hostil do nosso governante, jogou pergunta para o ar - marca da sua desinformação - que foi: "Quem decidiu que o dólar é a moeda de trocas no mundo?". E prosseguiu..."Em que Fórum isso foi decidido?". Ora, qual é, a da assessoria deste senhor? Deveria ter alertado à propósito do Acordo de Breton Woods (1944) em plena 2a. GM e a aceitação da decisão da época do Governo Nixon (1971), que colocaram a primazia do dólar como única moeda de referência do padrão ouro e, depois o dólar passou a ser unicamente - sem lastro ouro - a moeda reserva de valor para o mundo e aceita nas transações comerciais globais. Decisões pactuadas e/ou aceitas por líderes mundiais.
Aproximação com a Aliança anti-ocidente
As hostilidades do governante do Brasil em relação ao governo americano, somadas à progressiva aproximação com países que não são muito amigos das regras do comércio global, países conhecidos como o "eixo das autocracias", agregadas no Brics, fantasia diplomática, que parece começar a se desmontar pós-Encontro recente no Rio.
Oportunidade para Trump
Trump, usa, essa oportunidade política, do caso Bolsonaro, para tentar trazer de volta o Brasil, para o "eixo Ocidental". Estrategicamente, o avanço de ameaças sobre os importados brasileiros deu-se na hora certa, com objetivo de afastar o Brasil do chamado "Eixo das ditaduras", e, impactar o tal "sul global socialista e anti-Ocidental", ou seja, "estatista-coletivista".
Trump tenta trazer o Brasil para mesa de negociações e esvaziar o discurso "chavista", "castrista", "estatista", "sandinista", hostil ao Ocidente, que agrada velhas tendências políticas agregadas no Brics, já sinais de grave enfermidade.
Jogada de mestre
Jogada de mestre do "Lourão", deu ao governo brasileiro, até o dia 30 do mês em curso, para se posicionar diante das exigências americanas. Se, o governo brasileiro, insistir na postura política, diplomática e geopolítica, estará colocando mais um ingrediente na "química" em direção ao ambiente de caos, que juntando-se aos impostos geradores das insatisfações internas, aproxima mais ainda de uma realidade indesejável - caos chegando paulatinamente.

Caminho das tarifas, para reestruturar o mercado global
É pelo caminho das tarifas, o ainda maior mercado consumidor do mundo, que Trump pretende resgastar o prestígio americano, isto como parte importantíssima da engenharia geopolítica, com, então muito trabalho prá fazer: a "América grande outra vez". O que significa espalhar sacrifícios, até para o mercado americano.
O abusado "Lourão" tá com a faca entre os dentes e o torniquete nas mãos... E agora Inácio?
Deste meu buncker na Serra das Russas.
Depois de uma dose de Old Par, on the rock, num copo long drink.
Fica dito
*Jarbas Beltrão é Historiador, professor de História da UPE. Mestre em Educação pela UFPB, MBA em Política, Estratégia, Defesa e Segurança pela Adesg (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) e Faculdade Metropolitana de São Carlos/SP.
**Os artigos assinados refletem a opinião dos seus autores. O Poder está sempre aberto a contestações e ao contraditório.
