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História - Arraes, Jango, a Operação Condor e a repetição da história

16/07/2025 -

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Por Antônio Campos*

Em recente entrevista(Ao Podcast de Magno Martins/Folha de Pernambuco) João Vicente Goulart, presidente da Fundação João Goulart e filho do ex-presidente João Goulart — cuja morte completará 50 anos em 2026 — reafirmou que seu pai foi assassinado pela Operação Condor, uma associação criminosa entre membros das ditaduras militares da América Latina. Operação responsável por perseguir e eliminar lideranças de esquerda durante o processo inicial de redemocratização do continente.
Destaco o papel do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter como figura central nesse processo de abertura democrática.





Assassinato

João Vicente cobrou do Estado brasileiro o cumprimento de seu dever institucional de investigar as circunstâncias reais da morte de seu pai. Falou da relação entre Jango e Miguel Arraes, lembrando que Goulart faleceu 12 anos após o golpe militar, em Corrientes, na Argentina. Foi vítima, certamente, de dois assessores cooptados pela Operação Condor, que teriam trocado seus medicamentos por placebos. Pouco tempo depois, esses dois indivíduos apareceram em Paris com sinais evidentes de enriquecimento.
Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco, foi uma das principais testemunhas da Operação Condor — e quase uma de suas vítimas.

Depoimento de Arraes

No próximo dia 13 de agosto, completam-se 20 anos de seu falecimento. Em seu depoimento à Comissão da Câmara dos Deputados sobre a Operação Condor, com áudio disponível no YouTube, Arraes respondeu a uma pergunta do então deputado federal Miro Teixeira, Presidente da Comissão de Investigação da Operação Condor, afirmando:
“Os três nomes mais importantes da Frente eram justamente os líderes mais destacados dos três maiores partidos políticos extintos pelo golpe de 64. Eram eles, respectivamente, além de Juscelino, pelo PSD, João Goulart pelo PTB e Carlos Lacerda pela UDN. Entre os fatos mais notáveis da história recente do Brasil está a morte desses três líderes, em curto lapso de tempo, quando começava a delinear-se a abertura política do regime. Desapareceram, muito convenientemente para o regime de arbítrios, as três maiores alternativas de poder, posto que, em caso de eleições diretas, com certeza um dos três teria sido eleito Presidente da República.”

Testemunho

Durante dez anos, presidi o Instituto Miguel Arraes, a pedido de minha avó, Magdalena Arraes. Um dos principais feitos desse período foi apresentar, tanto em nome do Instituto quanto em meu nome pessoal, uma representação ao Procurador-Geral da República, com base no depoimento de Arraes. A peça relatava seu importante testemunho sobre a Operação Condor, entre outros documentos e fatos, com um capítulo específico dedicado à morte de João Goulart.
O Ministério Público Federal acolheu essa representação, determinando sua juntada aos autos da investigação internacional conjunta sobre o caso, conduzida pelo MPF brasileiro e por promotores argentinos. Tal iniciativa permanece registrada nos arquivos oficiais da investigação binacional.

Omissão

Ao contrário de outros países — como Argentina, Chile e Espanha — o Brasil permanece como o único que não puniu nenhum dos envolvidos na Operação Condor, embora haja ampla comprovação da participação de agentes brasileiros. A Argentina prendeu o ex-presidente Rafael Videla. A Justiça chilena ordenou a prisão de 129 ex-militares e policiais participantes do esquema. E a Justiça espanhola, por meio do juiz Baltasar Garzón, decretou a prisão de vários envolvidos, ante a execução também de cidadãos espanhóis durante a Operação Condor. O Chile, inclusive, reconheceu oficialmente que o poeta Pablo Neruda foi vítima dessa organização.






Livro

Em 2016, publiquei o livro Operação Condor no Brasil, que reproduz a representação mencionada — com 128 páginas, fora os anexos — além do despacho do Ministério Público Federal brasileiro.
A biografia que estou escrevendo sobre Arraes começa com essa passagem sobre esse encontro na Argélia sobre a Operação Condor. No próximo dia 13 de agosto, estarei abrindo um site internacional para sugestões, documentos, depoimentos sobre Arraes, que poderia aproveitar ou não, sendo uma obra coletiva, através do domínio arraesbiografiacoletiva.com.br.
Segundo o testemunho de Miguel Arraes à Câmara e as informações que recebeu no exílio, João Goulart foi de fato assassinado pela Operação Condor, sob o comando da ditadura militar brasileira. Arraes chegou a enviar alertas a Jango e outros líderes perseguidos, ao tomar conhecimento, na Argélia, por meio de um grupo chileno, do início de uma operação de extermínio.

Alerta

Esse grupo, que o procurou em razão de sua posição estratégica naquele país, informou-lhe que havia uma lista inicial de lideranças a serem executadas — lista que incluía seu próprio nome.
Durante minha presidência da Fundação Joaquim Nabuco, levei o acervo pessoal de Miguel Arraes para preservação nessa importante instituição, que leva o nome de outro gigante da história brasileira.





Eduardo Campos

No próximo dia 13 de agosto, meu irmão Eduardo Campos completaria 60 anos. Nunca desisti dele. Estou convicto de que sua morte, ocorrida em 2014, não foi um acidente aéreo comum, mas resultado de uma sabotagem. Eduardo era visto, por adversários, como um nome real para a Presidência da República — e a melhor maneira de ocultar um crime é fazê-lo parecer um acidente natural.
Como se vê, a impunidade gera a repetição de episódios como o de Jango.
Minha mãe, Ana Arraes, e eu movemos ação de produção antecipada de provas, sob o número 5001663-02.2017.4.03.6104, que tramita na 4ª Vara Federal de Santos. A perícia técnica já foi deferida e está prestes a ser iniciada. Contamos com parecer técnico de nosso assistente pericial, que indica falha provocada no disparo do compensador elétrico do profundor da aeronave, interferindo no estabilizador horizontal. Ao realizar uma manobra mais radical, a falha deu origem ao fenômeno conhecido como pitch down, colocando o avião em queda vertiginosa, sem controle pelos pilotos. Sei os riscos que corro, mas como diz o provérbio: o covarde morre todos os dias; o corajoso morre uma só vez, e apenas quando necessário.
Já pedi, nessa ação, garantias legais para a minha segurança e da minha família e que uma eventual morte minha deve ser investigada.

Heróis da Pátria

Os nomes de Miguel Arraes e de Eduardo Campos estão inscritos no livro dos heróis da pátria.
O Brasil — e o mundo — precisa conhecer a verdade sobre a Operação Condor, sobre a morte de João Goulart.
É necessário saber a real causa e o contexto da morte de Eduardo Campos e punir os envolvidos.
Como disse o bispo sul-africano Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz:
“A verdade cura. Às vezes ela arde, mas cura.”

*Antônio Campos.
Advogado e Escritor.
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