
Agosto vem aí. Preparados para a ventania? - Crônica, por Emanuel Silva*
18/07/2025 -
Há meses que passam despercebidos, deslizando pelo calendário como brisa. Agosto não é um deles. O mês de Agosto, historicamente, é o mês mais produtivo para a geração de energia eólica no Brasil, em especial no Nordeste, graças à intensificação dos ventos alísios. De outro lado, Agosto é o mês em que a política historicamente é atormentada crises e os ventos sopram com força para a energia.
Coincidência? Nem tanto.
O Brasil é mesmo movido a rajadas – sejam de vento ou de instabilidade.
No mundo político, Agosto é o mês em que o Brasil político parece desandar, como se o roteiro da história perdesse o rumo e o caos improvisasse. Não é crendice — é experiência repetida com pontualidade quase britânica.
Se existe um mês em que a política brasileira tropeça em seus próprios cadarços, esse mês é agosto. Tragédias, renúncias, mortes, escândalos, colapsos. Tudo parece encontrar nesse recorte do ano um palco especial.
E o povo, já escolado, não se espanta: apenas suspira e pergunta — de novo, o que nos esperar em agosto?
Tragédias em Ordem Cronológica: Da Carta-Testamento à Queda dos Céus
Se o Brasil tivesse um memorial de tragédias políticas, boa parte das placas traria uma mesma data: mês de agosto.
• 1954 – Getúlio Vargas: No dia 24 de agosto, acuado por uma crise institucional e cercado por pressões militares, Getúlio dá um tiro no coração e escreve sua própria saída da história — com tinta vermelha e drama épico. Sua Carta-Testamento ecoa até hoje.
• 1969 – Costa e Silva: Em 31 de agosto, o presidente-general sofre um derrame cerebral e deixa o país à deriva. A saída? Uma Junta Militar toma o poder — e o autoritarismo se reinventa, ainda mais duro. O regime, mesmo blindado, mostra rachaduras quando a biologia surpreende a ideologia.
• 1976 – Juscelino Kubitschek: Morre em 22 de agosto, num acidente de carro na Via Dutra. A morte do “pai de Brasília” levanta suspeitas que persistem até hoje. Teria sido fatalidade ou conveniência?
• 2005 – Miguel Arraes: Em 13 de agosto, parte o ex-governador de Pernambuco e símbolo do trabalhismo. Um homem que foi preso, exilado e reverenciado — e que agora se calava, justamente no mês em que as vozes parecem cessar.
• 2014 – Eduardo Campos: No mesmo 13 de agosto, exatos nove anos depois da morte do avô, o presidenciável Eduardo Campos cai com seu avião durante campanha eleitoral. Jovem, articulado, com futuro promissor — e com um destino trágico que mudou o cenário nacional.
A linha do tempo é trágica. E agosto, implacável.
Crises, Golpes e Escândalos: A Política à Beira da Pane
Agosto também é mês de tropeços voluntários e quedas calculadas.
• 1961 – Jânio Quadros renuncia: Em pleno 25 de agosto, o presidente que se elegia com vassoura decide sair por vontade própria. Alega “forças ocultas”, mas o que se vê é caos, golpe evitado por um fio e o início da marcha rumo ao regime militar.
• 1992 – Collor rumo ao impeachment: É em agosto que a CPI entrega seu parecer final, aprovando o pedido de afastamento. As “caras-pintadas” invadem as ruas, e Collor, o caçador de marajás, passa a ser o marajá da vez.
• 2005 – O escândalo do mensalão explode: Agosto vira palco das CPIs, dos depoimentos, das manchetes, das rupturas internas. O governo Lula (PT) é sacudido por revelações e traições, e a república — mais uma vez — balança entre a indignação e o pragmatismo.
Se o Brasil fosse uma série, agosto seria a temporada em que tudo sai do controle — com plot twist, tragédia e uma pitada de vergonha nacional.
Agosto está Chegando. E com Ele, mais Prudência (ou muito mais Oração)
A cada ano, Agosto se anuncia como aquele parente que chega sem avisar, sem educação e com uma mala cheia de confusão. E mesmo assim, a política insiste em agir como se fosse janeiro. E parece que este ano os sinais de ventania são muito intensos. E há quem ainda queria botar algo a mais no ventilador. Imagina o que virá !?
A lição é simples: em agosto, melhor não brincar com o destino.
Se você é político, mantenha a compostura. Se é presidente, evite arroubos e fanfarrices. Se é candidato, revise a agenda. Se for excelência procure manter os exames em dia. E se for pagador de impostos... Só com muita oração.
Porque, no Brasil, Agosto não é o mês do cachorro louco. É o mês em que até os donos do canil saem correndo.
E talvez, só talvez, a gente devesse trocar as férias de julho por agosto. Pelo menos estaríamos longe quando a próxima tragédia resolvesse bater à porta de Brasília.
Epílogo: Contra o Vento Não Há Conspiração
Em meio à ventania das narrativas, fatos e acontecimentos, que atinge a todos, talvez seja hora de lembrar que a luta verdadeira não é contra homens de carne e sangue. As palavras de São Paulo aos Efésios são um alerta e um convite:
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do diabo. Porque não é contra a carne e o sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos do mal...” (Efésios 6, 11-12)
Nessa guerra que se repete todo agosto e também durante os demais meses do ano, a armadura da verdade, da justiça e da fé continua sendo o farol dos que acreditam que o Brasil é maior que suas crises.
'Sic transit gloria mundi' (Assim passa a glória do mundo.)
*Emanuel Silva, é Professor e Cronista
**Os artigos assinados expressam a opinião dos seus autores e não refletem necessariamente a linha editorial de O Poder.
