Por Tavares Neto

O ex-deputado comunista Paulo Cavalcanti, em seu livro de memórias “O Caso Eu Conto Como o Caso Foi”, relata que o primeiro político em Pernambuco a defender publicamente a candidatura de Marcos Freire ao Senado foi o deputado federal caruaruense Fernando Lyra (MDB).

O registro data de 1972. Dois anos depois, em 1974, Marcos Freire foi eleito senador, derrotando João Cleofas, então presidente do Senado.

Fernando Lyra costumava viajar pelo interior do estado ao lado de Marcos Freire. Nas cidades, onde a maioria dos prefeitos era da Arena, Fernando Lyra adotava uma estratégia política cuidadosa: elogiava o prefeito, os vereadores e os deputados estaduais e federais locais, para em seguida declarar:
“Votem neles. Agora, para o Senado, o candidato é Marcos Freire. Ele é jovem, cheio de ideias. Já João Cleofas de Oliveira não consegue nada para melhorar a vida das pessoas e nem comparece às festas dos padroeiros das cidades.”

Após a vitória de Marcos Freire, integrantes do Exército investigaram possíveis irregularidades nas contas bancárias de Fernando Lyra, Thales Ramalho, Jarbas Vasconcelos, Sérgio Murilo, Fernando Coelho e do próprio Marcos Freire. Nada foi encontrado contra eles.

Curiosamente, as investigações identificaram irregularidades nas contas de diversos deputados federais da Arena, mas nenhuma punição foi aplicada para evitar prejuízos políticos ao governo na Câmara dos Deputados.

A existência dessa fiscalização secreta só veio à tona anos depois, quando Carlos Wilson Campos assumiu o governo de Pernambuco, após a renúncia de Miguel Arraes para disputar mandato de deputado federal. Os registros estavam arquivados na Polícia de Pernambuco e foram divulgados apenas após a abertura política.

*Tavares Neto é jornalista e radialista, radicado em Caruaru - PE