
Ensaio - Entre Sirenes e Churchill: Netanyahu como Sentinela do Ocidente 07/08/2025
07/08/2025 -
Por Jorge Henrique de Freitas Pinho*
“Em tempos de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário.”
— atribuída a George Orwell
1. Introdução — A Repetição Trágica da História
Há momentos em que os líderes não são escolhidos pela aclamação dos muitos, mas pela falência dos sistemas que deveriam sustentar o mundo ao seu redor. Como dizia Heráclito, “o caráter é o destino” — e certos homens parecem nascer com uma consciência que os prepara, desde cedo, para resistir quando tudo mais desmorona.
Winston Churchill foi esse homem na primeira metade do século XX. Sua formação não foi linear, tampouco exemplar aos olhos convencionais, mas era marcada por um senso de destino que o ligava ao curso da História. Ainda jovem, dizia-se destinado a grandes feitos — e, apesar do escárnio dos pares, nunca abandonou a convicção de que sua vida seria crucial para salvar a Inglaterra.
Benjamin Netanyahu, com todas as diferenças de tempo, estilo e cenário, desempenha hoje papel semelhante. Sua consciência histórica não nasceu do acaso político, mas de um enraizamento familiar profundo: filho de Benzion Netanyahu, historiador renomado e estudioso das perseguições contra os judeus na Espanha medieval, cresceu ouvindo que a existência de Israel não era um dado — mas uma conquista precária que exigia vigilância constante.
A tradição judaica ensina, desde o Talmude, que “em cada geração, há aqueles que se levantam para nos destruir”. Netanyahu cresceu com essa frase não como fatalismo, mas como responsabilidade. Como Churchill, carregou desde cedo a ideia de que sua vida teria um papel na defesa de seu povo — não como salvador, mas como vigia.
Ambos formaram-se na tensão entre cultura e conflito, entre estudo e estratégia. Churchill, com seu amor pela literatura e pela História, unia espada e palavra como poucos. Netanyahu, graduado no MIT e forjado como soldado nas forças especiais, une o raciocínio técnico à vivência do risco real — algo que falta a muitos líderes de gabinete.
Para além da biografia, ambos se tornaram símbolos de uma virtude esquecida: a lucidez que não cede à ilusão. Quando o mundo buscava tranquilidade nas promessas de Hitler, Churchill alertava. Quando o mundo se distrai com acordos que Teerã jamais respeitou, Netanyahu insiste.
Como ensina Lao-Tsé, “o homem superior é aquele que permanece firme, mesmo quando os rios mudam seu curso”. Churchill permaneceu em pé diante do nazismo. Netanyahu permanece em pé diante do fundamentalismo islâmico. Ambos sustentam a verdade quando o mundo inteiro prefere a mentira confortável da diplomacia vazia.
São homens que não surgem por vaidade, mas pela necessidade. Como afirmava Platão, na República, é quando o filósofo se recusa a governar que os piores tomam o poder. Quando os prudentes se calam, os imprudentes falam em nome da humanidade.
Netanyahu não é filósofo, tampouco Churchill o era — mas ambos foram obrigados a pensar politicamente com densidade ontológica: não para especular, mas para agir. Como diria Viktor Frankl, a liberdade só tem sentido quando está orientada por um dever. E em ambos, a liberdade está subordinada à defesa de algo maior que o eu: a sobrevivência de um povo, de uma cultura, de uma civilização.
Em tempos de engano generalizado, como diria Orwell, a verdade torna-se um ato revolucionário. E é por isso que, entre aplausos superficiais e silêncios cúmplices, alguns homens não esperam a aclamação — apenas escutam o chamado e permanecem.
Churchill enfrentou o nazismo. Netanyahu enfrenta uma combinação de fundamentalismo islâmico, terrorismo e covardia ocidental. Ambos foram chamados de alarmistas, belicistas, ultrapassados. Ambos foram retirados do poder e depois reconduzidos quando a história, com sua ironia fatal, provou que estavam certos.
Não são santos. Mas são vigias. E a vigília, hoje, vale mais do que a simpatia.
Churchill enfrentou o nazismo — não apenas como máquina de guerra, mas como projeto ontológico de aniquilação da dignidade humana. Reconheceu em Hitler não um rival político, mas um abismo moral disfarçado de ordem.
Netanyahu enfrenta outro tipo de totalitarismo
Netanyahu enfrenta outro tipo de totalitarismo, não menos perigoso: a convergência entre o fundamentalismo teocrático, o terrorismo transnacional e a cumplicidade silenciosa de um Ocidente que confunde apaziguamento com prudência e rendição com diplomacia.
Ambos foram chamados de alarmistas. Ambos acusados de ver perigos onde só haveria “diferenças culturais” ou “processos de paz em construção”. Mas o tempo — esse juiz implacável — retornou para lhes dar razão onde antes os acusava de exagero.
Como ensina Aristóteles, o verdadeiro prudente não é aquele que evita o conflito a todo custo, mas aquele que reconhece quando a ação se torna dever moral.
Churchill, inúmeras vezes, foi ridicularizado por sua firmeza; Netanyahu, por sua insistência. Mas a história é pródiga em zombar dos lúcidos — antes de lhes dar razão.
Ambos foram afastados do poder — não por incompetência, mas por incômodo. Eram espelhos em uma época que preferia maquiagem. Foram retirados quando a ilusão era mais rentável. E reconduzidos quando a realidade finalmente rompeu a maquiagem do mundo.
Nietzsche alertava que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. Churchill e Netanyahu jamais se deixaram guiar apenas pelo pragmatismo do momento. Possuíam um porquê enraizado: a defesa de algo maior do que eles — da nação, da verdade, da civilização.
Não são santos. E talvez nem sejam simpáticos. Mas são aquilo que a filosofia política mais rara conhece: vigias do real. Guardiões de uma lucidez que não se curva diante da popularidade nem das narrativas convenientes.
Como diria Confúcio, “governar é dar o exemplo, e o exemplo exige coragem mais do que eloquência.” Em tempos de líderes moldados por algoritmos, há algo de profético naqueles que preferem a vigília ao aplauso.
A vigília é desconfortável. Requer insônia ética. Mas, diante do avanço das sombras, vigiar é amar com responsabilidade. E, nos tempos sombrios que vivemos, a vigília vale mais do que a simpatia — porque é ela que impede o colapso silencioso do que ainda resta de humano.
1.1 A Biografia como Semente do Destino
Não é por acaso que certos homens surgem como vigias em tempos de trevas. A história revela, com frequência, figuras que parecem ter sido forjadas, passo a passo, para o papel que a vida lhes confiaria — como se o destino moldasse o caráter muito antes do chamado se tornar explícito.
Na República, Platão delineia a função dos guardiões — aqueles que, pela firmeza de alma, pelo preparo e pela fidelidade ao bem, são incumbidos de proteger a cidade. Não apenas com armas, mas com discernimento. São os que velam quando os outros dormem. Os que se sacrificam em nome de uma ordem que transcende o próprio interesse.
Esses guardiões, dizia Platão, só poderiam cumprir sua função se passassem por longa formação — filosófica, espiritual, física e moral. Precisavam unir coragem, temperança e amor à verdade. Não eram guerreiros pela força, mas pela justiça. Assim também são os vigias da História: moldados por uma educação interior que lhes exige mais do que talento — exige fidelidade a um telos invisível.
Fernando Henrique Cardoso, ao refletir sobre sua jornada em The Accidental President of Brazil, captou com rara lucidez o que poucos têm coragem de admitir: não somos apenas autores de nossa história — somos também personagens convocados por ela, à medida que nos mantemos fiéis às escolhas discretas que um dia fizemos, quase sem perceber sua gravidade.
Não é o acaso que nos posiciona onde estamos. É o acúmulo silencioso das decisões que tomamos quando ninguém via. É o hábito de não trair a consciência mesmo quando o mundo aplaude a conveniência. É o exercício de permanecer inteiro quando tudo ao redor clama por fragmentação.
Posso dizer isso não apenas como quem observa a história dos outros, mas como quem carrega na própria pele as marcas de suas escolhas. A vida me conduziu até este momento não por sorte ou privilégio, mas por uma fidelidade teimosa a certos valores, a certos vínculos, a certos princípios que recusei abandonar — mesmo quando o caminho mais fácil parecia sedutor.
E se hoje escrevo estas linhas, é porque compreendo que, por trás de cada palavra, existe uma biografia — e que esta, como dizia Sêneca, “não se mede pelos anos vividos, mas pelo sentido que soubemos dar ao tempo”.
Não é preciso ter sido presidente, estadista ou sentinela para reconhecer esse movimento interior. Basta parar e olhar para trás. Em cada vida há uma encruzilhada silenciosa que nos levou a ser quem somos. E talvez seja essa a pergunta que todo homem deveria se fazer ao despertar: que decisões ocultas moldaram o lugar em que hoje me encontro?
Como nos lembrava Marco Aurélio
Porque, no fim, como nos lembrava Marco Aurélio, “a qualidade da sua vida depende da qualidade dos seus pensamentos”. E os pensamentos mais profundos surgem, quase sempre, quando ousamos revisitar os passos que nos trouxeram até aqui — não com lamento, mas com gratidão e lucidez.
Essa ideia ecoa a filosofia de Heráclito, para quem “o caráter é o destino”. Não se trata de fatalismo, mas de reconhecimento: o modo como enfrentamos o mundo esculpe, pouco a pouco, a figura que a História chamará no momento certo.
Em termos orientais, diríamos que essa é a ação do Dharma — a lei interna que guia o ser rumo à realização de seu papel único no mundo. Lao-Tsé diria que “o caminho revela o homem que está pronto”, e não o que apenas deseja sê-lo.
Não há improviso na alma de um vigia. Cada dor suportada sem rancor, cada renúncia feita com consciência, cada estudo aprofundado com humildade — tudo isso compõe, silenciosamente, a arquitetura do espírito guardião.
Martin Buber, ao falar sobre o “homem do centro”, propôs que o ser humano encontra sua vocação verdadeira quando deixa de viver apenas para si e se volta para um chamado maior, que se dá no encontro entre o eu e o tu, entre a interioridade e o tempo histórico.
Assim, o destino não é um roteiro imposto de fora, mas uma harmonia entre o que somos e o que o mundo pede de nós. E quando essa harmonia se realiza, nasce o homem necessário — não o mais popular, mas o mais preparado.
A biografia de certos líderes, por isso, não é apenas um enredo pessoal. É uma metáfora civilizacional. Churchill, Begin, Netanyahu e tantos outros não surgiram por acaso, mas como resposta de suas épocas às ameaças que se anunciavam.
Como os guardiões platônicos, foram treinados para a vigília — mesmo que não soubessem, ao início, qual muralha lhes caberia proteger. E, no fim, a muralha é sempre mais que pedra: é a alma viva de uma civilização.
No fundo, como dizia Kierkegaard, “a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente”. E nesse intervalo entre o mistério do passado e a urgência do presente, o destino age — muitas vezes através de quem ousou estar desperto.
1.2 Churchill: Formação, Cultura e Caráter em Forja
Winston Churchill nasceu em 1874, em uma linhagem onde o sangue aristocrático se misturava ao vigor intelectual. Filho de Lord Randolph Churchill, político ousado e irreverente, e da americana Jennie Jerome, mulher de espírito cosmopolita e intensa inteligência social, herdou do pai o ímpeto combativo e da mãe o encanto verbal que cativa sem submeter.
A infância foi marcada por certa negligência afetiva, mas também por estímulos que moldaram uma personalidade obstinada. Educado em Harrow, onde seus talentos não floresceram conforme os padrões convencionais, e depois em Sandhurst, a renomada academia militar britânica, Churchill encontrou seu caminho na interseção entre a disciplina e a imaginação.
Desde jovem, unia a rigidez do quartel à leveza da pena. Serviu como oficial na Índia, no Sudão e na África do Sul, onde não apenas empunhou armas, mas também lapidou a escrita. Seus relatos de guerra tornaram-se livros e, mais tarde, referências históricas — mostrando que, para ele, a ação e a reflexão eram inseparáveis.
Aristóteles diria que a virtude nasce do hábito. E em Churchill, esse hábito se manifestava na coragem que não era meramente física, mas ética: a disposição de enfrentar a derrota sem se dissolver nela. Os fracassos políticos — como a desastrosa campanha de Galípoli — não o destruiram, mas o esculpiram.
Como ensinava Sêneca, “a adversidade revela o gênio, a prosperidade o esconde.” Churchill conheceu a amargura do ostracismo político antes de ascender à liderança. E foi nesse período de sombras que lapidou o pensamento estratégico e a visão de mundo que, mais tarde, salvariam a Europa.
Ele era, como bem notou Isaiah Berlin, um “romântico liberal” — alguém que acreditava no valor da civilização ocidental, mas que também conhecia a força trágica da história. Tinha o dom raro de unir paixão e prudência, grandeza de visão e senso do detalhe.
Sua formação não foi linear nem previsível, mas profundamente dialética. Cada dor pessoal foi metabolizada como força histórica. Cada humilhação parlamentar se converteu em espólio de sabedoria para o momento em que o mundo o chamaria de volta à linha de frente.
No espírito oriental, diríamos que Churchill encarnava o princípio do wu wei — a ação correta que emerge da não resistência ao fluxo do real. Ele não forçava os acontecimentos: esperava, mas preparado. E quando a hora soava, agia com intensidade e precisão.
Como Platão afirmava, só é digno de governar quem passou pela prova do sofrimento e da alma. Churchill não governou por conveniência, mas por dever. E não apenas pela Inglaterra, mas por algo maior: a dignidade humana em face do abismo.
Churchill era, para muitos de seus contemporâneos, uma figura excêntrica. Falava demais, lia demais, via longe demais. Mas essa “excentricidade” era, na verdade, um sinal precoce de sua profundidade — uma lucidez que, por não se submeter à moldura do presente, causava desconforto aos que viviam apenas do imediato.
Como ensinava Montaigne, “a sabedoria de um homem não se mede pelo número de ideias que repete, mas pela solidão que é capaz de suportar.” Churchill suportava bem o isolamento — não por orgulho, mas porque sua bússola não era o consenso, e sim o sentido.
Antes de ser primeiro-ministro, ocupou funções cruciais: esteve à frente do Almirantado, foi Ministro da Guerra, Ministro das Colônias e membro do Parlamento por décadas. Cada posto era, para ele, uma oportunidade de aprender o mecanismo do poder sem se contaminar com seus vícios.
Possuía uma combinação rara: visão estratégica com expressão retórica. Era capaz de ver o que muitos ainda não viam — e de dizer isso com palavras que feriam antes de curar. Sua oratória não era adorno: era instrumento de vigília, como a trombeta que desperta os que dormem durante o cerco.
Nietzsche, em um de seus aforismos, adverte que “o pensador verdadeiro fala como um soldado no campo de batalha: cada frase é uma linha de resistência.” Churchill compreendia isso intuitivamente. Suas palavras eram armas — não contra homens, mas contra a inconsciência que antecede o colapso.
Unia palavra e ação com uma organicidade rara. Era, nesse sentido, herdeiro do ideal grego de logos e ergon: a harmonia entre o discurso e a conduta. O que pensava, dizia. O que dizia, fazia. E o que fazia, fazia por algo maior que si mesmo.
Não era apenas um político. Era um pedagogo da civilização. Usava o púlpito do poder não para consolidar prestígio, mas para ensinar seu povo — e o mundo — que a liberdade exige sacrifício, que a coragem pode ser racional e que a História só perdoa os erros cometidos com dignidade.
Como escreveu Cícero, “a verdadeira glória não nasce dos aplausos fugazes, mas da fidelidade à causa justa mesmo quando ela ainda não é compreendida.” Churchill, mesmo quando incompreendido, permanecia fiel à sua causa. E é por isso que o tempo o absolveu — e o elevou.
1.3 Netanyahu: Raízes Históricas e Preparação para o Conflito
Benjamin Netanyahu nasceu em 1949, em Tel Aviv, quando o Estado de Israel ainda ensaiava seus primeiros passos como nação soberana. Era, portanto, filho não apenas de uma família, mas de um povo que acabara de renascer — e que sabia que a existência exigiria mais do que sobrevivência: exigiria vigilância.
Seu pai, Benzion Netanyahu, não era apenas um acadêmico. Era um historiador profundo, estudioso das perseguições aos judeus na Espanha medieval, com especial atenção às estruturas ideológicas que precedem os massacres. A convivência com essa memória, transmitida como herança ética, moldou Benjamin desde cedo.
A infância e juventude entre os Estados Unidos e Israel o expuseram a dois mundos distintos: o da sofisticação acadêmica e o da realidade militar permanente. O pensamento e a ação nunca estiveram separados em sua formação — eram, desde o início, duas faces do mesmo chamado.
Estudou arquitetura e administração no MIT, um dos centros de excelência mais exigentes do planeta. Ali desenvolveu o rigor técnico e a capacidade de raciocínio estratégico. Mas foi em Harvard, no ambiente político-intelectual, que consolidou sua compreensão do mundo como campo de tensões entre ideias, forças e valores.
Ao mesmo tempo, era combatente. Integrante da Sayeret Matkal — a elite das Forças de Defesa de Israel — participou de operações de alto risco, onde a vida e a morte se alternam no intervalo de um olhar. Sua biografia não foi escrita em bibliotecas apenas, mas também em túneis, desertos e trincheiras.
Como dizia Sun Tzu, “o guerreiro completo é aquele que vence sem precisar lutar, mas se lutar, vence porque já estava preparado.” Netanyahu sempre carregou essa lógica: agir com cálculo, mas saber que o cálculo não exclui o sacrifício.
A perda de seu irmão Yoni Netanyahu, morto em 1976 durante a operação de resgate dos reféns em Entebbe, não foi apenas uma dor íntima. Tornou-se, em sua consciência, um selo trágico que selava o dever de continuidade. Como quem recebe um legado que não pode ser recusado.
Viktor Frankl dizia que “a dor só se torna suportável quando encontra um sentido.” Netanyahu deu sentido à sua dor com um compromisso inegociável com a segurança de seu povo. A morte de Yoni se converteu numa convocação silenciosa e permanente à responsabilidade histórica.
Como no ensinamento de Lao-Tsé, ele compreendeu que “aquele que domina os outros é forte; mas aquele que domina a si mesmo é poderoso.” Sua vida passou a ser uma batalha entre a prudência e a urgência, entre a razão de Estado e a memória do sangue.
Netanyahu não foi formado apenas para o poder. Foi treinado para a resistência. E, como todo vigia autêntico, aprendeu cedo que os muros mais importantes a defender não são os de pedra, mas os da consciência.
Netanyahu ingressou na arena política com a mesma disposição estratégica com que atuara no campo militar. Começou como diplomata nas Nações Unidas, onde representou Israel com firmeza e inteligência em um ambiente global muitas vezes hostil à existência de seu país.
Em seguida, ocupou ministérios diversos: das Finanças à Diplomacia, da Saúde à Justiça. Em cada pasta, demonstrou um pragmatismo técnico aliado a uma visão de longo alcance. Não governava por modismos — mas por uma compreensão sistêmica do que era preciso sustentar para que o Estado não colapsasse.
Sua formação técnica, somada à vivência direta do risco, o tornaram um líder raro: alguém que compreende o poder tanto como símbolo quanto como instrumento. Sabia que a linguagem molda a percepção, mas também sabia que a realidade não se dobra ao discurso por muito tempo.
Como ensinava Aristóteles, a verdadeira política é a arte de tornar o bem possível dentro das limitações do mundo. Netanyahu nunca foi um idealista ingênuo — mas tampouco se entregou ao cinismo. Sua política era um exercício de equilíbrio entre a urgência da sobrevivência e a fidelidade a um projeto civilizacional.
Como Churchill, sua trajetória foi marcada por afastamentos e retornos. Foi combatido, subestimado, removido — e, sempre que a realidade apertava o cerco, era reconvocado. Porque há momentos em que a História dispensa agradáveis e convoca necessários.
Lao-Tsé ensinava que “o homem de valor é aquele cuja presença não se impõe, mas cuja ausência desestrutura”. Assim é o líder trágico: não surge para agradar, mas para sustentar. E quando se afasta, o mundo percebe que havia nele uma coluna oculta que mantinha tudo de pé.
Certas lideranças não se escolhem. São exigidas. Como dizia Hegel, “o grande homem é aquele cuja ação coincide com a necessidade do espírito de seu tempo.” Netanyahu, em seus retornos, não encarnava um desejo pessoal — mas uma resposta histórica.
Em tempos de hesitação, sua figura voltava a ocupar o centro não por aclamação, mas por ausência de alternativas. E talvez esse seja o mais alto elogio que se pode fazer a um vigia: ser convocado quando a realidade finalmente exige clareza, coragem e responsabilidade.
1.4 A Biografia do Vigia: Um Tema Universal
Essa percepção de que a vida nos molda para o que seremos não é apenas uma tese abstrata. Ela é íntima. E, por isso mesmo, inescapável.
Ao revisitar minha própria história, percebo que nada foi gratuito. Cada escolha feita com convicção. Cada valor sustentado mesmo em meio à dúvida. Cada perda suportada com dor e dignidade. Tudo isso foi erguendo, pedra a pedra, a estrutura invisível que hoje me sustenta como escritor e pensador.
Como ensinava Marco Aurélio, “o que impede o caminho se torna o caminho.” E foi nos obstáculos — não nas facilidades — que minha vocação tomou forma. Não como conquista vaidosa, mas como resposta a algo que me precede e me excede.
A missão não nasce de um plano estratégico, mas de uma fidelidade repetida em silêncio. Somos moldados não apenas pelo que escolhemos, mas também pela constância com que sustentamos essas escolhas — mesmo quando não sabemos se alguém nos observa.
Churchill e Netanyahu foram, de formas distintas, convocados pela história. Mas essa convocação não lhes chegou por sorte. Chegou porque estavam prontos. E estavam prontos porque haviam vivido como quem sabia que a hora chegaria.
Mas não são apenas os grandes nomes que são chamados. Todos nós, em maior ou menor escala, somos interpelados pela vida — não com trombetas, mas com sussurros. Com encruzilhadas discretas. Com perguntas que parecem pequenas, mas que decidem rumos inteiros.
Platão dizia que “a alma do homem é aquilo que ele cultiva.” E, ao longo dos anos, entendi que a alma só se torna solo fértil quando aceita passar pelas estações — inclusive o inverno. Há um tipo de sabedoria que só floresce depois da espera.
Por isso, convido o leitor — não como quem ensina de cima, mas como quem compartilha o caminho — a olhar também para trás. Que decisões te trouxeram até aqui? Que fidelidades silenciosas sustentaram tua travessia até este instante?
Porque, como advertia Simone Weil, “a atenção é a forma mais pura de generosidade.” E só quem presta atenção ao próprio percurso é capaz de reconhecer o momento em que a vida sussurra: agora é a tua hora.
A sentinela é, antes de tudo, aquele que aceitou o dever de permanecer em pé no lugar que lhe foi confiado — não por vaidade, mas por consciência. Sua posição não é escolhida por ambição, mas assumida como resposta a uma vocação silenciosa.
Ele não se ergue para ser visto, mas para ver. E, como ensinava Epicteto, “o dever do homem não é buscar o que deseja, mas desejar cumprir o que lhe foi confiado.” O vigia cumpre, mesmo sem aplausos, mesmo sem promessas de recompensa.
Para isso, cada elemento biográfico importa. Nada é irrelevante. O berço, por mais modesto ou grandioso que tenha sido, traz marcas que moldam o olhar. A dor, quando não é negada, se transforma em sabedoria. O estudo, quando não serve ao ego, prepara a mente para o serviço. E até a queda, quando aceita com humildade, revela o chão onde os pés precisam firmar-se.
Lao-Tsé dizia que “aquele que permanece imóvel no centro, mesmo quando tudo gira ao redor, esse é o verdadeiro mestre.” O vigia é esse mestre não proclamado — o homem que se torna ponto de referência quando o mundo perde o eixo.
Tudo forma o vigia. Inclusive — e talvez sobretudo — aquilo que o mundo despreza como irrelevante: o silêncio mantido, a dignidade preservada, a escolha certa feita quando ninguém estava olhando.
Porque, como ensina a tradição judaica, “Deus não escolhe os preparados, mas prepara os escolhidos.” E a preparação, nesse caso, é a própria vida — inteira, com todas as suas dobras, sombras e clarões.
1.5 A Diplomacia, a Espionagem e a Escolha Ética do Vigia
Durante minha juventude, quando ainda ponderava os caminhos possíveis da vocação pública, prestei o vestibular para o Instituto Rio Branco. Intuía, ali, que a diplomacia não era apenas um exercício de polidez entre Estados — mas um campo tenso, às vezes sombrio, onde se negociam os destinos do mundo sob a aparência do equilíbrio.
Em leituras e conversas, compreendi algo perturbador: o serviço diplomático é, muitas vezes, uma forma de espionagem consentida. Um teatro onde o gesto simbólico disfarça o movimento real. E onde nem sempre o que se diz é o que se busca.
Benjamin Netanyahu conhece bem esse jogo. Atuou como diplomata nas Nações Unidas, representando um país frequentemente vilanizado por existir. Sua diplomacia foi sempre tensa, lúcida, desconfiada. Sabia que, em muitas salas, Israel era tolerado — nunca verdadeiramente aceito.
E é nesse ponto que se impõe o contraste. Ao lado de Netanyahu, outro personagem emerge com força para o contraponto: Vladimir Putin. Ambos com formação militar. Ambos estrategistas frios. Ambos conhecedores da lógica do conflito. Mas entre eles se abre um abismo — ético, simbólico e histórico.
Putin conduz uma guerra para expandir fronteiras. Busca restaurar o velho império russo, do qual se enxerga o atual Czar. Age movido por um ideal de grandeza que mascara a brutalidade de seu projeto. Seu nacionalismo é nostálgico e, por vezes, cínico — um disfarce para a ânsia de poder.
Netanyahu, ao contrário, luta para preservar um território minúsculo, espremido entre inimigos que não o desejam menor — mas extinto. Sua política de segurança nasce de uma necessidade vital, não de um projeto imperial. E se já esteve em guerra, também esteve em mesa de paz. Assinou acordos. Recuou quando pôde. Estendeu a mão onde havia chance de coexistência.
Enquanto Putin instrumentaliza a memória imperial para justificar agressões, Netanyahu carrega a memória da Shoá como advertência permanente: quando o mundo não vigia, o mal cresce — e mata.
Churchill, que também jamais foi espião ou diplomata, preferia o embate direto à manipulação velada. Não negociava com abismos: enfrentava-os. E, como ele, Netanyahu optou por se manter em pé diante do caos — mesmo sem o prestígio de grandes potências.
Putin comanda uma das cinco nações do Conselho de Segurança da ONU, mas age como quem está acima do direito. Netanyahu lidera um país pequeno e contestado, mas respeita as formas institucionais, as eleições livres, o debate público. Um opera sob opacidade autoritária. O outro, sob o crivo brutal de uma democracia em estado de alerta.
Lao-Tsé diria que “o governante que fala pouco e faz muito é como a raiz que sustenta a árvore sem se exibir.” Netanyahu, a despeito das críticas, age menos por desejo de glória e mais por dever de vigília. Putin, por sua vez, deseja ser lembrado como império.
Netanyahu poderia ter sido um Putin. Tinha os meios, a formação, a inteligência. Mas escolheu outro caminho: a defesa de um povo que, antes de querer dominar, quer apenas existir.
E essa escolha, como diria Simone Weil, define tudo. Porque a diferença entre o império e a sentinela não está no arsenal — está na intenção. E a intenção, quando movida pelo amor à verdade e à vida, é o que separa o tirano do vigia.
2. O Cenário: Entre o Nazismo e o Fundamentalismo
Churchill assistiu ao crescimento de Hitler como quem vê, com angústia lúcida, uma sombra tomar forma antes que o sol desapareça. Não foi por dom profético, mas por leitura histórica e clareza moral.
Enquanto as potências europeias mergulhavam na lógica do apaziguamento — embaladas pela memória recente da Primeira Guerra e pelo medo de outro trauma —, Churchill compreendia o óbvio que todos preferiam negar: certos males não podem ser educados — apenas contidos.
Como ensinava Platão, “o preço a pagar pela não participação na política é ser governado por inferiores.” E no caso europeu dos anos 1930, foi ainda pior: o preço da omissão foi ser esmagado pelo mais vil dos projetos humanos.
Churchill sabia que Hitler não era um político com ambições nacionalistas, mas um engenheiro do ódio — movido por ressentimento, culto à morte e uma estética da dominação. Promessas e acordos, nesses casos, não são pontes: são armadilhas.
Ele disse isso. Escreveu isso. Repetiu isso. E por isso foi tratado como um ultrapassado. Ridicularizado como cético, taxado como provocador, acusado de querer uma guerra que, na verdade, já estava sendo preparada pelo inimigo.
Mas como dizia Sêneca, “a verdade é filha do tempo.” E o tempo, cruel e paciente, revelou o que Churchill já havia visto: a paz só é possível quando o mal é freado — e não quando é alimentado com concessões.
Netanyahu viu, ainda jovem, a Revolução Islâmica de 1979 tomar o Irã de assalto. Sob o manto da fé, erguia-se ali um projeto de poder absoluto — não apenas sobre um povo, mas sobre a própria gramática da liberdade.
O novo regime dos aiatolás não era apenas religioso. Era teológico-político, totalitário em essência, inspirado menos na compaixão espiritual do Islã do que na instrumentalização da fé como ferramenta de controle e submissão. O martírio se tornava tática. O sacrifício, estratégia. O inimigo, dogma.
Netanyahu compreendeu que não se tratava de um movimento local, mas de uma cosmovisão expansionista. O alvo não era apenas Israel: era tudo o que o Ocidente simboliza — pluralismo, autodeterminação, direitos individuais, liberdade religiosa.
Como bem analisou Hannah Arendt ao estudar os totalitarismos do século XX, os regimes mais perigosos são os que pretendem redimir o mundo pela pureza absoluta. E o Irã dos aiatolás nasceu com essa pretensão: purificar o mundo da impureza sionista, da corrupção ocidental, do pensamento livre.
Ao contrário de muitos, Netanyahu não se iludiu com as promessas diplomáticas, nem com os apertos de mão performáticos em Genebra. Sabia que, por trás das palavras, havia um relógio — e ele avançava na direção de uma ogiva.
Sua leitura não era paranoica, mas histórica. Como os judeus aprenderam ao longo dos séculos — da Inquisição à Shoá —, as ameaças que não são levadas a sério cedo demais, tornam-se inevitáveis tarde demais.
Em 2012, Netanyahu chegou ao limiar da decisão: neutralizar preventivamente o programa nuclear iraniano ou continuar apostando na diplomacia internacional. Sua análise era clara, mas a política, como tantas vezes, escolheu a esperança confortável em vez da responsabilidade lúcida.
O próprio governo americano — então sob a liderança de Barack Obama — pressionou Netanyahu a recuar, prometendo conter o Irã com acordos e mediações. Mas, em vez de conter, alimentou.
A tragédia maior não foi apenas a contenção da ação israelense. Foi o gesto subsequente: o envio de bilhões de dólares ao Irã sob o pretexto de um acordo mal costurado, incapaz de frear o avanço real do projeto nuclear. O Ocidente acreditou em promessas escritas em papel úmido, enquanto o regime iraniano afinava suas ogivas na surdina.
Visto de longe, o gesto parecia diplomacia madura. Mas de perto, era quase cínico: um gato fingindo negociar com o rato, enquanto o prepara para o abate. O problema é que, nesse cenário, o rato tem ogivas, mártires e aliados — e o campo de batalha pode ser o mundo inteiro.
O que deveria ser contenção tornou-se financiamento. O que parecia paz era apenas uma pausa estratégica no avanço do terror. Como advertia Maquiavel, “a ilusão de segurança é a mais perigosa das armadilhas.” E o Irã soube explorar com maestria a ingenuidade da política ocidental.
Netanyahu, impedido de agir, não se entregou à amargura. Compreendeu que o tempo seria seu juiz e que, quando a hora soasse, não poderia haver improviso. Investiu, então, na única forma de resistência possível: a prontidão silenciosa e contínua.
Hoje, o risco não é mais o de um ataque localizado. É o de uma escalada global — uma terceira guerra mundial que se desenha não por impulso, mas por negligência acumulada. A conivência com o avanço do mal não é passiva: é pactuada.
E o mundo, mais uma vez, descobre tarde demais que certos acordos não adiam o conflito — apenas adiam a possibilidade de vencê-lo.
3. A Assimetria Moral e o Colapso do Ocidente
Tanto Churchill quanto Netanyahu compreenderam algo que muitos se recusam a admitir — não por ignorância, mas por covardia disfarçada de virtude: certos inimigos não querem negociar; querem destruir.
Há conflitos em que o problema não é a ausência de diálogo, mas a impossibilidade ontológica de coexistência entre projetos que negam mutuamente o direito de existir. Churchill viu isso com Hitler. Netanyahu vê isso com o Irã e seus braços armados.
Churchill entendeu, antes de todos, que o nazismo não era apenas um regime autoritário — era um culto à morte organizado como Estado. Sua essência era incompatível com a liberdade porque nascia do ódio absoluto à dignidade humana, à alteridade e à verdade.
Netanyahu compreende que o projeto iraniano, aliado a grupos como Hamas e Hezbollah, segue lógica semelhante: não busca a construção de um Estado palestino ao lado de Israel — busca a destruição de Israel como símbolo, como nação e como povo. E, como no nazismo, a retórica genocida não é figura de linguagem — é programa de governo.
A assimetria, portanto, não é apenas militar ou territorial — é metafísica. De um lado, o esforço por sobreviver e coexistir. Do outro, a promessa mística da erradicação como justiça divina. Como ensinava Levinas, o mal absoluto é aquele que nega a possibilidade do outro.
O mais trágico, no entanto, não é apenas o avanço do mal — é a falência moral de uma parte significativa do Ocidente, que, capturado por narrativas ideológicas e pelo pânico do julgamento midiático, perdeu a capacidade de reconhecer essa assimetria fundamental.
Em nome de uma “neutralidade humanitária”, grande parte da opinião pública ocidental se curva a uma equivalência perversa, em que o terror suicida é tratado como resistência legítima, e a legítima defesa é rotulada como opressão.
Como diria Pascal, “quem quer fazer o anjo, faz a besta.” O desejo de parecer moral leva muitos a denunciar Israel com palavras fortes, enquanto sussurram — ou silenciam — diante dos massacres cometidos por seus inimigos.
Essa falência não é apenas intelectual. É espiritual. Quando a civilização não sabe mais reconhecer quem a defende e quem a quer destruir, já não está viva — apenas respira.
4. A Solidão do Sentinela: O Preço da Clareza
Churchill foi tratado como um incômodo anacrônico por seus pares. Era visto como uma relíquia do século XIX — um homem demasiado épico para tempos que desejavam apenas estabilidade burocrática.
Sua voz era uma sirene entre sussurros diplomáticos: não pela estridência, mas pela clareza. Enquanto outros falavam para suavizar, ele falava para despertar. E, como toda voz verdadeira, parecia fora de lugar até que o lugar inteiro ruísse.
Quando assumiu o poder em 1940, o tempo dos relatórios havia passado. A retórica diplomática se calara diante do avanço real dos tanques. Era o momento em que a filosofia cede lugar à espada — e a espada precisa da lucidez do filósofo.
Como diria Lao-Tsé, “governar um grande país é como fritar um pequeno peixe: não se pode remexer demais.” Mas há horas em que o fogo é tão intenso que o peixe já não se salva sem decisão firme. Churchill entendeu isso. E por isso agiu.
Netanyahu também é visto como um fardo pela elite global — não por suas falhas, mas por sua insistência. Sua obstinação moral ofende os que se acostumaram com a moral plástica do relativismo.
Para os que esperam líderes moldáveis à liturgia do consenso, ele é um problema. Mas para quem entende a gravidade do cenário, ele é o último a apagar a luz no posto de vigia.
Em um mundo que normalizou a dissimulação como diplomacia, Netanyahu permanece estranho — porque ainda acredita que o dever vem antes da reputação. Sua coragem estratégica nasce não da arrogância, mas da consciência de que o tempo da ingenuidade acabou — e o da sobrevivência começou.
Nietzsche alertava que “os que sabem não falam com suavidade.” E talvez seja isso o que mais incomoda: ele não fala como estadista ilustrado — fala como quem carrega o mapa da destruição nas mãos e tenta evitar que o mundo tropece no próprio desinteresse.
5. Os Regressos do Destino: O Tempo, a Previsão e a Hora da Verdade
Churchill voltou ao poder quando o mundo, enfim, se deu conta de que a fumaça era, de fato, fogo.
Antes disso, havia sido tratado como um excessivo, um pessimista, um estorvo para os que confundiam prudência com negação.
Mas a realidade não negocia com preferências. Quando as bombas começaram a cair sobre Londres, a política das aparências foi substituída pela política da verdade — e a verdade precisava de um nome, e esse nome era Churchill.
O mesmo Parlamento que o evitava, passou a chamá-lo. O mesmo povo que o estranhava, passou a segui-lo. Não porque se tornara mais popular, mas porque a realidade o tornara necessário.
Netanyahu, inúmeras vezes afastado e reeleito, vive a mesma lógica cíclica que acompanha os líderes trágicos: não são adorados — são requisitados quando o mundo não pode mais se iludir.
Cada retorno seu carrega o peso de um tempo mais grave. Se volta, não é porque mudou — mas porque o contexto se aproximou do diagnóstico que ele sempre sustentou.
O cerco se fecha. E ele é chamado novamente ao centro da tempestade.
Em sua fala recente — “sempre estive preparado para esse momento” — há mais do que orgulho. Há a confirmação de uma existência voltada para o dever.
Ecoa o mesmo espírito de Churchill, que declarava, com sobriedade, que sempre soube que sua vida teria um papel decisivo na salvação da Inglaterra. Essa não é a voz da vaidade — é a voz de quem viveu à altura de uma missão.
Ambos carregavam uma intuição trágica e solitária: a percepção silenciosa de que seriam convocados quando todos os discursos se esgotassem.
Não esperavam gratidão — esperavam apenas não falhar quando a História os chamasse.
Como afirmava Kierkegaard, “o cavaleiro da fé caminha sozinho, porque ninguém mais vê o que ele vê.” E ambos, Churchill e Netanyahu, viram antes — e por isso andaram sós.
Enquanto o mundo preferia slogans, eles liam os sinais. Enquanto se sonhava com paz sem sacrifício, eles pressentiam que haveria um dia em que a lucidez seria o último escudo contra o colapso.
E, quando esse dia chegasse — como chegou — estariam prontos. Não por clarividência, mas porque viveram com responsabilidade, com vigília e com a disposição de arcar com o preço de não ceder.
6.A Defesa da Civilização: Israel como Última Fronteira
Churchill defendeu a Europa — mas não apenas como território. Defendeu a ideia de Europa como consciência histórica em estado de vigília.
Sua luta não era só geopolítica. Era espiritual.
Era a defesa de um modo de ser: livre, plural, herdeiro do estoicismo, do cristianismo, do iluminismo e da coragem de aprender com os próprios erros.
Sabia que a liberdade não é um dom automático, mas uma construção permanente entre memória e responsabilidade.
Como dizia Edmund Burke, “um povo que não se orgulha do passado também não se responsabiliza pelo futuro.” Churchill assumiu esse elo.
Netanyahu defende Israel — mas também algo mais amplo e mais profundo.
Defende a sobrevivência de um povo, sim.
Mas defende também a possibilidade de que o Ocidente continue existindo como civilização com valores, fronteiras e dignidade.
Sua defesa é concreta e simbólica. Israel, em sua pequena extensão, é o ponto de interseção entre a história, a identidade e a sobrevivência moral do Ocidente.
Defender Israel, portanto, é mais do que um gesto de solidariedade a uma nação sitiada. É defender a permanência da civilização judaico-cristã — base ética e espiritual de todo o mundo livre.
É essa civilização que, desde o Sinai até as praças públicas de Atenas e Roma, estruturou o princípio da dignidade humana, da responsabilidade moral e da liberdade pessoal como valores inegociáveis.
É essa civilização que deu ao mundo o mandamento que atravessou as eras: “Ama ao teu próximo como a ti mesmo” — primeiro revelado no Levítico judaico (19:18), depois reafirmado por Cristo como síntese da Lei e dos Profetas.
As raízes do cristianismo estão no judaísmo. O próprio Jesus era judeu, e seu ensinamento não negava a tradição hebraica — mas a cumpria em plenitude, estendendo sua ética para além dos muros do templo.
Ao defender Israel, Netanyahu não luta apenas pela segurança de uma nação. Luta para preservar a possibilidade de que o Ocidente permaneça fiel a si mesmo.
Em contrapartida, embora o islamismo compartilhe da mesma raiz abrahâmica e de um inegável patrimônio espiritual, há correntes dentro de sua tradição que hoje operam não para se incluir nesse mundo de valores, mas para destruí-lo e substituí-lo por uma teocracia autoritária.
Nessas vertentes extremas, a espiritualidade é instrumentalizada para o controle total do indivíduo — e a liberdade, princípio sagrado para judeus e cristãos, é vista como ameaça.
É nesse ponto que essas teocracias — como o regime iraniano e seus braços radicais — recebem, ironicamente, o apoio entusiasmado de pensadores de esquerda e de progressistas, dos mais moderados aos mais radicais.
Não é contradição: é coerência. Toda ideologia que busca controlar o indivíduo e negar-lhe a liberdade de consciência, de fé e de escolha, reconhece no totalitarismo teocrático um aliado tático.
É por isso que os modelos atuais da China comunista, do Islã radical e do globalismo financeiro não apenas coexistem — mas competem entre si pela hegemonia sobre um mundo cada vez mais anestesiado.
Todos compartilham uma estrutura comum: o controle da subjetividade. A supressão da consciência. A domesticação da vontade.
E entre essas muralhas de poder e servidão, estamos nós — os que ainda creem na liberdade como dom e dever, os que ainda preferem o pensamento à propaganda, a responsabilidade à tutela.
Nossa única arma é a consciência. E nosso único escudo, a escolha livre.
Defender Israel, nesse contexto, é também defender o direito de pensar, de discordar, de buscar a verdade.
É lembrar que, como advertia Viktor Frankl, “a última das liberdades humanas é a de escolher nossa atitude em qualquer circunstância.”
E enquanto essa liberdade for possível, o Ocidente ainda estará vivo — mesmo sitiado, mesmo ferido, mas vivo.
E por isso, a defesa de Netanyahu ultrapassa fronteiras: ela ecoa na alma de todos os que ainda resistem à noite longa do espírito.
6.1 A Doutrina Begin e o Princípio da Sobrevivência
A sobrevivência, para Israel, nunca foi uma abstração — sempre foi cálculo vital. Desde Menachem Begin, primeiro líder da direita israelense a assumir o cargo de primeiro-ministro, estabeleceu-se um princípio claro: nenhum regime hostil pode ser autorizado a desenvolver armamento nuclear. Essa é a Doutrina Begin.
Em 1981, diante da construção de um reator nuclear em Osirak, no Iraque de Saddam Hussein, Begin não hesitou. Disse: “Vejo diante dos meus olhos meus dois sobrinhos assassinados no Holocausto. Lá foi gás. Aqui será veneno radioativo.” Ordenou o ataque e destruiu o reator. O mundo — incluindo os Estados Unidos — condenou Israel, impôs sanções e votou contra no Conselho de Segurança. Mas, anos depois, o próprio vice-secretário de Defesa americano, Dick Cheney, reconheceu: “Vocês salvaram o Oriente Médio de uma guerra nuclear.”
A Doutrina voltou a ser aplicada em 2007, quando Israel — sob comando de Olmert — destruiu um reator secreto na Síria. E agora, enfrenta seu teste mais complexo: o Irã não possui um único reator, mas dezenas de instalações espalhadas pelo território, blindadas contra ataques simples. O regime aprendeu com os erros de Saddam e Assad. Espalhou, escondeu e multiplicou.
Netanyahu foi a voz que, por mais de uma década, alertou o mundo. Enfrentou o boicote da administração Obama, o desprezo diplomático da Europa, e mesmo assim levou sua causa ao Congresso americano em 2015, denunciando o acordo nuclear como uma farsa. Foi chamado de alarmista. Mas não recuou.
Em silêncio, preparou Israel para o inevitável. E quando o 7 de outubro expôs a natureza genocida dos inimigos de Israel, a vigília tornou-se ação. A doutrina de Begin foi novamente invocada — não como belicismo, mas como defesa ética da própria existência.
Israel, mais uma vez, age não por revanche, mas por antecipação. Age porque sabe que o tempo do apaziguamento não leva à paz, mas ao envenenamento da História. Como afirmava Begin: “Se o reator tivesse permanecido, nós não estaríamos vivos.”
Aos que ainda vacilam diante das condenações públicas e dos discursos diplomáticos previsíveis, é preciso lembrar: Israel é o desativador de bombas do mundo. Muitos o condenam em público. Mas muitos mais — em silêncio — lhe devem a vida.
7. Conclusão — Permanecer em Pé Enquanto Todos se Ajoelham
Não é preciso endeusar Netanyahu para reconhecer a importância histórica de seu papel.
Da mesma forma, não é necessário canonizar Churchill para compreender que sua firmeza foi a muralha que impediu o Ocidente de ser tragado pelo abismo moral do nazismo.
Ambos são homens falíveis — e por isso mesmo humanos. Mas é exatamente aí que reside sua grandeza: não são ícones de perfeição, mas expressões vivas da responsabilidade diante do colapso.
Num tempo dominado por cálculos de imagem, estratégias de marketing e volatilidade moral, eles são anomalias — e por isso essenciais.
A consistência lhes custa popularidade. A coragem lhes custa alianças. A consciência histórica lhes custa espaço nos salões onde se aplaude o vácuo elegante. Mas o que sustentam não é prestígio — é chão.
Como dizia Viktor Frankl, “o que o homem precisa não é de um estado sem tensão, mas de uma meta digna de seu esforço.”
Churchill e Netanyahu viveram — e vivem — sob tensão. Porque sabem o que está em jogo.
Em um tempo em que tantos se dobram diante das pressões de redes, partidos, conselhos e fóruns, são os que permanecem em pé que ainda sustentam o teto da civilização.
Dobrar-se hoje é fácil — e até elegante. Permite convites, curtidas, prêmios e posições.
Mas sustentar-se em pé exige uma coluna vertebral feita de memória, propósito e coragem — e isso não se improvisa.
Como advertia Lao-Tsé, “aquele que se curva demais perde o centro.” E o centro da civilização está ameaçado não pelos que gritam de fora, mas pelos que silenciam de dentro.
Eles são — goste-se ou não — os vigias do tempo em que vivemos. Vigias não pedem aplauso. Nem esperam simpatia. Apenas assumem a vigília como forma de amor e de dever.
Eles dizem o que não agrada. Fazem o que muitos temem. Carregam o ônus de ver mais longe — e a dor de não serem compreendidos no agora.
Como no livro de Ezequiel, o vigia da cidade não é culpado se dá o alarme e ninguém ouve. A sua missão é avisar — mesmo que o povo durma.
Se o Ocidente ainda quiser sobreviver como civilização — e não apenas como uma lembrança estética em museus e palestras de autoajuda histórica —, terá de redescobrir o valor de seus vigias.
Os que dizem o que ninguém quer ouvir.
Os que agem quando todos fogem da responsabilidade.
Os que sustentam a verdade mesmo quando todos já a trocaram por narrativas mais vendáveis.
Nietzsche advertia que “a civilização morre não quando perde a força, mas quando perde o sentido.”
Churchill e Netanyahu, cada um à sua maneira, são guardiões desse sentido — e por isso, mesmo sem perfeição, tornam-se inadiáveis.
8. Epílogo — O Silêncio das Potências, o Negócio da Guerra e o Dever de Agir
Não basta dizer que o Irã ameaça Israel — é preciso ir além da superfície e compreender a natureza do regime que alimenta essa ameaça.
O Irã e seus braços terroristas não apenas travam guerras — eles vivem da guerra.
Hamas, Hezbollah, Houthis e demais satélites da teocracia xiita não são apenas combatentes — são empresários do caos.
Para eles, a paz não é um objetivo ético — é uma ameaça existencial ao modelo de poder que construíram.
Essas organizações não têm qualquer interesse sincero em um Estado palestino viável.
O que desejam é a perpetuação do conflito — pois é nele que prosperam: extraem armas, prestígio, influência e financiamento.
O narcotráfico internacional — da América Latina ao Mediterrâneo Oriental — alimenta sua máquina de guerra com sangue e dinheiro.
Os túneis de Gaza escondem mísseis, sim, mas também revelam um subsolo moral corrompido pela dependência da destruição.
Como advertia Confúcio, “quando o homem perde o centro, ele faz da desordem sua morada.” E essas organizações construíram impérios sobre as ruínas dos outros.
Foi justamente quando Israel se aproximava de um acordo histórico de paz com a Arábia Saudita — que poderia redesenhar o Oriente Médio e isolar o Irã — que os inimigos da civilização agiram.
O ataque recente não foi apenas contra Israel — foi contra a possibilidade mesma de paz.
Eles não atacaram porque estavam encurralados, mas porque estavam ameaçados — ameaçados pela normalidade, pela reconciliação, pela estabilidade. Porque, para quem vive da guerra, o cessar-fogo é o fim do negócio.
Diante disso, Netanyahu não podia mais esperar.Durante décadas, alertou o mundo com discursos, dados e previsões. Em 2012, tentou agir — foi contido. Esperou, estudou, preparou-se em silêncio.
Enquanto os diplomatas assinavam protocolos, ele preparava-se para o inevitável.
Sabia que o tempo da retórica iria expirar. E que, quando isso ocorresse, não poderia haver hesitação.
Agora, finalmente, recebeu autorização moral, estratégica e histórica para agir.
Não se trata de retaliação.
Não se trata de bravata.
Trata-se de sobrevivência.
O tempo se esgotou. E a ameaça já não é apenas militar — é civilizacional. Como dizia Camus, “chega um momento em que o silêncio é cumplicidade.” E esse momento chegou.
As potências do Conselho de Segurança da ONU — Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido — sabem disso. Nenhuma deseja ver uma bomba nuclear nas mãos de Teerã.
Mas nenhuma está disposta a pagar o preço político, diplomático ou militar para impedi-la.
Como nas eleições da Venezuela, fingirão indignação, redigirão notas diplomáticas, assinarão declarações — e não farão nada.
Não por ignorância, mas por cálculo.
E, no caso de China e Rússia, por conveniência geopolítica — e lucro.
É exatamente esse vácuo de responsabilidade que Netanyahu preenche.
O lugar onde reina o medo precisa ser habitado por alguém que não tema o peso da ação.
E, em tempos em que regimes que exaltam o suicídio como virtude ameaçam o mundo com ogivas nucleares, o risco não é apenas concreto — é total.
Por isso, entre as sirenes de alerta e os aplausos diplomáticos tardios, ainda há quem compreenda que certas guerras não são escolha — são dever.
Não porque se deseje a guerra, mas porque ela se torna o único escudo possível diante da destruição que se aproxima.
E, mesmo quando tudo parece ruir, ainda há líderes que não se ajoelham — não por vaidade, mas por fidelidade à missão que carregam diante da História.
Netanyahu talvez não seja compreendido agora — como Churchill também não foi. Mas, se a civilização sobreviver a mais esse abismo, será porque, em algum lugar, alguém teve a coragem de agir quando o mundo inteiro escolheu calar.
Porque há momentos em que a lucidez é o único ato de amor possível. E, quando todos os rostos se escondem, é a face firme do vigia que sustenta a aurora que virá.
E não é de hoje que Israel ensina, com ações e não apenas com palavras, que sobreviver é um ato de lucidez estratégica. Desde Menachem Begin, a chamada Doutrina Begin foi clara: regimes que ameaçam a existência de Israel com armas de destruição em massa não terão o privilégio da dúvida — nem o tempo necessário para completar seu projeto de morte.
Quando Begin destruiu o reator de Saddam Hussein, foi condenado pelas nações que hoje reconhecem o quanto devem àquela decisão solitária. Quando Israel neutralizou, em silêncio, o reator secreto da Síria, mais uma vez evitou que a história se tornasse tragédia global. E agora, com Netanyahu, o princípio volta com urgência: não permitir que a escuridão se arme com a tecnologia da aniquilação.
É esse o fio que une Churchill, Begin e Netanyahu: a disposição de pagar o preço pela responsabilidade de ver antes — e agir quando os outros ainda hesitam.
No final, o que sustenta a civilização não é o número de cúpulas que se reúnem, nem a eloquência das declarações conjuntas, mas a firmeza silenciosa daqueles que desarmam a destruição antes que ela se torne irreversível.
Israel não é apenas o vigia da sua própria sobrevivência.
É, cada vez mais, o último sentinela de um Ocidente que já esqueceu como se faz vigília — mas que, se ainda quiser durar, terá de aprender a agradecer não os que prometem paz com palavras, mas os que a garantem com lucidez, coragem e memória.
Pós-Escrito — Agosto de 2025:
A Segunda Vigília e o Dever de Não Ajoelhar
Este ensaio foi redigido em junho de 2025, quando a escalada entre Israel e o regime iraniano ainda não havia atingido seu desfecho.
Era um texto de vigília, não de veredicto. E como toda vigília verdadeira, ele permanece válido porque não depende do resultado para justificar sua lucidez.
Agora, em agosto, Netanyahu enfrenta uma nova decisão dramática: a possível ocupação total da Faixa de Gaza, com críticas ferozes vindas das potências globalistas e dos que transformaram a diplomacia em culto ao colapso lento.
Enquanto os terroristas cavaram túneis sob escolas, o Ocidente cavava túneis sob a própria civilização — substituindo valores por narrativas, responsabilidade por ressentimento, fronteiras por slogans.
Como já advertia Viktor Frankl, "liberdade não é liberdade de algo, mas para algo — e esse algo é a responsabilidade."
Netanyahu, como Churchill antes dele, sabe que a liberdade não sobrevive sem o peso de decisões impopulares.
Tal como Trump nos EUA — também alvo de perseguições orquestradas por estruturas judiciais e midiáticas corrompidas — Netanyahu encarna hoje o arquétipo do líder trágico que diz o que o mundo se recusa a escutar.
Ambos são atacados por romperem com a lógica integracionista de uma esquerda que dissolve a identidade dos povos em nome de uma paz estética e abstrata.
Como já intuía Martin Buber, a verdadeira relação com o outro só se estabelece quando o “Eu” está fundado em si mesmo. Sem enraizamento, não há diálogo — há dissolução.
O Ocidente atual, em sua vertigem autofágica, transformou os vigias em vilões e os vilões em vítimas.
Como dizia Cícero, “a república se corrompe quando os homens de bem se calam e os audaciosos dominam.”
Criticar a firmeza de Netanyahu agora é como teria sido criticar Churchill por resistir ao nazismo em 1940 — é uma inversão moral produzida por gerações que perderam o senso do perigo porque terceirizaram o sentido da História.
Enquanto muitos tentam “entender” o terror, ele tenta contê-lo.
Enquanto outros aguardam consensos estéreis, ele assume o peso de agir.
Como ensinava Montaigne, “o verdadeiro homem não é o que nunca cai, mas o que sempre se levanta.”
Este não é um tributo a um homem.
É o testemunho de que, quando todos se ajoelham, permanecer de pé é um ato filosófico e civilizacional.
Confúcio dizia que governar era dar o exemplo. E hoje, o exemplo é resistir à mentira revestida de empatia.
É chamar as coisas pelo nome.
É reconhecer que, entre os que atacam Israel e os que o abandonam, o silêncio é a mais perversa das alianças.
Este ensaio continua sendo o que foi desde o início:
Um chamado à lucidez antes da consagração.
Um tributo à coragem de vigiar antes da tempestade.
E agora, uma prova de que há quem escolha não trair a vigília, mesmo quando o preço é ser mal compreendido no presente.
Porque como dizia Viktor Frankl, “quem tem um porquê, enfrenta qualquer como.”
E quem vigia pela civilização, não aguarda a aclamação. Apenas permanece em pé.
9. Pós-Escrito — Agosto de 2025:
A Segunda Vigília e o Dever de Não Ajoelhar
Este ensaio foi redigido em junho de 2025, quando a escalada entre Israel e o regime iraniano ainda não havia atingido seu desfecho.
Era um texto de vigília, não de veredicto. E como toda vigília verdadeira, ele permanece válido porque não depende do resultado para justificar sua lucidez.
Agora, em agosto, Netanyahu enfrenta uma nova decisão dramática: a possível ocupação total da Faixa de Gaza, com críticas ferozes vindas das potências globalistas e dos que transformaram a diplomacia em culto ao colapso lento.
Enquanto os terroristas cavaram túneis sob escolas, o Ocidente cavava túneis sob a própria civilização — substituindo valores por narrativas, responsabilidade por ressentimento, fronteiras por slogans.
Como já advertia Viktor Frankl, "liberdade não é liberdade de algo, mas para algo — e esse algo é a responsabilidade."
Netanyahu, como Churchill antes dele, sabe que a liberdade não sobrevive sem o peso de decisões impopulares.
Tal como Trump nos EUA — também alvo de perseguições orquestradas por estruturas judiciais e midiáticas corrompidas — Netanyahu encarna hoje o arquétipo do líder trágico que diz o que o mundo se recusa a escutar.
Ambos são atacados por romperem com a lógica integracionista de uma esquerda que dissolve a identidade dos povos em nome de uma paz estética e abstrata.
Como já intuía Martin Buber, a verdadeira relação com o outro só se estabelece quando o “Eu” está fundado em si mesmo. Sem enraizamento, não há diálogo — há dissolução.
O Ocidente atual, em sua vertigem autofágica, transformou os vigias em vilões e os vilões em vítimas.
Como dizia Cícero, “a república se corrompe quando os homens de bem se calam e os audaciosos dominam.”
Criticar a firmeza de Netanyahu agora é como teria sido criticar Churchill por resistir ao nazismo em 1940 — é uma inversão moral produzida por gerações que perderam o senso do perigo porque terceirizaram o sentido da História.
Enquanto muitos tentam “entender” o terror, ele tenta contê-lo.]
Enquanto outros aguardam consensos estéreis, ele assume o peso de agir.
Como ensinava Montaigne, “o verdadeiro homem não é o que nunca cai, mas o que sempre se levanta.”
Este não é um tributo a um homem.
É o testemunho de que, quando todos se ajoelham, permanecer de pé é um ato filosófico e civilizacional.
Confúcio dizia que governar era dar o exemplo. E hoje, o exemplo é resistir à mentira revestida de empatia.
É chamar as coisas pelo nome.
É reconhecer que, entre os que atacam Israel e os que o abandonam, o silêncio é a mais perversa das alianças.
Ensaio
Este ensaio continua sendo o que foi desde o início:
Um chamado à lucidez antes da consagração.
Um tributo à coragem de vigiar antes da tempestade.
E agora, uma prova de que há quem escolha não trair a vigília, mesmo quando o preço é ser mal compreendido no presente.
Porque como dizia Viktor Frankl, “quem tem um porquê, enfrenta qualquer como.”
E quem vigia pela civilização, não aguarda a aclamação. Apenas permanece em pé.
(*) O autor é advogado, Procurador do Estado aposentado, ex-Procurador-Geral do Estado do Amazonas e membro da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas.
NR - Os textos assinados refletem a opinião dos seus autores. O Poder acolhe a livre manifestação de ideias e estimula o contraditório.
