
Folhetim semanal - O Fantasma do Capibaribe Capítulo 3 – O Reflexo Que Anda
09/08/2025 -
Por Zé da Flauta*
No capítulo anterior
O investigador Isaac Torres entrou no prédio abandonado do Diário de Pernambuco e encontrou um mural com fotos de mulheres marcadas como invisíveis.
Uma máquina de escrever funcionou sozinha e anunciou: “Hoje ele vai escolher mais uma”.
Capítulo de hoje
O Recife entrou em estado de pânico. Blogs, rádios e podcasts se aproveitavam do mistério, mas por trás do sensacionalismo havia uma angústia real. As mulheres evitavam andar sozinhas à noite. As pontes viraram passagens malditas. Moradores diziam que os espelhos das casas começaram a se comportar de forma estranha, algumas pessoas alegavam ver vultos por trás de si, mesmo estando sozinhas. Um padre chegou a exorcizar um salão de beleza inteiro depois que uma cliente desmaiou ao ver no espelho um rosto que não era o seu.
A jornalista Clara Mendonça, decidida a investigar por conta própria, foi ao prédio do Diário no fim de tarde. Carregava uma câmera, um crucifixo, e uma coragem que não sabia de onde vinha. Gravou vídeos enquanto subia os degraus, narrando tudo para sua audiência online. “Estou entrando agora no local mais temido do Recife. Se eu desaparecer, publiquem isso.” A última coisa que filmou foi o reflexo de um vulto atrás dela, não havia ninguém na imagem frontal, apenas o reflexo. E, segundos depois, tudo ficou preto.
No dia seguinte, Clara acordou viva, mas diferente. Estava dentro de um quarto trancado, sem janelas, com paredes forradas de espelhos. Sentia uma dor profunda na cabeça e a estranha sensação de que não estava mais sozinha dentro de si. Quando tentou se levantar, viu seu reflexo sorrir… antes dela. Depois, ele começou a se mover sozinho, encostando as mãos no vidro, batendo do outro lado, como se quisesse sair. Clara gritou até perder a voz. E enquanto isso, seu corpo do lado de fora, ou o que parecia ser seu corpo, andava pelas ruas do Recife, com olhos fundos e vazios.
Duas testemunhas juraram que viram Clara naquela noite. Ela andava lentamente, com um vestido vermelho e um sorriso forçado. Mas havia algo errado, os olhos não piscavam, e o rosto parecia derreter aos poucos sob a luz dos postes. Quando uma delas a seguiu, viu a mulher entrar novamente no prédio abandonado e desaparecer como fumaça entre as colunas. A polícia não registrou o ocorrido. Mas nos becos do Recife Antigo, os ambulantes agora cochicham: “O fantasma não rouba rostos. Ele coleciona espelhos.”
No próximo capítulo
Clara caminha pelas ruas com um rosto que derrete e olhos que não piscam.
O reflexo de Isaac sorri no espelho... enquanto ele bate do lado de fora.
*Zé da Flauta é músico, poeta e escritor