
Disse, tá dito - Diplomacia brasileira faliu. "Nazista! Ladrão!" Troca de insultos entre Lula e Trump levou crise ao impasse
02/08/2025 -
Jornalista Marcelo Tognozzi, hoje, sábado 02/07, no Poder360:
"Foi a ausência da verdadeira diplomacia o combustível da crise com os EUA. Imperou o improviso. Desde que tomou posse em janeiro deste ano, Trump fez chegar a Brasília um recado: trataria o Brasil como uma questão pessoal. Portanto, a crise anunciada seria mera questão de tempo, algo para estar no radar da nossa diplomacia, especialmente nestes tempos conturbados, regidos pelo imponderável.
Trump e Lula não se gostam, falam mal um do outro abertamente. O fato de o demônio laranjinha cometer este tipo de erro, não libera nosso guia para repeti-lo. Trump anunciou um pacote de tarifas sem que ninguém tenha se dado ao trabalho de procurar a Casa Branca em busca de negociação que favorece o Brasil. Lula chama Trump de nazista e Trump chama Lula de ladrão. É muita baixaria.
Quando as tarifas foram anunciadas por Trump naquela carta fatídica, virou um deus nos acuda. Senadores foram para os Estados Unidos sem agenda, sem assessoria internacional, no improviso total. Não conseguiram falar com ninguém importante, o Congresso em recesso de verão. O senador Jacques Wagner, líder do governo no Senado e ex-governador da Bahia, foi pedir ajuda ao ex-presidente Bush. Ignorou que Bush e Trump são inimigos e que a filha dele fez campanha para a democrata Kamala Harris. Tinham de ir direto ao vice-presidente J.D. Vance, que preside o Senado. Voltaram para casa com a lição: sem diplomacia é difícil.
O Brasil resolveu esticar a corda e bater palma para maluco dançar, enquanto os demais países apostaram na diplomacia profissional. A Índia, informa o repórter Assis Moreira do Valor, bloqueia nos Brics a renovação da Estratégia para Parceria Econômica para o período 2025-2030. Quer esfriar a fervura. Narenda Modi, informam fontes da diplomacia indiana, disse para Trump que foi de Lula a ideia de romper a hegemonia do dólar como moeda internacional. Serguei Lavrov, chanceler russo, também contou a mesma história. Até os chineses, principal alvo da guerra tarifária de Trump, resolveram conversar ao invés de estressar.
Por que russos e indianos tiraram o corpo fora da desdolarização? Por que o governo de esquerda da Inglaterra negociou? E a Europa? Terá sido Ursula von der Leyen, chefe da União Europeia, seduzida por Trump, ou todos os europeus são frouxos, entreguistas das suas soberanias? Por que será que eles usam a diplomacia e o Brasil não? Porque a ordem no Itamaraty é fazer corpo mole. Perdemos a iniciativa diplomática. Apertem os cintos, a diplomacia sumiu".
*Marcelo Tognozzi é jornalista e um dos mais conceituados consultor em Relações Institucionais. Escreve semanalmente aos sábados em Poder360 e outras publicações.