Numa semana particularmente nervosa para a grande mídia, marcada pelas saídas da Globo News das jornalistas Eliane Cantanhede e Daniela Pinheiro, o jornal Estado de São Paulo anunciou a demissão do fotógrafo Alex Silva.

Idas e vindas entre equipes de redações é mais comum acontecer do que em outras profissões, mas causou estranheza o fato de o demitido ter sido Silva. Justamente o fotógrafo que conseguiu registrar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apontando o dedo indicador para uma turma que o estava vaiando.

Violação da Loman

O gesto foi considerado "obsceno" e uma "descompostura" por parte de um magistrado da Suprema Corte para muita gente, incluindo juristas e ex-ministros. Alguns chegaram a afirmar que chegou a violar normativas da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman).

O grupo Estado informou, por meio de nota, que o desligamento do profissional já estava planejado e não tem vínculo com a foto registrada. Coincidência ou não, tratou-se do único profissional que conseguiu expor o momento irritado de Moraes.

"O encerramento do vínculo profissional com o fotógrafo já estava planejado com antecedência e faz parte de uma redução de quadros da editoria de fotografia, seguindo critérios exclusivamente administrativos", explicou o documento divulgado.

A empresa acrescentou, ainda, que “não há lógica em associar tal decisão à foto do ministro Alexandre de Moraes feita pelo profissional, porque a imagem foi considerada de relevante valor jornalístico e publicada como principal destaque no mesmo dia em que foi tirada”.

Versão diferente

Para Alex Silva, conhecido pelo seu bom currículo profissional, a versão é outra. A foto foi feita na noite em que Moraes teve formalizada pelo governo norte-americano a sanção imposta a ele pela Lei Magnitsky.

O ministro estava na Neo Química Arena, em São Paulo, para assistir ao Derby entre Corinthians --time que ele torce-- e Palmeiras pelas oitavas de final da Copa do Brasil.

Silva afirmou que o jornal “deu pouco destaque à imagem” e não apresentou justificativa concreta para sua demissão. Com 63 anos, o fotógrafo trabalhava no Estadão há 23 anos.

Conforme ele contou, o flagrante foi feito após o editor informar que Moraes, torcedor do Corinthians, estava no estádio. “Acho que alguém xingou naquela hora e daí ele mostrou o dedo do meio. Foram três fotogramas, nada mais”, relatou.

Grande repercussão

Alex Silva afirmou acreditar que sua demissão está relacionada, sim, à repercussão política que teve a imagem. Contou que reclamou internamente do tratamento editorial dado à foto.

“Acho que o jornal escondeu a foto. Eu reclamei isso com eles. Deram pouco espaço na home e não deram na capa”, frisou, durante entrevista ao Portal Metrópoles.

“Ordem do RH”

De acordo com o fotógrafo, a empresa não apresentou motivos concretos ligados à sua performance profissional, apenas comunicou que mudanças administrativas motivaram o desligamento.

“Fico indignado, porque o jornal não apresentou uma justificativa concreta para a demissão, sobre o desempenho do meu trabalho. Simplesmente disseram que o RH pediu para me demitir”, informou. Procurado para falar a respeito, o gabinete do ministro Alexandre de Moraes não se manifestou.