
É Findi - Sinais vitais - Conto, por AJ Fontes*
02/08/2025 -
As respostas explodiam na cabeça, feito as plumas brancas na pipoqueira do cinema. Uma, apontaria a questão que se misturava aos olhares afetuosos recebidos desde o alcance das lembranças, e me acompanhou nas conversas com os amigos de brincadeiras e jogos, na leitura dos três porquinhos, nas viagens com Gulliver, ou no balão dando a volta ao mundo.
Para ver como essa coisa se enrolava em mim: Um belo dia, encontrei a interrogação encaixada em um canto dos miolos, meio a leitura de uma revistinha cujas linhas desenhavam corpos contorcidos em folhas engomadas pelo uso adolescente.
Permaneci atento às quantas possíveis. Nas visitas aos amigos que tenho desde pequeno, observando as entrelinhas nas perguntas das mães e os sorrisos astuciosos nas brincadeiras dos pais.
Seria bom reconhecer um movimento de corpo parecido com algum trejeito meu. Nem sei o porquê. Acho que traria alegria ver, em um rosto diferente, a mania de fechar um olho quando tento lembrar de algo.
A adivinha de minhas vontades, assim, se fazia. Cada vez com mais eficiência, no interesse dela própria, negava a necessidade que tenho de acalmar esse meu anseio.
Um dia resolveu que seria mãe e assim: Eis-me aqui.
Continuei reencontrando o tal sinal gráfico na minha cabeça enquanto descobria a vida à cada esquina que dobrava. Os livros sempre me ensinam. Não só eles, mas também as pessoas que encontramos, ouvimos e observamos mostram opções de caminhos, embora precise pensar até a quem perguntar para fazer uma escolha de o quê fazer, como e quando. Cansa, quando a gente não conta com alguém, próximo que responda.
Estarei sempre presente.
Olhando para o espelho, não vejo esse jovem assertivo. Na minha cabeça, o tal sinal gráfico se deformou em exclamações, dividiu-se em vírgulas; muitas reticências e nenhum ponto final ou dois pontos que esclareça e, pasmem os mais jovens, elas não desaparecerão; ao contrário, as interrogações se multiplicarão.
Não danço na chuva, feito Gene Kelly, no filme. Entre uma calçada e outra faço escolhas; decido por uma rua ou outra e caminho; aprendo a aprender como lidar com tantos sinais. Chegam a embaralhar a leitura, em alguns momentos, mas a vida é a vida e repito.
É bonita e é bonita.
*AJ Fontes, contista e cronista, engenheiro aposentado, e eterno estudante na arte da escrita, publicou o livro de contos: ‘Mantas e Lençóis’.