
Cultura, Sobre a Diversidade de um conceito -22 - Rádio e Cultura Por Geraldo Freire
24/07/2025 -
O rádio é hoje, como sempre foi, um instrumento pleno de desenvolvimento da cultura e do conhecimento, exercendo um papel importante contra o analfabetismo e a favor da consciência de cidadania da população.
No começo, o rádio concentrou sua programação em roteiros rígidos, guiados por script, de exaltação ufanista, curiosidades do mundo, manifestações culturais, e, sobretudo, a música regional e seus valores, como ocorreu em certa época na Rádio Jornal do Commercio com o programa “Pernambuco, você é meu”, produzido e apresentado pelo comunicador Aldemar Paiva, enaltecendo principalmente o frevo, gênero genuinamente pernambucano.
Enquanto isso, em Caruaru, Ivan Bulhões se destacava como promotor da cultura regional, dando vez aos valores da terra, cantores de forró, como Jacinto Silva, Onildo Almeida e Azulão, além de declamadores e poetas repentistas.
Esses últimos, conhecidos apenas nos grotões, chegaram à cidade grande através do rádio. Um dos eventos mais importantes da poesia popular ocorreu nos anos 2000 com o Desafio Nordestino de Cantadores, que percorreu as principais capitais do país, com a participação de grandes nomes como Ivanildo Vilanova, Geraldo Amâncio, Oliveira de Panelas, Sebastião Dias, João Paraibano, Os Nonatos, e outros, com promoção e cobertura completa da Rádio Jornal.
Roquete Pinto, considerado o ‘pai da radiodifusão’ costumava dizer que “o rádio é o livro dos que não sabem ler”, e, por isso, esse veículo de comunicação têm exercido, ao longo desses anos, o papel múltiplo de professor, orientador, companheiro, consolador e indutor de transformações sociais e culturais.
Conhecidos
Foi o rádio que tornou conhecidos, em todo o país, Luiz Gonzaga Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos, que fizeram o Brasil inteiro tomar conhecimento da riqueza cultural da região Nordeste, com seus ritmos, danças, lendas, seus personagens e, enfim, sua beleza natural. O rádio divulgava e sustentava a cultura em sua programação, porque essa fonte de informações era – e sempre será – inesgotável.
Mas o tempo foi passando e vieram os avanços imediatos da ciência e da tecnologia. O rádio foi se acostumando e se adaptando a essas mudanças bruscas e até delas se aproveitando, como ocorre agora, com a Internet, que faz a emissora de rádio de uma cidadezinha do interior do Tocantins ser ouvida em qualquer parte do mundo com qualidade sonora local.
Uma dessas adaptações foi a segmentação: enquanto umas optaram pela exclusividade da notícia e da prestação de serviços, outras o fizeram pela música internacional, ou música popular brasileira, ou música regional; outras ainda pela ênfase ao esporte, enfim, cada emissora foi selecionando um público-alvo.
Aqui se faz necessário destacar a invasão de grupos religiosos na programação de centenas de emissoras de rádio no país. Um processo simplesmente mercantilista – uma vez que essas congregações dispõem de recursos financeiros robustos e livres de impostos – acabou desmontando a programação utilitária do rádio em favor de seus interesses.
Muitos desses que usam Deus como pé de cabra foram tão beneficiados pela força do rádio que ganharam poder político, comprando centenas de emissoras, algumas muito importantes, como a Sociedade da Bahia e Guaíba de Porto Alegre. Esses grupos conseguiram milhares de concessões públicas e poluíram o dial com promessas de cura e ludibriando a boa fé do ouvinte.
O ecletismo, porém, é a forma mais produtiva de fazer rádio, porque atinge um público mais heterogêneo por conseguir difundir na programação um mix de música, esporte, notícia, cultura, conhecimento, prestação de serviços e debates de temas variados.
Esse é o rádio forte, o rádio dinâmico, o rádio completo. Como exemplos, tivemos até recentemente: Rádio Olinda, Rádio Clube, Rádio Liberdade de Caruaru e Rádio Jornal do Commercio, que hoje se tornaram segmentadas e dão menos espaço à divulgação da cultura regional.
Cumprindo o importante papel
De toda forma, o rádio continua cumprindo o importante papel de educador, uma vez que procura despertar no ouvinte a consciência de seus direitos como cidadão, e, como orientador, mostra os caminhos por onde trilham os movimentos culturais, como os shows musicais, o teatro, o cinema, o lazer, enfim, os locais e os eventos onde ocorrem essas manifestações populares.
O rádio tem vivido, como nós, as suas gerações. Em cada uma delas vem cumprindo com desenvoltura o seu papel pedagógico e humanista, procurando se aproximar do cotidiano das pessoas, de suas necessidades básicas (água, saneamento, coleta de lixo, saúde, segurança) e, ao mesmo tempo, tornar a vida das pessoas mais prazerosa. Onde tem rádio não tem solidão.
Geraldo Freire é Radialista pernambucano
