
Novos tempos, novos temores - O Medo da Mídia Está no Ar
08/08/2025 -
Por Zé da Flauta*
Sempre achei curioso como a televisão, essa senhora vaidosa de cabelos tingidos e botox no cabo coaxial, muda de discurso conforme muda o vento. Um dia ela defende o verde da floresta, no outro a cor do dólar. Agora, dizem por aí que a Globo, sim, aquela mesma, toda imponente de microfone dourado, anda revirando as gavetas atrás de um novo figurino, menos Che, mais Church. Os Marinho, outrora senhores da pauta progressista, parecem ter percebido que o trem da história pode estar vindo na contramão, e que nele talvez venha uma tal de Lei Magnitsky com a lista de passageiros na mão.
Bumerangue
É engraçado assistir, do sofá, à dança dos apresentadores. Alguns saem de fininho, com um sorriso sem data de validade, outros são puxados pela gravata para fora do estúdio, como quem perdeu a hora do ponto eletrônico. A televisão que tanto ditou moda, agora tenta adivinhar qual será o próximo bordado no tecido do poder. O medo da sanção internacional virou pauta de reunião. E de repente, os donos do microfone lembraram que o mundo mudou, e que a censura, antes conveniente, pode ter virado bumerangue.
Velha dramaturgia
Filosofando um pouco, dá até pra sentir pena dessa mídia velha que sempre achou que o povo era só um número de audiência. Não entendeu que a comunicação mudou de endereço, saiu do estúdio, atravessou a rua e montou acampamento nos porões do YouTube, nas lives suadas da madrugada, nos podcasts cheios de cafeína e desabafo. Quem manda agora é o algoritmo, não o editor-chefe. O povo cansou de monólogo com fundo azul e quer debate com suor, grito e contraditório. E quando o povo começa a pensar com os próprios ouvidos, é sinal de que as cortinas da velha dramaturgia política estão mesmo fechando.
Convicção ou conveniência?
Resta saber se essas emissoras vão mudar por convicção ou conveniência. Porque quando o medo bate, até urubu aprende a cantar com voz de canário. Mas a plateia já não se ilude fácil. Viu demais, chorou demais, foi enganada demais. Talvez, dessa vez, o Brasil esteja escrevendo um novo roteiro, com mais liberdade, menos roteiro ensaiado, mais verdade no ar. E se a televisão quiser mesmo acompanhar esse novo capítulo, que comece apagando o teleprompter e ouvindo, finalmente, o que vem da rua. Porque é lá que está a audiência que não se compra com ibope, mas se conquista com coragem.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.

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