
Memória - Drayton Nejaim comprou armas para "combater comunistas", por Tavares Neto*
23/07/2025 -
Após o emblemático comício realizado na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, liderado pelo presidente João Goulart e com a presença de importantes nomes da esquerda brasileira — como o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, o deputado federal Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, e Leonel Brizola, cunhado de Goulart —, as tensões políticas se intensificaram em várias regiões do país.
Em Caruaru, no Agreste pernambucano, o deputado estadual Drayton Nejaim, conhecido por sua oposição ferrenha ao governo de Goulart e ao governador Miguel Arraes, declarou publicamente que estava adquirindo armas para combater o que chamou de “ameaça comunista”. A afirmação foi feita durante entrevista à Rádio Cultura do Nordeste, gerando grande repercussão na cidade e no estado.
Drayton afirmou que participaria de uma reunião no Clube Internacional do Recife ao lado do deputado estadual Francisco Falcão, que também defendia a compra de armamentos para promover uma reação ao que considerava um avanço do comunismo no país. O encontro contou ainda com a presença do vereador Wandenkolk Wanderley, conhecido por sua postura de extrema direita e oposição radical à esquerda.
Já como prefeito eleito de Caruaru, Nejaim intensificou sua atuação contra o governo federal. Utilizando armas de uso exclusivo do Exército, ele teria comprado os revólveres e munições disponíveis no comércio local da época — quando a venda de armamentos era legal e acessível — com o objetivo de armar seus secretários e aliados políticos.
Quando o Golpe Militar de 1964 foi deflagrado, Drayton Nejaim e seu grupo já estavam preparados. Armados dentro da sede da Prefeitura de Caruaru, declararam apoio aos militares que tomaram o poder. Toda a movimentação local foi transmitida ao vivo pela Rádio Cultura do Nordeste, que acompanhou os desdobramentos do golpe na região.
*Tavares Neto é jornalista e radialista em Caruaru-PE.
