
Ensaio - O tarifaço como espelho da crise brasileira
08/08/2025 -
“A liberdade de expressão não se mede pela concordância, mas pela coragem de dar voz à divergência.”
— Adaptação inspirada em George Orwell
Por Jorge Henrique de Freitas Pinho*
1. Introdução: entre o amigo e o diagnóstico
Li com atenção e respeito o artigo de José Nivaldo Júnior, publicado em O Poder, sob o título “A estratégia Trump e a contagem regressiva para o tarifaço”. Trata-se, como de costume, de uma análise lúcida, elegante e bem articulada — mesmo quando parte de premissas com as quais não compartilho integralmente.
É justo reconhecer: poucas figuras, hoje, demonstram com tanta clareza que a liberdade de expressão se prova na abertura ao dissenso. O espaço que Nivaldo oferece a vozes divergentes é mais do que uma escolha editorial — é uma postura civilizatória que merece ser registrada e valorizada.
Este artigo, portanto, não é uma refutação, mas um complemento crítico — fruto da mesma convicção que ambos compartilhamos: a de que pensar diferente não é um obstáculo ao diálogo, mas sua razão de ser.
2. O tarifaço como sinal ético, não apenas econômico
A análise de Nivaldo enfatiza com propriedade o caráter estratégico da política de Trump, centrada na pressão econômica como tática de negociação. Contudo, talvez o fenômeno em questão vá além da racionalidade comercial.
Trump não atua apenas como negociador. Ele também opera como um observador pragmático das relações internacionais, e identifica, nos sinais de degradação institucional de seus parceiros, riscos éticos e estratégicos. Não é mero acaso que as tarifas tenham recaído com mais força sobre o Brasil num momento em que:
• líderes da oposição estão sob cerco judicial;
• parlamentares e cidadãos são censurados em massa;
• big techs operam como instrumentos de silenciamento político;
• o Judiciário concentra, sem freios, as funções dos três Poderes.
O tarifaço, portanto, não é apenas sanção econômica — gostanso ou não é juízo moral disfarçado de pragmatismo.
3. O erro de negociar sem consertar
Governo e empresários brasileiros passaram o último mês tentando reduzir danos. Buscaram soluções técnicas, dossiês diplomáticos, recuos calculados. Mas erraram o ponto de partida: presumiram que o problema era econômico, quando ele era, desde o início, político.
Nenhuma confiança comercial se sustenta onde há desconfiança institucional.
Prender líderes sem julgamento, manipular algoritmos para calar opositores, legislar por decreto judicial — tudo isso tem um custo. E está sendo cobrado.
Além disso, soma-se um erro geoestratégico: o Brasil afastou-se dos Estados Unidos e aproximou-se demais da China e da Rússia, sem lastro de segurança jurídica ou credibilidade interna.
Chamo isso de “paradoxo do pragmatismo político”: em certos contextos, quem tenta se afastar apanha — justamente para ser forçado a voltar.
4. Liberdade não é abstrata
Liberdade não é um conceito retórico. Ela se manifesta — ou desaparece — nas escolhas cotidianas:
• no medo de falar;
• na omissão dos empresários;
• na passividade das instituições;
• na seletividade das leis;
• na uniformização do pensamento público.
Não se trata apenas de tarifas. Trata-se de uma erosão simbólica. Não é sobre nacionalismo versus globalismo, nem Trump versus Lula. É sobre a verdade versus a conveniência, a coragem versus o conforto.
5. Conclusão: pensar juntos, mesmo pensando diferente
Se chego a conclusões distintas das de Nivaldo, faço-o sob o mesmo espírito com que ele escreve: na esperança de que ainda possamos ocupar com lucidez o espaço do debate público.
O tarifaço americano é, sim, um movimento estratégico — mas ele também espelha o que o mundo vê quando olha para nós: um país em rota de autodegradação institucional.
Se ainda podemos dizer isso sem sermos silenciados, é porque existem — felizmente — editores como José Nivaldo Junior, que publicam não o que lhes convém, mas o que acham necessário. Que o Brasil político aprenda com esse exemplo editorial: não há democracia sem risco, nem liberdade sem coragem.
6. Epílogo: quando as ruas falam mais que os discursos
As manifestações do último domingo foram mais do que protestos — foram um sussurro da História prestes a se tornar grito. Um país que parecia resignado reencontrou sua voz. Uma nação que andava curvada começou a se reerguer.
Mas esse renascimento cívico não brotou do nada. Ele só foi possível porque a nação mais poderosa do mundo — ao sancionar o “Robespierre brasileiro” — quebrou o feitiço do medo e devolveu à população a coragem de voltar às ruas.
Ao declarar que a tirania brasileira não passaria mais despercebida, os Estados Unidos acenderam uma chama de lucidez que reacendeu consciências adormecidas.
Se esse sussurro se transformar em clamor no sete de setembro, e for capaz de superar em número, em densidade simbólica e em maturidade cívica o que já se viu até aqui, não será apenas mais uma data comemorativa.
Será um marco divisor, onde o povo deixará de ser espectador e voltará a ser autor do seu destino. E como toda encruzilhada histórica, ela exigirá escolhas claras: entre o medo e a esperança, entre o silêncio e a verdade, entre o controle e a liberdade.
Quando as multidões saem às ruas não para pedir o caos, mas para restaurar a ordem legítima, não é ruptura — é renascimento.
E, se assim for, talvez um dia, olhando para trás, diremos: foi naquela semana — entre um povo que marchava, uma tarifa que despertava e uma verdade que se libertava — que o Brasil começou a voltar a ser Brasil.
Porque não foi apenas um artigo. Foi a coragem de veículos como O Poder, D24AM, Revista Oeste, Gazeta do Povo, Brasil Paralelo, Jornal da Cidade Online, entre tantos outros portais que ainda oferecem acolhida ao pensamento livre.
Foi a persistência dos canais independentes de YouTube, como Foco do Brasil, Canal Hipócritas, Vista Pátria, Te Atualizei, Alê Silva Oficial, Bárbara Destefani, Fernando Lisboa, Alan Frutuoso, Ricardo Roveran, Cristiane Lopes, Oi Luiz, Bradock, Primetime, Paulo Figueiredo, entre tantos outros — que, mesmo sob censura, desmonetização e perseguições judiciais, seguem sustentando a narrativa de quem não aceitou ser dobrado.
Foi também a luta de deputados, senadores e líderes políticos que enfrentam a perseguição com altivez. Alguns foram calados pela força — como Roberto Jefferson e Daniel Silveira, que ainda hoje pagam o preço de não terem se curvado. Outros seguem de pé, com firmeza e fé no Brasil:
Carlos Jordy, Nikolas Ferreira, Gustavo Gayer, Marcos Pollon, Zé Trovão, Cabo Gilberto, Clarissa Tércio, Coronel Meira, Gilvan da Federal, Major Vitor Hugo, Delegado Ramagem, Tenente-Coronel Zucco, Filipe Barros, Rodrigo Valadares, General Girão, Júlia Zanatta, Bia Kicis, Carla Zambelli, entre tantos outros que seguem resistindo dentro do sistema, sem se render ao sistema.
No Senado, Eduardo Girão, Magno Malta, Hamilton Mourão, Carlos Viana e o amazonense Plínio Valério têm levantado sua voz em nome da legalidade e da liberdade.
É impossível também ignorar a presença firme e simbólica da família Bolsonaro — mesmo sob ataques coordenados, investigações seletivas, bloqueios judiciais e exílio político. Jair Bolsonaro, Michelle, Flávio, Eduardo e Carlos, com seu defeitos e qualidades, seguem inspirando milhões de brasileiros por seu testemunho de fé, resiliência e amor à pátria.
E ao lado da resistência política, está a resistência espiritual: lideranças como Silas Malafaia, pastores de todo o Brasil, e padres da Igreja Católica que se negam a curvar-se à teologia da libertação — mantendo-se fiéis ao Evangelho, à dignidade da fé e à família tradicional como base da civilização.
Muitos não ocupam manchetes, mas sustentam altares, púlpitos e consciências — e são, hoje, um dos pilares mais sólidos da liberdade no Brasil.
Se a História voltar a se mover em nossa direção, será porque ainda houve quem pensasse, quem dissesse… e quem ouvisse.
*Jorge Pinho é advogado e pensador. Ex-procurador geral do Estado do Amazonas.
NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores. O Poder estimula o livre confronto de ideias e o contraditório.