
Artigo - Bandeiras, balas e bíblias, por Natanael Sarmento*
28/07/2025 -
A burguesia da extrema direita do Brasil tem forte penetração na base social de militares, policiais e religiosos ditos defensores do “Deus, pátria e família”. Advogam anistia fiscal e empréstimos subsidiados para empresários do agronegócio, assunção de dívidas de banqueiros, o Estado mínimo para pobres e máximo para ricos. Em nome da “responsabilidade fiscal”, cortam verbas da educação, saúde, previdência e programas sociais. Lavam a burra nas privatizações de empresas públicas e exploração das riquezas do país. Consideram direitos trabalhistas e aumentos salariais obstáculos ao desenvolvimento. Atribuem os privilégios de vida de nabos dos ricos a fatores “naturais” como herança familiar ou compensação do esforço pessoal ou “meritocracia”. Ordinariamente, anticomunistas viscerais, patriotas tipo o “que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Usam símbolos nacionais na política e rendem vassalagem aos EUA. O golpe de 1964 escreveu a tragédia histórica dessa direita, repetida como farsa nos atentados de 2023.
Patuscada
Semana passada, parlamentares da direita protagonizaram patuscada em ato de solidariedade ao réu Bolsonaro. Os deputados Caveira (PL) e Fehur (PSD), ambos da bancada da bala que tem 270 parlamentares, orgulhavam-se em torpe exibição de bandeira: “Trump, faça a América novamente grande.” em inglês. No surrealismo brasileiro patriotas beijam a bandeira dos EUA e os evangélicos a de Israel. Na fantástica capital Brasília iluminaram a cúpula do Congresso Nacional com projeção da bandeira de Israel. Celebram cultos evangélicos na sala Nereu Ramos do Congresso Nacional. No realismo da Frente Evangélica que alberga 15 Partidos e conta com 228 congressistas. 104 deles fazem oposição ao governo Lula, 77 se dizem “independentes” e apenas 22 apoiam o petista.

Tiro no pé
A pantomima da direita foi tiro no pé. A nação ainda sob os impactos da sobretaxação de produtos brasileiros pelo Presidente americano Donald Trump que abalaram as históricas relações diplomáticas e comerciais de Brasil/EUA. Gerou-se instabilidade na economia e prejuízos bilionários. Ironia da história. A sobretaxação prejudica todos os brasileiros, mas atinge, principalmente, os exportadores. Essa base social é majoritariamente contrários à tributação de grandes fortunas e faz oposição ao governo. Contudo, o arbitrário e inusitado tarifaço de 50% uniu a nação brasileira. Teve o repúdio da opinião pública nacional. Foi condenado pela comunidade internacional e agências mundiais de comércio. Calha a chiste: “com um amigo destes, quem precisa de inimigo?”.
Motivações
A estapafúrdia taxação donaldiana causou surpresa aqui e alhures. Aparentemente, pelas próprias declarações do Trump, a causa é política. Claro que toda medida econômica é política. Mas esta aberração tributária veste a roupa de política: quebra contratos e fustiga a autodeterminação e a soberania brasileira. Causa espécie um governante estrangeiro retaliar o Brasil por que insatisfeito com os atos de autoridades brasileiras, declaradamente para beneficiar aliado político, supostamente injustiçado, o ex-Presidente Bolsonaro, réu julgado no Brasil, de acordo com as leis brasileiras.
O processo do Bolsonaro integra a denúncia do MPF contra civis, militares e todos os participantes dos atentados do 8 de janeiro. São acusados de organização criminosa, utilização de armas de fogo e atos violentos, abolição violenta do Estado de Direito e Golpe de Estado, Dano ao Patrimônio da União, Deterioração de Patrimônio Tombado. Mais de 2 mil pessoas são investigadas pela trama golpista entre populares, empresários, militares, financiadores, mentores e executores dos atentados em Brasília. 500 pessoas admitiram a participação criminosa. 371 pessoas foram condenadas até o momento. Mas Trump que não é brasileiro e muito menos Ministro do STF quer inocentar o Bolsonaro. O queridinho do Yankee fez campanha presidencial sob o lema “Deus acima de Tudo, pátria acima de todos”. Após a derrota nas urnas, o Messias acolhido nos EUA, conspirou com aliados o golpe de Estado que fracassou. Os aliados de lá agora querem salvar o condenado das penas da lei, “será o Benedito?”
“Adeus, pátria e família” – B. Itararé.
O filho, Eduardo Bolsonaro, hoje refugiado nos EUA, permanece na continuidade delitiva da trama golpista. Articula com a extrema direita americana retaliações contra instituições e o governo do Brasil, objetivando criar clima de instabilidade política com o escopo de restaurar a “farra do boi” da extrema direita americanalhada liderada pelo pai et caterva. O deputado Eduardo se gabou nas redes sociais de ter prestígio junto às autoridades americanas. O lesa-pátria conserva seu mandato sem um dia de trabalho, blindado pelos parlamentares da mesma laia fascista.
Falências
Acácio, conselheiro eciano, ensina “as consequências vêm depois”. Depois do tarifaço a quebradeira empresarial levantada pela Consultoria RGF registra 225 processos de Recuperação Judicial. Os setores mais prejudicados são petróleo, ferro e aço, café, celulose, carne, vegetais, frutas, minerais não metálicos, máquinas e equipamentos de energia.
Jabuti
Horas antes do tarifaço, o mercado de dólares registrou movimentação financeira anômala - compra de US$ 5,46 bilhões. Há indícios da utilização de informação privilegiada e crime contra a ordem econômica. A PF investiga o caso. A Câmara se movimenta para criação de CPI. Enquanto “seu lobo não vem”, as mídias apontam as mãos invisíveis da colocação do jabuti no telhado do mercado de dólares: empresários ligados ao staff do presidente Trump.
Déjà vú
O “modus operandi” dessa fraude de “pescadores de águas turvas” tem precedentes em vários países do mundo, África do Sul e México exemplificam. As banalizadas diatribes do Donald são havidas como loucura, por muitos. A psiquiatria da Ribeira contesta: doido é quem rasga dinheiro.

Bíblia da prosperidade
Consta na Bíblia que Cristo, nas suas peregrinações pela Judéia, pregava para multidões de desvalidos, pobres, lazarentos, excluídos. É fato que o número dos seguidores cresceu com a igreja cristã que universalizou a religião. E que também, historicamente, cresceram o número de igrejas e de exegetas, de traduções da Bíblia. Templos e mais templos. De templos em templos chegamos à “teologia da prosperidade” das igrejas neopentecostais. Da exegese bíblica segundo a qual as riquezas materiais e a saúde são dádivas divinas. E a pobreza e as doenças, são expiações resultantes da falta de fé em Deus.
Igrejas & Igrejas
Amplos setores da igreja católica romana apoiaram o golpe empresarial-militar de 1964. Depois os católicos mudaram de rumo, passaram a denunciar violações de direitos humanos, os crimes da ditadura. Em desgraça o clero católico, padres, seminaristas, bispos e cardeais, sofrem perseguições. Computam mártires assassinados e torturados pela ditadura. Concomitantemente, crescia exponencialmente o número de “igrejas” protestantes nas comunidades. A pregação conservadora e anticomunista dos pastores cabia como luva na ideologia da “segurança nacional” dos militares. Diferente da “teologia da libertação” dos “padres vermelhos”.
O Brasil dito católico, hoje, tem mais de cem milhões de protestantes. E cerca de 110 mil igrejas protestantes, com as mais diferentes denominações.
Ligações perigosas
É fato que milhares de fiéis pagam os dízimos em dia, religiosamente. Mas sinais exteriores de opulência de alguns pastores e missionários suscitam dúvidas hamletianas de haver “mais coisas entre o céu e a terra.” Obviamente, não generalizamos para todos. Mas trazemos denúncias de extrema gravidade envolvendo evangélicos. Não abordaremos casos de estupro, sedução, pedofilia. Trataremos do tráfico de drogas, crime generalizado no Brasil. As muitas igrejas nas periferias coexistem com o tráfico. Interagem, obrigatoriamente. Muitas com tensões em seu trabalho pastoral de recuperação de dependentes e traficantes. Outras, não. Nas relações sociais complexas, registram-se processos de acomodação, adaptação e assimilação. Investigados pelas polícias e estudados pelos acadêmicos.

Até Deus duvida
Missionário da Igreja Apostólica Brasileira foi preso em Jaboatão/PE como traficante. Avião da Igreja Quadrangular com o tio da Damares, missionária ex-Ministra do Bolsonaro, foi apreendido com apenas 290 quilos de maconha em Belém/PA. O fenômeno dessa esdrúxula relação gerou o neologismo “narcoevangélicos”. O “complexo de Israel” é formado por várias comunidades do Rio de janeiro - Vigário Geral, Parada de Lucas, Pica Pau, Cinco Bocas, também chamada de “Terra Prometida”. Os narcoevangélicos usam simbologias bíblicas e a bandeira de Israel para demarcar seus territórios. Traficantes, assassinos, sequestradores “participam ativamente da vida religiosa evangélica nos cultos, pagam dízimos e as apresentações dos artistas gospel, para as comunidades”, afirma a Kristina Hinz, pesquisadora do tema.
Lista milionária
A revista americana Forbes segue o dinheiro e as grandes fortunas. Publicou em 2013 a edição da lista dos pastores milionários do Brasil, que obviamente está desatualizada. Da lista constam:
Bispo Edir Macedo da IURD – Igreja Universal do Reino de Deus ocupa o topo. Fortuna calculada em 2 bilhões, inclui a TV Record, editoras, livros e jornais e empreendimentos musicais gospel.
Apóstolo Valdomiro Santigo, dissidente da IURD, fundou a própria tenda milagrosa chamada Igreja Mundial de Deus, que ocupa o segundo lugar. O Pastor empresário do chapelão faz chamadas de celular diretas com Deus e curas públicas em cultos televisivos. Tem 1 milhão de seguidores.
Malafaia, em terceiro, líder da Assembleia de Deus. Deputado conhecido pela “cura gay” evangélico do projeto bilionário - “Clube de Um Milhão de Almas” e da rede televisiva para transmissão em 137 países.
Pastor Romildo Ribeiro Soares, o RR Soares midiático, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. Apóstolo Estevam Hernandes Filho e Bispa Sônia, casal abençoado da Igreja Apostólica Renascer em Cristo,
Privilégios e pautas
A Constituição veda tributação de patrimônio das igrejas. Algumas delas possuem jatinhos e frotas de carros de luxo. Lembramos o “Posche de Jesus” do militante evangélico ex-Presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A bancada parlamentar evangélica não bate prego sem estopa. Recebe isenções tributárias, prebendas, concessões de rádio e televisão. E vota no Orçamento Secreto, a favor de privatizações, contrário ao “aborto”, “liberação de drogas”, “eutanásia” e pautas gênero e sexualidade.
“Maravilhas”
“As maravilhas do Capitalismo” é o título do livro lançado recentemente no Recife por Luiz Falcão, editor do jornal A Verdade. O opúsculo crítico do capitalismo e da burguesia no tópico “O cristianismo primitivo é a negação do capitalismo” analisa as mensagens de Jesus e desfaz falsificações ideológicas da burguesia. Baseado na tradição de Marx, Engels, Luiz Falcão explica com simplicidade, clareza e concisão a manipulação da inversão da burguesia em utilizar o cristianismo incorporando-o a ideologia da exploração e dominação capitalista contrária à pregação do Cristo. Pois o Cristo histórico pregava a divisão de pães e peixes e defendia pobres e doentes, ensinava humildades e compaixão, a justiça de “amar ao próximo como a ti mesmo” e criticava adoradores do bezerro de ouro, “é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de céus”. Uma pequena grande obra de mestre da escrita que sabe simplificar o complexo sem prejuízo à verticalidade das críticas.
*Natanael Sarmento é professor e escritor. Do diretório nacional do partido Unidade Popular Pelo Socialismo - UP.
NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores. O Poder estimula o livre confronto de ideias e o contraditório. Todas as pessoas e instituições citadas têm espaço garantido para suas manifestações.

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