
O belo dia em que o Recife vibrou com os ianques, por Roberto Vieira*
07/08/2025 -
Os norte-americanos andam pegando no pé dos brasileiros. Taxa pra cá. Magnitsky pra lá. Mas ianques sempre estiveram por aqui. Antes, durante e depois da segunda guerra mundial. Inclusive, o primeiro jogo de Copa do Mundo em Pernambuco ocorreu com a seleção dos EUA em campo, na Ilha do Retiro, há 75 anos.
13
A Copa do Mundo de 1950 no Brasil foi um desafio logístico e geopolítico. A guerra havia devastado a Europa e o Brasil ganhou o direito de sediar o torneio no Congresso da FIFA, em 1946, em Luxemburgo. A Argentina ficou arretada e depois das brigas com nossa seleção na Copa América e disse que não vinha. A Escócia ficou em segundo lugar nas Eliminatórias com a Inglaterra e fez birra. A Índia só viria se pudesse jogar de pés descalços. Portugal se recusou - tinha levado de 10 da Espanha. A Copa repetiu o mundial de 1930 com apenas 13 seleções.

Recife
Recife e Salvador seriam sedes. Com 13 seleções, Salvador desistiu. Coube ao Sport Club do Recife lutar com unhas e dentes, erguendo um alambrado exigido pela FIFA, conseguindo trazer na marra Jules Rimet, EUA e Chile para o jogo final do grupo 3.
Zebra
Quando foi anunciado, o jogo não valia nada, era uma pelada. Porém, na maior zebra da história das Copas, os ianques bateram a Inglaterra por 1x0. Após o triunfo, em Belo Horizonte, os norte-americanos pegaram o avião de noite. Descem no Recife às duas da madrugada. A recepção é calorosa. O haitiano Gaetjens, autor do gol da vitória contra os ingleses, traz nas mãos a bola Supercopa do gol. Autografada pelos 22 jogadores da partida. Os EUA e a bola dormem no Grande Hotel. Tudo acontece com auxílio do intérprete e desportista João Batista da Conceição.

5x2
O Chile do arqueiro Livingstone abre 2x0 no primeiro tempo. Caravanas de todo o Nordeste havia vindo para a festa. Os automóveis chegam pela Ponte do Derby inaugurada na véspera. Naquele tempo, automóveis podiam estacionar atrás das barras na Ilha do Retiro. Mas nesse jogo, apenas veículos do governador, prefeito e comandantes militares foram autorizados. Os EUA empataram nos minutos iniciais da etapa derradeira. Uma vitória americana e um triunfo inglês sobre a Espanha no Maracanã provocaria tríplice empate no grupo. Os ianques partiram pro tudo ou nada. Os chilenos se aproveitaram e no contra ataque golearam por 5x2. Tudo sob o olhar de Jules Rimet.

Tragédia
Um belo dia, Gaetjens voltou para o Haiti. Sua pátria já estava envolvida na miséria e violência. As milícias do ditador Papa Doc não gostaram da presença daquele jogador famoso, cujos irmãos tinham ideias democráticas. Gaetjens foi assassinado após torturas no Fort Dimanche. Seu corpo sumiu em farrapos pelas favelas de Porto Príncipe. O rapaz alegre que deixou amigos entre os recifenses partiu na realidade trágica das Veias Abertas da América Latina.
*Roberto Vieira é médico e cronista. Autor do livro 'Pernambuco e a Copa do Mundo'.

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