imagem noticia

Opinião - O Brasil diante da tempestade tarifária: quando a ideologia se sobrepõe à diplomacia, por Ângelo Castelo Branco*

24/07/2025 -

imagem noticia
Os jornais desta quinta-feira, 24 de julho de 2025, soam o alarme para o Brasil. As manchetes do O Estado de S. Paulo e do Valor Econômico anunciam com preocupação os efeitos devastadores da tarifa de 50% que os Estados Unidos pretendem impor às exportações brasileiras. A medida, segundo estimativas da Federação da Agricultura e Pecuária do Brasil (FAEB), deve causar uma queda de 48% nos embarques de produtos agropecuários ao mercado norte-americano, gerando uma perda estimada de 5,8 bilhões de dólares somente neste ano.

A gravidade é concreta: as exportações brasileiras de suco de laranja, açúcares de beterraba, outros açúcares de cana e sacarose tendem a despencar para zero. Produtos como o etanol também enfrentam queda brusca nas vendas externas. O Brasil, portanto, se vê na iminência de sofrer um duro golpe em um dos seus setores mais competitivos — o agronegócio — sem qualquer perspectiva imediata de reversão ou alívio.

Enquanto isso, o mundo gira. O Valor Econômico notícia que Estados Unidos, Japão e União Europeia avançam na construção de um acordo comercial trilateral, com a fixação de uma tarifa conjunta de 15%. A Casa Branca acelera a costura de pactos comerciais bilaterais e multilaterais, reforçando uma rede tarifária que beneficia aliados preferenciais. A cada novo acordo celebrado por Trump, cresce a percepção de isolamento do Brasil. Analistas e diplomatas admitem que, diante desse cenário, um entendimento entre Brasília e Washington se torna cada vez mais improvável.

Mais grave ainda é a constatação de que o silêncio de Washington aos apelos diplomáticos brasileiros revela uma face política da crise. A tarifa de 50% imposta ao Brasil tem nítido caráter ideológico, como reforçado pela posição de Donald Trump, que vê no julgamento de Jair Bolsonaro uma "caça às bruxas". Ou seja, a motivação não está no comércio, mas na política interna brasileira, sobre a qual o governo dos Estados Unidos quer emitir um recado claro. Que, naturalmente, terá de ser negociado na mesa da diplomacia para que seja avaliada a implícita interferência de países estrangeiros nos conflitos internos do Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diante da falta de interlocução direta com a administração americana, deve receber nos próximos dias um plano de contingência para mitigar os danos do tarifaço. A mera elaboração deste plano é o reconhecimento tácito do fracasso das estratégias adotadas até aqui. Enquanto países se apressam para negociar e obter melhores condições com os Estados Unidos, o Brasil ainda se apega a discursos ideológicos e confrontos retóricos que em nada contribuem para a solução do impasse.

O momento exige sobriedade, pragmatismo e, sobretudo, capacidade de articulação internacional. O Brasil precisa urgentemente reconstruir pontes com seus principais parceiros comerciais, abandonando bravatas que apenas inflam discursos internos, mas não produzem resultados concretos no cenário global. O risco não é apenas econômico — embora já bastante grave —, mas também político e diplomático.

Se a previsão de perdas de quase 6 bilhões de dólares se confirmar, o Brasil terá diante de si não apenas uma crise comercial, mas uma crise de credibilidade internacional. E dela não se sai com slogans. Sai-se com diplomacia, planejamento e ação coordenada. O tempo está passando, os acordos estão sendo firmados, e o país, até agora, está do lado de fora da sala de negociações.

*Ângelo Castelo Branco é jornalista, com um currículo raro. Foi Secretário de Estado e exerceu altos cargos federais. Da Academia Pernambucana de Letras.

NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores. O Poder estimula o pensamento crítico, a diversidade de opiniões e garante espaço ao contraditório.

Deseja receber O PODER e artigos como esse no seu zap ? CLIQUE AQUI.

Confira mais notícias

a

Contato

facebook instagram

Telefone/Whatsappicone phone

Brasília

(61) 99667-4410

Recife

(81) 99967-9957
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nosso site.
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Jornal O Poder - Política de Privacidade

Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos projetos gerenciados pela Jornal O Poder.

As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas apenas para fins de comunicação de nossas ações.

O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar diretamente o usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como geolocalização, navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações sobre hábitos de navegação.

O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a confirmação do armazenamento desses dados.

O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus formulários preenchidos.

De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Jornal O Poder não divulgará dados pessoais.

Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a Jornal O Poder implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.

fechar